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03/10/2005 - 09h36

Dizzee Rascal toca no Rio e mostra grime, mistura de punk e rap

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ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo

Os entendidos vão chiar com a simplificação desse título, "rap + punk = grime", mas é isso aí. Esse estilo, em que MCs de rap fazem rimas secas sobre bases musicais de batidas quebradas, que mesclam gêneros como UK garage, electro, drum'n'bass, dub e dancehall, espalha hoje, pelas ruas de Londres, a mesma energia do punk rock, que tomou a cidade na segunda metade dos anos 70.

E quem afirma isso é gente gabaritada como o crítico de música inglês Simon Reynolds, autor de livros como "Energy Flash", bíblia sobre música eletrônica.

Criado por jovens da periferia de Londres, a maioria negros, o grime pode ser incluído no pacote de músicas dos "excluídos" que vêm tomando as pistas do mundo todo. O Brasil, por exemplo, exporta o funk carioca, Porto Rico, o reggaeton -mistura de hip hop e dancehall (ritmo dançante jamaicano). Seguindo essa lógica, o MC inglês Dizzee Rascal está para o grime assim como DJ Marlboro para o funk e o porto-riquenho Daddy Yankee para o reggaeton.

Pegando carona nessa onda, o festival Tim Festival traz Dizzee Rascal para a sua versão carioca. O rapper inglês se apresenta no dia 22, na mesma noite de outra conterrânea explosiva, a cantora M.I.A. "É basicamente um show de hip hop. No palco, estaremos apenas o DJ Semtex e eu", contou Rascal, 21, à Folha, por telefone.

Nascido em Bow, periferia de Londres, e batizado de Dylan Mills, Dizzee Rascal ganhou o mundo aos 19 anos, em 2003, quando foi premiado com o Mercury Prize de melhor álbum por seu disco de estréia, 'Boy in da Corner', gravado aos 17 anos.

"O prêmio foi um grande negócio, porque ele é o equivalente ao Grammy na Inglaterra", explica Rascal. "Nunca tinha feito nada antes, vinha do underground e era muito jovem."

Mas, muito antes de "Boy in da Corner" chegar às lojas, Rascal já era conhecido nas pistas londrinas pela faixa "I Luv U", que, segundo Simon Reynolds, é a "Anarchy in the UK", hino punk do Sex Pistols, do grime. Na música, o rapper solta seu vocal com forte sotaque das ruas sobre uma base hipnotizante.

O hit explodiu em 2002, graças à divulgação das rádios piratas, responsáveis, aliás, pela proliferação do grime. "[O grime] é uma música que apareceu sendo tocada nas rádios ilegais do East London [periferia]. É um som do gueto", diz.

"A cena é basicamente formada por DJs, MCs, produtores. Os produtores fazem as músicas para os DJs tocarem e os MCs cantarem sobre as faixas", conta Rascal.

Em sua opinião, do que já foi feito em Londres, o grime é o estilo com mais base nas ruas: "Talvez como o punk, por isso é chamado de 'o novo punk'".

Hip hop inglês

Punk sim, mas, principalmente, rap. "É definitivamente o hip hop inglês, com bastante influência eletrônica, mas funciona da mesma maneira que nos Estados Unidos, envolvido com a cultura de rua, clubes etc.", afirma Rascal.

"A diferença é que o hip hop americano é mais estabelecido, porque nasceu lá. O grime talvez possa competir algum dia. Por enquanto, o hip hop mais importante da Europa continua sendo o francês", fala o rapper.

Não é à toa, portanto, que o jornal norte-americano "The New York Times" soltou uma reportagem em maio deste ano, na qual dizia que o grime, ao lado do ritmo africano kwaito, eram "as duas mais excitantes misturas [de hip hop]" do momento. Mais coisas sobre o kwaito, que não tem discos lançados nem mesmo nos Estados Unidos, é possível conhecer xeretando na internet.

Dizzee Rascal é uma referência perfeita para entender um pouco o mundo dos outros personagens da cena grime, que ainda circulam mais em MP3, via internet, já que são poucos os artistas com discos lançados.

Com um perfil que caracteriza a maioria das periferias, Rascal é filho de mãe solteira e ganhou esse apelido (malandro, em inglês) de seus professores, porque era expulso de todas as aulas, menos das de música. "Sempre amei música. Ouvia diferentes tipos: rock, hip hop, drum'n'bass, grunge."

Ele estreou em rádios piratas aos 14 anos. "Passei a fazer minhas produções e mostrar em raves, foi quando fiz 'I Luv U'."

Ainda que se destaque pelo vocal inconfundível, Dizzee Rascal queria mesmo era discotecar. "Estava mais interessado em fazer músicas como DJ. Tinha um toca-discos no meu quarto e fazia algumas faixas de drum'n'bass", conta. "Comecei a cantar para excitar as pessoas."

Mesmo depois de ter ganho o Mercury Prize, Dizzee Rascal garante que não se sentiu pressionado para gravar o álbum seguinte, "Showtime" --ambos lançados no Brasil pela Sum Records. "A única coisa que tinha que fazer era música boa novamente, e todos gostaram do segundo CD.

O rapaz agora prepara o terceiro, que deve sair no primeiro semestre de 2006, além de cuidar de seu selo, o Dirtee Stank Records.

Sobre o Brasil, Rascal diz que é "um dos lugares preferidos que nunca fui". "Tenho um DVD do Sepultura e me lembro de garotas na platéia que eram o máximo!"

Para descobrir mais sobre o grime, a dica é fuçar em blogs como o do jornalista Simon Reynolds (http://blissout.blogspot.com), que sempre trazem novidades e dicas do que ouvir.

Em São Paulo, a noite dedicada ao estilo, a Tranquera, acontece no próximo dia 8, no Sala Especial (r. Álvaro de Carvalho, 190, centro, tel. 0/xx/11 3129-8248).

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