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05/01/2006 - 11h22

Caetano entra na briga com o MinC para defender Gullar

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da Folha Online

Segundo carta publicada nesta quinta-feira na Folha, na coluna de Mônica Bergamo (link exclusivo para assinantes), o músico Caetano Veloso também se envolveu na polêmica briga entre o Ministério da Cultura, comandado por Gilberto Gil, e o poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar. Mas ele defende o poeta, e não seu antigo companheiro da Tropicália.

Em sabatina realizada no dia 21 de dezembro pela Folha, o Ferreira Gullar disse que ouvia "reclamações de diferentes áreas de que [Gilberto Gil] não está cumprindo bem seu papel." E ainda disse: "Houve centralização que não sei se continua."

No dia 24 do mesmo mês, a Folha publicou uma "resposta" do secretário de Políticas Públicas do Ministério da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que atacou Gullar. Sá Leitão escreveu: "(...) Não deixa de ser curioso um comunista criticar algo ou alguém por uma suposta "centralização". A "centralização" não era a marca registrada dos finados regimes stalinistas dos quais Gullar foi e segue sendo um defensor?".

Nesta semana, também foi feito por 30 artistas um abaixo-assinado em defesa a Gullar. Entre os que assinaram estão o arquiteto Oscar Niemeyer, o produtor Luiz Carlos Barreto e o cineasta Zelito Viana. "Na verdade, estamos pedindo a cabeça dele. Quem é ele? Trabalho em cultura há 40 anos. Já passamos do tempo de acusar os outros de stalinistas", disse Viana à Folha.

Na carta aberta que Caetano fez em resposta a Sá Leitão, o cantor escreve que "estamos a um passo do totalitarismo". Confira, abaixo, o documento:

"Sérgio Sá Leitão escreveu: "Por fim, deixo uma pergunta: por que a crítica de Gullar é um gesto democrático, e a crítica a Gullar, um ato de autoritarismo?". Eu respondo: porque a crítica a Gullar partiu do poder público. O Ministério da Cultura é governo, ministérios são braços do executivo, suas aprovações ou desaprovações são oficiais. Um poeta não pode expurgar um governo. Governos totalitários são viciados em expurgar poetas. Se um ministério demonstra não aceitar críticas --pior: exige adesão total a suas decisões--, estamos sim a um passo do totalitarismo; se um poeta expõe de público discordância --ou simples desconfiança-- dos rumos de um ministério, temos democracia.

E que história é essa de "ex-privilegiados do cinema'? Estamos de volta à retórica demagógica dos tempos da "Ancinav'? Num país em que o que mais se vê é filme de diretor estreante? E chamar os produtores e diretores consagrados (pelas bilheterias, pelo pioneirismo, pelo prestígio internacional) de "ex-privilegiados'! Esse "ex" é uma sentença de condenação aos que produziram cinema por anos ou décadas? Gullar pode ter sido comunista (não me consta que tenha sido stalinista), mas não há nada de totalitário em apoiar aqueles que, tendo contribuído decisivamente para a história do cinema e do teatro brasileiros, suspeitavam que, por trás das idéias igualitárias, queriam chamá-los de oportunistas.

Essa gente do governo anda para trás. No Brasil a regra era: se você tem um histórico rico em contribuições, esse histórico pesará CONTRA você. Os loucos do Cinema Novo, os loucos da bossa nova, os tropicalistas, o Clube da Esquina, os atores e diretores competentes, os produtores dispostos --um mundo de gente provou que essa regra pode ser desafiada. Agora vêm esses ex- jornalistas, ex-ecologistas e ex-tropicalistas querer destruir o que foi feito nesse sentido. Passei décadas vendo filmes suecos, todos dirigidos por Bergman (e lá ele ainda chiava porque tinha que pagar impostos altos à social-democracia): não creio que devêssemos penalizar Bergman por roubar a oportunidade a milhares de talentos suecos não revelados. Descentralização?

Nos Estados Unidos (a mais bem-sucedida indústria cinematográfica do mundo) é tudo num bairro de Los Angeles. Não é "eixo Rio-São Paulo", não: é Hollywood. Gilberto Gil é meu irmão, meu amor, meu companheiro de viagem -não pode deixar de observar esses aspectos da questão. Deve haver vários outros aspectos que podem ser discutidos, mas, como Gullar, não estou inteirado (e, como ele, não sou obrigado a estar). De todo modo, não creio que algo desqualificasse os argumentos que expus acima e que são de caráter geral.

Caetano Veloso."

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