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06/10/2005 - 09h36

Coleção abriga filmes raros em DVD

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

O segmento da indústria do entretenimento que mais aumenta no mundo é o do DVD. Na porcentagem de crescimento e em números absolutos de venda e aluguel, o formato já desbancou o combalido VHS, os ingressos vendidos em cinema, os livros consumidos e qualquer outro suporte artístico. São US$ 20 bilhões (R$ 44,9 bilhões) em faturamento e 60% das locações só nos EUA. No Brasil, o mercado deve chegar a R$ 1 bilhão em 2005, com crescimento de 79% na venda direta ao consumidor, segundo dados da revista especializada "Filme B".

Tamanha "exuberância racional" dá margem a nichos e subnichos. Um deles é o "DVD gourmet", ou "DVD de arte", que se especializa em títulos que sejam raros, estejam há muito tempo fora do mercado, tenham cópias destruídas ou maltratadas ou simplesmente não cheguem às salas de cinema. Pois o Brasil ganha seu primeiro selo desse tipo digno do nome. Vem da produtora VideoFilmes, que lança sua coleção até o final de outubro, segundo apurou a Folha.

O nome é redundante: Coleção VideoFilmes. Criada em 1985 pelos irmãos João Moreira e Walter Salles e o amigo Maurício Andrade Ramos, a produtora homônima é responsável pela produção de longas como "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Katia Lund, de 2002, indicado para quatro Oscars, e "Central do Brasil", do próprio Walter, de 98, indicado para duas estatuetas, entre dezenas de outros filmes.

Pois a empresa carioca chega com uma lista inicial de títulos e nomes de peso, que vai dos italianos Pier Paolo Pasolini (1922-1975), com seu seminal "Teorema", de 1968, e Federico Fellini (1920-1993), com "Os Palhaços", de 1971, a pelo menos quatro filmes do documentarista francês Jean Rouch, o pai do "cinema verdade", morto no ano passado, cuja obra é virtualmente ausente das locadoras do país, passando pelo brasileiro "Onde a Terra Acaba", de 2002, sobre Mário Peixoto (1908-1992).

Documentários, aliás, devem dar o tom da coleção, inspirada francamente na norte-americana Criterion, objeto de desejo de 11 em cada dez cinéfilos. Dois dos primeiros lançamentos confirmam a tendência. São eles a trilogia "Batalha do Chile" (inédita no Brasil até agora, mas com exibição programada para a Mostra de SP), feita entre 75 e 79 por Patricio Guzmán, e "A Batalha de Argel" (65), de Gillo Pontecorvo.

O lançamento de "Chile" em DVD será acompanhado da exibição em tela grande do filme, com uma mesa de debates à qual serão convidados brasileiros que tenham a ver com aquele momento do país vizinho, em que um presidente socialista eleito democraticamente era derrubado por um golpe militar liderado por Augusto Pinochet. A produtora fará eventos do tipo sempre que o título for inédito ou esteja há muito tempo longe dos cinemas.

Já o drama político dirigido por Pontecorvo, que mostra o movimento de libertação da Argélia centrado na figura do revolucionário Saadi Yassaf, está atualmente em cartaz no Cineclube Vitrine de São Paulo, mas chega ao DVD carregado de atrações extras que o fazem valer à pena como item de colecionador.

O critério da escolha dos títulos, tanto os 17 já confirmados quanto os cinco em negociação obtidos pela Folha, é puramente pessoal, confirma João Moreira Salles. "É uma lista de afinidades, que reflete minhas preferências, as preferências do Waltinho e sugestões de pessoas próximas nossas." Este conselho informal é composto por, entre outros, Nelson Pereira dos Santos, Eduardo Escorel, Karim Aïnouz e Sérgio Machado.

Já o aspecto mercadológico não parece ser a principal preocupação da coleção, embora um plano ambicioso de vendas esteja em marcha. Segundo cálculos de Maurício Andrade Ramos, há um mercado no Brasil para que este tipo de DVD venda entre 1.500 e 3.000 cópias a cada lançamento, embora um título parecido com os da coleção, mas lançado antes, que é o documentário sobre o pianista Nelson Freire, tenha chegado aos 16 mil até agora.

A VideoFilmes pretende colocá-los tanto nas locadoras quanto para o consumidor via livrarias, como Cultura e Saraiva, e sites, como Submarino e Americanas. Sobre sites, aliás, há uma história curiosa. João Moreira Salles dá aula de documentário no Departamento de Jornalismo da PUC-RJ, e uma aluna que fazia uma monografia sobre sua produtora veio lhe falar, envergonhada, sobre o endereço da VideoFilmes.

Ela procurava os filmes da produtora, "mas não aqueles que aparecem no site", disse. A produtora não tem site, respondeu ele. Tem sim, insistiu ela, sem o final ".br". Pois o cineasta entrou em www.videofilmes.com. "É um site pornô português do arco-da-velho", ri ele. "Você quer anões com cavalos? Tem. Mulheres com touros? Tem também."

Não, nenhum dos títulos portugueses será lançado pela coleção, que chega às lojas a um preço unitário de R$ 45, em média.

Especial
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