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30/10/2005 - 09h26

"Prova de Amor" ameaça a global "Bang Bang"

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LAURA MATTOS
da Folha de S. Paulo

Quer assistir a uma novela da Globo às 19h? Então ligue a TV na Record. "Prova de Amor", que estreou nesta semana na emissora da Igreja Universal, imita tintim por tintim as tramas da concorrente, do elenco de ex-globais à iluminação. De tão idêntica, chega a confundir telespectadores.

A estratégia tem boas chances de dar certo e realizar o "sonho" da Record de incomodar a Globo, que nesse horário enfrenta uma crise com o faroeste "Bang Bang".

Enquanto "Prova de Amor" é folhetim dos mais tradicionais, com vilãs muito más, mocinhas muito boas e romances melados, "Bang Bang" testa nova linguagem (teve até desenho animado no primeiro capítulo), com enredo confuso para parte do público. Isso sem falar que o autor, Mario Prata, abandonou a história (oficialmente por problemas de saúde) poucos dias após a estréia e que a protagonista é a inexperiente Fernanda Lima --cuja personagem, Diana, consegue ser mais inexpressiva do que a Sol (Deborah Secco), de "América".

Márcia Prates, que assumiu o lugar de Prata, diz que "a novela ainda está se estabelecendo, os números [de audiência] estão no trilho", em resposta à Folha, por e-mail, sobre a recente queda no Ibope de "Bang Bang" --que registrou menos de 30 pontos de média na última semana, abaixo das expectativas da Globo.

A respeito da dificuldade do público em entender a trama, Prates afirma novamente que "a novela ainda está se estabelecendo". Também não concorda que Fernanda Lima seja fraca ou que sua escalação para o papel central tenha sido precipitada. "Adoramos a Fernanda. Além de linda, é carismática e ilumina a tela. É a nossa mocinha perfeita", opina.

A Record, por outro lado, considera que não poderia haver concorrente melhor do que a trama de Prata. "É oportuno concorrer com "Bang Bang".

Fomos felizes de pegar esse panorama da concorrência, que por enquanto não emplacou", diz Alexandre Avancini, global por 22 anos e agora diretor de "Prova de Amor".

O Ibope desta semana mostra que a Record está no caminho certo (ao menos em termos de audiência) e que a Globo tem muito com o que se preocupar. Na segunda-feira, "Prova de Amor" teve média de 12 pontos com picos de 15, o melhor resultado de estréia da nova fase de teledramaturgia da emissora ("A Escrava Isaura" e "Essas Mulheres"). A novela das sete da Globo marcou 29 (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande São Paulo).

Contra "Bang Bang", que dispara para todos os lados, "Prova de Amor" mira a caretice que tanto agrada ao telespectador. A novela faz um mix de estilos dos mais consagrados autores da Globo, como mostra o quadro ao lado.

Não é à toa. O autor, Tiago Santiago, lá trabalhou por 21 anos e chegou a ser membro da Casa de Criação Janete Clair, coordenada por Dias Gomes e responsável pela teledramaturgia da Globo nos anos 80. "Eu me criei na Globo, cresci vendo novelas da Globo. Minha referência é completamente global. Não vou negar isso e vou levar o know-how para a Record."

De Manoel Carlos, "Prova de Amor" tem a burguesia carioca, o visual turístico do Rio. A abertura, com praias e música brasileira, lembra a de "Laços de Família".

"Temos propositalmente um pezinho em Manoel Carlos. O Rio é lindo, e vamos explorar ao máximo suas paisagens", diz Avancini, que trabalhou com o autor global em "Presença de Anita", "História de Amor" e "Por Amor".

A única diferença, que Santiago ressalta, é que Manoel Carlos, 73, morador do Leblon, mostra os ricos da zona sul; já Tiago, 42, da Barra, optou pelos endinheirados do lado oeste. "Vamos mostrar outra praia porque eu surfo e o Manoel Carlos, não", diverte-se.

"Prova de Amor" também tem a sua Nazaré, vilã criada por Aguinaldo Silva e vivida por Renata Sorrah em "Senhora do Destino". Na Record, a ex-global Vanessa Gerbeli é Elza, que rouba duas crianças. Santiago defende que elas não são iguais, que sua inspiração vem mais de "A Pequena Órfã" (1968/69), da Excelsior. Mas confessa: "Aprendi muito com o Aguinaldo quando escrevi com ele a minissérie "Cidade Nua", que está na gaveta da Globo".

De Glória Perez, "Prova de Amor" terá o merchandising social. Até campanha sobre desaparecimento de crianças, que a autora fez em "Explode Coração", se repetirá. "São 20 mil pessoas desaparecidas por ano, e não há um cadastro nacional. Tem de veículos furtados, mas não de crianças desaparecidas. Não podemos deixar de fazer essa campanha só porque a Glória Perez já fez há dez anos", pondera Santiago.

Apesar de pertencer ao bispo evangélico Edir Macedo, a Record não economizou em homens musculosos sem camisa, garotas de biquíni e beijos. Qualquer semelhança com Carlos Lombardi não é mera coincidência. Santiago trabalhou como colaborador dele em "Kubanacan", "Uga Uga" e "Quinto dos Infernos". "Tenho o ritmo dele, com mais realismo", explica o autor da Record, que também experimentou esse universo jovem em "Malhação".

O tom lombardiano, de praia e peitos bronzeados, é reforçado pela direção. Avancini dirigiu "Kubanacan", "Uga Uga" e "Quatro por Quatro", todas do autor.

Além de um autor e um diretor criados na Globo, a Record "roubou" da concorrente uma equipe técnica completa: câmeras, iluminadores, produtores, diretor de fotografia. Assim, tudo fica com cara, quase cheiro, da Globo. E o elenco é todo familiar, com Lavínia Vlasak, Marcelo Serrado, Leonardo Vieira, Heitor Martinez, André Segatti, Cláudio Heirinch e muitos outros. Desta vez, até os coadjuvantes são ex-globais.

E não falta dinheiro no canal dos evangélicos. Cada capítulo custa em média R$ 115 mil (os da Globo ficam em torno de R$ 150 mil). No próximo ano, virão as novelas das oito --de Lauro César Muniz-- e das seis. E o ataque dos clones estará completo.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre "Prova de Amor"
  • Leia o que já foi publicado sobre "Bang Bang"
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