19/08/2005 - 09h02

"Hotel Ruanda" retrata feito heróico de homem comum na África

SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha

A história de Paul Rusesabagina é daquelas que "merecem ser contadas", como a campanha de divulgação de certos filmes gosta de afirmar. Ele estava no lugar errado, na hora errada: Kigali, capital de Ruanda, em 1994, quando a morte do presidente Juvenal Habyarimana, em atentado ao avião no qual viajava, abriu a porteira para o massacre de 1 milhão de pessoas, a maioria de origem tutsi, por ordens do governo controlado pela maioria hutu.

Para 1.268 pessoas, contabilizadas na ponta do lápis, Rusesabagina estava no lugar certo, na hora acertadíssima: como gerente de um hotel, ele protegeu essa pequena multidão e evitou que ela fosse massacrada em um dos maiores genocídios do século 20, responsável pela morte de 13% da população do país. "Hotel Ruanda", que estréia hoje, reconstitui as circunstâncias em que um homem comum, distante da militância política, torna-se herói sem vestir capa de super-homem.

Não é exatamente um filme sobre o genocídio --que durou três meses-- ou o caldeirão de profundas diferenças históricas entre hutus e tutsis, mas sobre Rusesabagina (Don Cheadle, de "Onze Homens e um Segredo", no papel que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor ator), sua mulher (Sophie Okonedo, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) e a corajosa aventura do casal, na voragem do caos político-militar, para manter a frieza e a integridade moral. Pessoas físicas com alma de órgão humanitário da ONU, mas sem proteção diplomática.

Dirigido pelo irlandês Terry George (roteirista de "Em Nome do Pai"), com a consultoria do próprio Rusesabagina, "Hotel Ruanda" busca sensibilizar o público com suas opções dramáticas, que podem decepcionar, no entanto, quem espere do filme leitura política capaz de explicar um pouco mais não apenas de Ruanda mas dos inúmeros conflitos étnicos na África.

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