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24/09/2005 - 09h08

Pinacoteca capta as visões de Xul Solar

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TEREZA NOVAES
da Folha de S.Paulo

É expediente comum recorrer à chancela de Jorge Luis Borges para avalizar a obra de seu conterrâneo Xul Solar (1887-1963).

Em mais de uma oportunidade, Borges discorreu sobre a pintura de Xul, referindo-se a ele como o "nosso William Blake" e como o criador de "um mundo metafísico onde os deuses tomam as formas da imaginação dos que sonham".

O artifício de citar o mais celebrado autor argentino talvez seja justificável diante do fato de Xul permanecer praticamente desconhecido do grande público.

Autor de uma obra autêntica que espelhou suas aspirações e pesquisas em várias áreas do conhecimento, Xul não tem par entre os artistas da vanguarda latino-americana do começo do século passado. Mais do que um artista, foi um visionário e utopista.

Comparado a Klee e Kandinsky, Xul desenvolveu seu trabalho em pequenos formatos, quase sempre com aquarela ou têmpera e com exuberância de cores. Criou uma obra complexa e lírica, explorando sobretudo temas relacionados às suas experiências místicas.

É justamente esse viés que costura as 130 obras da exposição "Xul Solar - Visões e Revelações", que será inaugurada hoje na Pinacoteca do Estado, em São Paulo.

"A mostra sublinha basicamente a problemática espiritual, que assinala a permanente busca dele por estabelecer um vínculo profundo com a religiosidade como forma de elevação do ser humano", explica Patricia Artundo, curadora da mostra, que já passou pelo Malba, em Buenos Aires, e segue depois para Houston (EUA) e para a Cidade do México.

É sua primeira grande exposição no Brasil, contemplando toda a trajetória do pintor, que em vida vendeu poucas obras.

"Um dia Borges comprou uma tela, e, sem graça, Xul lhe deu outra", conta Jorge Schwartz, curador de "Xul Solar/Brasil - Imaginários em Diálogo", que propõe a correlação entre brasileiros e o argentino (leia texto abaixo).

Sol do Sul

Xul Solar pode ser um diminutivo para Oscar Agustín Alejandro Schulz Solari, mas também remete a luz do sol ou sol do Sul. O artista nasceu em uma família católica de imigrantes --a mãe era italiana, e o pai, alemão, descendente da Letônia.

De berço, aprendeu as três línguas, mas falava ainda inglês, português, russo e conhecia sânscrito e chinês. A facilidade com as línguas o ajudaram a projetar a "panlíngua" e o "neocriollo".

Não apenas a lingüística o interessava, ele era um grande conhecedor de música (Wagner e Bach eram os favoritos), de tecnologia (guardava em pastas recortes sobre avanços científicos) e, claro, de assuntos religiosos e místicos.

Aos 25 anos, o artista foi para a Europa, provavelmente depois de uma crise espiritual, e teve o primeiro contato com a pintura. A primeira exposição aconteceu em uma galeria de Milão.

Seus primeiros trabalhos carregam uma forte influência da segunda fase do expressionismo alemão. Na mostra, estão algumas das telas desse período, feitas em tinta a óleo, material que ele usou em raras ocasiões, mostrando cenas da natureza. Houve ainda uma fase marcada por edifícios.

Mas, sem dúvida, a dimensão mística se sobrepõe a todas as outras temáticas.
"Ele era um místico de verdade. Para ele a pintura era uma representação das visões que tinha. Xul foi um iniciado", diz Schwartz.

Meditação, cabala, budismo, i-ching e mitos latino-americanos são recorrentes. Cada um dos temas que se aperfeiçoava, ganhava dimensão pictórica. A astrologia ocupa um lugar de destaque.

"Ele tinha o costume de perguntar o dia e o horário de nascimento quando conhecia alguém para descobrir o signo e o ascendente", conta Patricia.
Não é à toa que a tela que abre a mostra é uma representação feita por ele de seu signo, sagitário. "É um auto-retrato, feito com seu próprio código", diz a curadora.

Xul Solar
Quando:
a partir de hoje, às 11h; de ter. a dom.: 10h às 17h30; até 30 de dezembro
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4; aos sábados, entrada franca

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