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30/11/2005 - 19h40

Crítica: Canal gay vende gato por lebre

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

2005 marca o ingresso da TV paga brasileira à onda de canais voltados ao segmento gay, reproduzindo com atraso um fenômeno já visto nos EUA e Europa. Mas atender a esse público, sem causar constrangimentos ou mal-entendidos, ainda é um desafio para as operadoras.

Um exemplo: no mês passado, a Net fez uma promoção em que oferecia a "degustação" (sem pagar taxa extra) de dois canais "à la carte" por um período de dois meses, caso o cliente autorizasse o débito em conta corrente --uma forma eficiente de a operadora combater inadimplência.

Por telefone, a atendente de telemarketing já deduz que a escolha do cliente só pode ser os dois canais voltados para heterossexuais: "Sex Hot" e "Playboy". É preciso repetir que se deseja assinar o canal gay "For Man", o que causa surpresa à atendente. O "For Man" também é classificado como "à la carte", mas ela pede um tempo para checar se a promoção também inclui esse canal.

Instalado o canal, a reportagem constatou que houve cobrança indevida de R$ 35 por mês pelo uso do "For Man", contrariando os termos da promoção. Procurada, a assessoria da Net informou que se tratou apenas de "um caso isolado", já regularizado.

O "For Man" não é apenas um canal de filmes pornográficos entre homens --muitos são produções nacionais, filmados em cenários toscos (como kitinetes), com "atores" que não escondem suas imperfeições estéticas (como manchas na pele). O canal também exibe, nas chamadas "sessões Mix e Sex Hot", filmes com sexo entre três pessoas (dois homens e uma mulher), em horário nobre.

Em algumas produções desse gênero, é visível (ou risível?) o desconforto dos dois atores em fazer sexo com a atriz, e vice-versa. Bissexualidade ou homossexualidade enrustida? Eis a velha questão do "sexo dos anjos".

Não há anunciantes no canal. Apenas chamadas para a programação ("mais de 200 filmes por ano") ou depoimentos de atores pornôs estrangeiros. Também há chamadas dos canais "Sex Hot" e "Premiere Combate", de lutas.

Explora-se a vergonha de alguns telespectadores em assinar um canal gay. O cliente tem direito à "discrição" em sua fatura, que não identifica o "For Man" na lista de cobrança. Aqui se reproduz o tabu que também ronda o mercado editoral voltado para o público gay.

Dentro da estratégia da Globosat de marcar presença no promissor mercado do "pink money" ("dinheiro cor-de-rosa"), o "For Man" surge também como um meio de distribuição de filmes pornográficos de produtoras nacionais como "Pau Brasil" e "Sexy Boys".

As condições técnicas (como som, cenário, fotografia e direção) ainda deixam a desejar, na comparação com os filmes norte-americanos e europeus, que possuem mais tradição, acesso à verba e abrangência de mercado --alguns acrescentariam um "elenco mais vitaminado".

O "For Man" também organiza sua programação de acordo com o "calendário". No mês da consciência negra, exibiu filmes com sexo interracial. Na semana da juventude, produções com "lolitos".

Após um mês de acompanhamento do canal, o telespectador, que não é aficionado em pornografia, pode perceber uma repetição dos filmes e sentir uma banalização das cenas. Não é puritanismo. Só a constatação de que até para explorar o sexo na TV, é preciso um pouco mais de profissionalismo e conhecimento do público que consome essa programação. Ou será que a pornografia é o único caminho comercial viável para um canal de TV para gays?

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