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27/09/2005 - 13h36

Marcel Powell mostra herança de Baden em disco solo

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MARY PERSIA
da Folha Online

Aos 23 anos, Marcel Powell lança seu primeiro disco solo no Brasil sem medo da "síndrome de Maria Rita" --aquela que leva o filho de um artista cultuado a ter de enfrentar a expectativa desenfreada dos fãs do pai ou da mãe. Assim como a filha de Elis Regina, o filho do violonista Baden Powell diz que sua linhagem não é problema.

Divulgação
Marcel Powell lança CD solo
Marcel Powell lança CD solo
"Sei que tenho muitas coisas do meu pai, apesar de manter a minha própria identidade. Mas isso é inevitável, somos as pessoas mais propícias a termos coisas dos nossos pais", argumenta Marcel, ou Louis Marcel Powell de Aquino, que prepara para 11 de outubro a chegada de "Aperto de Mão" (Rob Digital).

O álbum, na verdade, é o seu quarto registro. Antes, participou de "Baden Powell & Filhos" (1995), lançado no Brasil, e "Suíte Afro Consolação" (1998), que saiu por uma gravadora japonesa, ambos ao lado do pai e do irmão (Philippe, hoje com 27 anos e músico de Marcelo D2). Em 2002 teve sua estréia solo, "Samba Novo", disco feito em uma semana, lançada apenas no Japão.

Reprodução
CD sai em outubro
CD sai em outubro
Por isso, Marcel --nascido na França e crescido no Brasil-- considera "Aperto de Mão" o trabalho mais próximo de si. O disco deixa claro que Marcel não é Baden, tem uma pegada mais seca, direta, marcada por uma influência flamenca mais patente do que o toque tanto mais suave, ainda que extremamente vigoroso, do pai.

As comparações, inevitáveis, vão muito além disso, mas não o preocupam. A existência desse tipo de expectativa é uma das poucas certezas que tem. Essa e a de que o legado do pai, morto há cinco anos, é essencial para a sua carreira. "Ele me ensinou de uma forma muito sadia, mas com rigor, a ser escravo do instrumento."

Leia a seguir a entrevista que Marcel Powell concedeu à Folha Online:

Folha Online - Há uma grande expectativa em torno do lançamento do seu disco...

Marcel Powell - Tomara [risos]. Vai sair no dia 11 de outubro.

Folha Online - "Aperto de Mão" é seu quarto disco, mas o primeiro solo no Brasil. Você se preocupa em não repetir a situação do seu pai, que tinha quatro, cinco vezes mais discos lançados lá fora do que aqui?

Marcel - Independentemente de eu ser filho ou não do Baden, a boa música brasileira, não apenas a instrumental, é muito mais reconhecida lá fora. Como Leny Andrade. Rosa Passos, que mora em Brasília, tem discos maravilhosos. Já dividiu disco com [o lendário baixista de jazz] Ron Carter. Seu último trabalho tem o [violoncelista] Yo-Yo Ma, o [mestre cubano dos metais] Paquito D'Rivera. Rosa tem muito prestígio lá fora, uma carreira linda.

Folha Online - Mas o problema no Brasil é falta de demanda ou de oferta?

Marcel - Acho que as multinacionais ficam enchendo o ouvinte com uma música de péssima qualidade, que dá um retorno mais imediato.

Folha Online - O que há de bom e de ruim em ser filho de Baden Powell e seguir a mesma carreira do seu pai?

Marcel - De bom tem tudo. Todo o meu aprendizado foi com ele em casa. Como professor, ele era muito severo, até porque sabia que a cobrança seria inevitável. Ele sempre exigia o melhor de mim, e o melhor de mim teria de ser melhor ainda.

Folha Online - Foi então apenas uma transferência de foco, já que ele tinha um rigor próprio...

Marcel - É, ele era rigoroso consigo mesmo, e transferiu isso para mim.

Folha Online - E, por conta desse rigor, você chegou a duvidar se queria isso mesmo?

Marcel - Sempre tive certeza. Ele me ensinou de uma forma muito sadia, mas com rigor, a ser escravo do instrumento. A minha infância toda foi isso. Quando entendi que estudando poderia tocar tudo o que quisesse, passei a tomar gosto por isso.

Folha Online - Como era seu pai dentro de casa?

Marcel - Ele era uma pessoa muito engraçada, geralmente. Mas, ao mesmo tempo, era muito sério. Era engraçado com um humor particular. Muito simples, uma pessoa que gostava da noite. Não gostava muito de dar entrevistas, ao contrário de mim. Adoro bater papo. Sei lá, não tem muitas particularidades.

Folha Online - O primeiro violão do seu pai foi "roubado", não?

Marcel - Quando ele tinha sete, oito anos, "roubou" o violão que a tia dele ganhou numa rifa. Como meu pai era muito tímido, não quis pedir e o pegou. A mãe descobriu quando foi varrer debaixo da cama dele e encontrou o violão. Mas o pai, músico, sentiu que havia algo ali. Já eu "roubei" um violão que era do meu irmão. Mas ele sabia [risos]. Tinha 9 anos. Depois, pedi aulas para meu pai.

Folha Online - Você não respondeu o que há de ruim em ser filho do Baden Powell.

Marcel - De ruim não diria que tenha alguma coisa. Claro que ser filho dele abre portas, mas você tem de mantê-las abertas. O melhor exemplo é a filha da Elis.

Folha Online - Você não tem medo de uma "síndrome de Maria Rita", tendo de lidar com a expectativa que os fãs do seu pai criaram em torno de você?

Marcel - Não. Sei que tenho muitas coisas do meu pai, apesar de manter a minha própria identidade. Mas isso é inevitável, somos as pessoas mais propícias a termos coisas dos nossos pais, ao contrário, por exemplo, de outras cantoras que têm algo de Elis porque imitam Elis. Maria Rita não imita, ela é filha. Não é proposital. E ela tem talento.

Folha Online - Você diz que "Aperto de Mão" é o disco que tem mais ver com você. Em que sentido?

Marcel - Fazer um disco com seu pai não é ser totalmente você. E o disco do Japão ["Samba Novo"] fiz em uma semana. Esse disco gravei com muita calma. É o repertório que eu queria. Fiz com um produtor que eu adoro, meu primo [João de Aquino, primo-tio de Marcel], que é um grande músico, um grande violonista, uma pessoa que sabe tudo o que faço no violão, todas as minhas intenções. Fiquei muito à vontade.

Folha Online - O que há de composição sua nesse novo disco?

Marcel - Há duas músicas minhas, "Saudade de Baden" e "Itanhangá", o bairro [carioca] que moro desde pequeno. As duas estavam mais ou menos no ouvido, fui elaborando até a gravação. Uma delas tem um fragmento de uma música que meu pai não tinha acabado, que foi lembrada pelo João.

Folha Online - Como você pontua suas características em relação às do seu pai, em composição e interpretação?

Marcel - Em termos de composição, estou começando agora. Não posso me comparar ao meu pai nem me considerar um compositor. Até porque compositor é aquele que você reconhece: "Isso aí é Ari Barroso, isso é Tom Jobim".

Folha Online - E como violonista?

Marcel - Em relação ao instrumento, tudo o que sei foi ele quem me ensinou. Mas claro que tenho minhas características. Tenho muita influência de música flamenca, embora não a toque. Uso muito escalas rápidas, de ataques rápidos. Meu pai também utilizava, tinha isso a hora que quisesse, mas não usou tanto, procurou fazer de uma maneira diferente, mais melódica, bonita, puxada para o romantismo. Se bem que isso também é estado de espírito. Estou com 23, e ele com a minha idade também devia ser assim.

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