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14/12/2005 - 18h12

Crítica: Telebarraco "sataniza" Bruna Surfistinha

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A mídia teve dificuldades de embalar o produto "Bruna Surfistinha". O blog da ex-garota de programa era um sucesso na internet graças ao boca-a-boca de clientes e aficionados por sexo. Algumas notas em revistas masculinas deram uma mãozinha para a publicidade da moça. Mas foi o lançamento do livro que chancelou a história para o espaço público, digamos, mais sério.

Daniel Kfouri/FI
Raquel diz ter estudado em colégios da elite paulistana
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Pretexto ou não para explorar um caso com ingredientes apelativos (sexo, sexo, sexo), até a imprensa internacional abriu espaço para "O Doce Veneno do Escorpião", logo catapultado para a lista dos livros mais vendidos no país --outro dado que justificou a visibilidade do fenômeno Bruna Surfistinha ("Não estamos falando de sexo, estamos falando do mercado editorial").

Agora, a história da jovem de 17 anos, filha da classe média, aluna de escolas tradicionais da elite paulistana (São Luís e Bandeirantes), dona de um blog em que relatava e avaliava suas aventuras com clientes, mas preservando o anonimato (afinal, ninguém gosta de ser processado), entra em uma nova fase: alguém precisa sangrar em espaço público para restabelecer a moral e os bons costumes, diriam os conservadores.

Os programas popularescos, chamados de telebarracos como o Superpop (Rede TV!), já tratam de levar Bruna Surfistinha para o "banco dos réus". É preciso justificar a exibição contínua do caso e alimentar a audiência no Ibope. A personagem já foi apresentada, os relatos já foram ao ar, as imagens de Bruna em roupas mínimas esgotaram o formato. Na visão dos produtores de TV, chegou a hora de jogar a "galinha dos ovos de ouro da audiência" na fogueira e acabar com a "pouca vergonha", um momento de expiação coletiva, a revanche da dona-de-casa telespectadora.

Ontem, o programa de Luciana Gimenez --uma espécie de substituto espiritual de João Kléber (tido como o "rei da baixaria")-- entrevistou a comissária de bordo Samantha Moraes, 29, cujo marido a trocou por Bruna Surfistinha, batendo recorde de audiência. A "mulher traída" obteve a simpatia de Luciana e de Marisa Carnicelli, apresentadora do programa "A Casa é Sua". As duas adotaram o discurso de defesa da família, de repulsa a "uma mulher que admite ter feito sexo com oito homens ao mesmo tempo", ou seja, "satanizaram" Bruna Surfistinha. No programa, ela foi "culpada" pelo fato de o marido de Samantha ter passado a beber devido à convivência com a ex-garota de programa.

É difícil apostar no futuro de Bruna Surfistinha. Ela não deve comandar um programa infantil nem um telejornal no SBT. Também não deve escrever uma coluna na revista "Nova". Talvez lance um novo livro contando as aventuras de ex-prostituta, mas aí não fará tanto sucesso. Sua beleza é insuficiente para engatar uma carreira de modelo-atriz. Ou a mídia volte a se interessar por sua história em caso de reviravolta (fim do namoro e volta ao batente).

Atualmente, a blogueira mais famosa do país curte dias de folga após a maratona de entrevistas de lançamento do livro. Em tempos de celebridades tão fugazes e vazias, sua história poderá morrer definitivamente com a chegada do verão e a nova safra de desesperados pela fama do "Big Brother Brasil". Esse é o retrato da cultura brasileira na mídia do século 21.

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