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31/10/2005 - 09h36

Madeleine Peyroux vem ao Brasil

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RONALDO EVANGELISTA
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Divas do jazz existem aos montes. Mais raras são as cantoras que vivem e transmitem sua vida para sua voz, com aquela capacidade rara de nos apaixonar pela música, pela cantora, pelo próprio ato de se apaixonar. Como Madeleine Peyroux, 31, que pela primeira vez vem ao Brasil mostrar sua interpretação de blues antigo e música francesa, folk melancólico e jazz, em novembro.

Provavelmente a melhor cantora de jazz dos últimos dez anos, tem em seu currículo apenas dois álbuns --"Dreamland", 1996, e o perfeito "Careless Love", 2004--, porque sempre preferiu tocar violão e cantar pelas ruas de Paris e compor em bancos do Central Park a se envolver com o lado mercadológico da música.

Mas nem ela pode fugir de seu talento e parece ser inevitável seu reconhecimento. Muito se comentou, dois meses atrás, quando ela desapareceu sem dar notícias e sua gravadora contratou um detetive para encontrá-la. Alguns dias depois, o investigador voltou com a notícia: ela estava bem, só queria um tempo longe dos holofotes.

Por telefone, de um quarto de hotel na França, onde se apresentava na semana passada, Madeleine conversou com a Folha sobre jazz, a indústria musical, melancolia e política. Leia abaixo.

Folha - Você se considera uma cantora de jazz?

Madeleine Peyroux - Essa é uma boa pergunta, que eu nunca sei exatamente como responder. O que acontece é que as pessoas têm expectativas diferentes em relação ao jazz. As músicas que canto fazem parte da tradição do jazz mas também da tradição do folk e do blues. Nós tentamos apresentar as músicas em um formato inspirado no jazz, porque nós gostamos de experimentar e ver se o momento nos leva através da interpretação de cada canção.

Folha - Você não gosta de fazer entrevistas. Essa é uma exceção?

Peyroux - [Risos] Eu gostaria de dizer que essa é a única exceção que fazemos. Tenho feito muitas entrevistas ultimamente. Eu entendo a importância de escrever sobre música, mas o lado promocional não deveria nunca vir primeiro. O importante é que a música fale por si só.

Folha - Você acha que a indústria musical corrompe a música? Ela muda quando é colocada à venda?

Peyroux - Acho que sim. Mas muda porque estamos tentando chegar a mais pessoas. Tudo o que você pode esperar de um artista é que seja honesto consigo mesmo e saiba a importância da música. E, se essa música vai ser embalada e vendida por outra pessoa de maneira tão honesta, depende da situação, porque a indústria musical é feita tanto de pessoas maravilhosas como de gente que segue um esquema e não pensa em arte.

Folha - Você gravou o seu primeiro disco em uma era pré-Norah Jones. Te incomoda hoje em dia ser comparada com ela e fazer parte dessa "cena"?

Peyroux - Não me incomoda, porque aceito que isso é uma parte grande da indústria musical. E não acho que isso seja uma onda passageira, que as pessoas hoje em dia gostem de cantoras e canções porque está na moda. Acho que tem algo importante por trás disso, eu me sinto como parte de algo que já acontece há muito tempo, a tradição de cantar. Eu me sinto fazendo parte de algo muito maior do que eu.

Folha - Sua voz costuma ser comparada com a de Billie Holiday. Ela foi uma influência muito forte?

Peyroux - Ah, sim. Quando eu aprendi a cantar, eu ouvia Billie Holiday. Ela faz cantar parecer algo tangível. Como quando eu quero cantar algo do Brasil, eu ouço Elis Regina, porque eu quero entender a tradição de onde ela vem. Ou João Gilberto. Mas minha intenção é poder me aproximar de quem eu sou e ser a artista mais honesta que eu posso ser.

Folha - A sua música tem uma boa dose de melancolia. Isso é um reflexo da sua própria personalidade?

Peyroux - Bem... Sim, acho que a música me permite -e a todo mundo- falar sobre essas coisas. Acho que é por isso que eu sempre gostei de Billie Holiday, ela fala sobre isso. Existe muita tragédia no mundo, e nós geralmente não olhamos para ela. Os artistas podem oferecer uma maneira de você olhar para essas coisas, sentir essas sensações e, ainda assim, viver a sua vida normalmente.

Folha - E isso pode valer para qualquer coisa, amor ou política?

Peyroux - Sim, acho que a política e o amor estão relacionados. Quando alguém sobe num palco e canta sobre sua vida pessoal, isso pode ser algo muito político. Acho que o mais interessante é quando você fala de um sentimento pessoal e percebe que todas as coisas estão conectadas.

Madeleine Peyroux
Quando: dia 23/11, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, SP, tel. 0/xx/11/3846-2300)
Quanto: de R$ 100 a R$ 350

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