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22/01/2006 - 09h32

Quarentão sarado assusta Globo

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A pressão alta gerada na Globo desde outubro por "Prova de Amor" evoluiu para um princípio de infarto na última semana. O Ibope em tempo real registrou vitória histórica para a novela da Record na quarta: cinco minutos à frente do "Jornal Nacional".

Alexandre Campbell/FI
Tiago encontra tempo para surfar em praia do Rio
Tiago encontra tempo para surfar em praia do Rio
Nem o relatório consolidado do dia seguinte, que mudava o resultado do jogo para empate, acabou com a festa de um dos principais responsáveis pelo estresse global.

Divulgação
Tiago Santiago desafia a Globo com "Prova de Amor"
Tiago Santiago desafia a Globo com "Prova de Amor"
Autor de "Prova de Amor", Tiago Santiago, 42, já se fincou no trono de rei da cocada preta da teledramaturgia off-Globo. O mais irônico é que ameaça a concorrente justamente com armas adquiridas por lá, onde atuou ao longo de 15 anos como colaborador de autores-grifes da casa.

Tentou emplacar tramas próprias, uma delas parecida com "Prova de Amor", mas não conseguiu romper a barreira do "dream team" de novelistas. Em 2004, recebeu do veterano diretor Herval Rossano o convite para escrever o remake "A Escrava Isaura".

Trocou o segundo escalão da Globo pelo primeiro da Record, por um salário cinco vezes maior, e reinaugurou com boa audiência a teledramaturgia da emissora.

"Prova de Amor", "clone" dos folhetins globais, fez estrago bem maior e está perto de deixar "Bang Bang", da Globo, para trás. Santiago acompanha a aproximação em seu computador, que tem acesso ao tempo real do Ibope. Mais do que alavancar sua carreira, os números que vê na tela significam cifrões: quanto mais ibope, mais sobe sua remuneração.

Feliz, ele escreve os capítulos na sacada do flat, de frente para o mar, na Barra (Rio). E todo dia, o quarentão "sarado" --1,77 m, 67 kg-- arruma tempo entre as dez horas de trabalho para correr na praia, fazer musculação ou jogar tênis no condomínio. Surfista, encostou a prancha, por ora. O mar está gelado, e Santiago está longe de querer, bem agora, um banho de água fria. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.

Folha - Nos 15 anos de Globo, tentou emplacar uma novela sua?

Tiago Santiago - Entreguei três sinopses. Duas eram histórias minhas, contemporâneas, com tramas urbanas parecidas com as de "Prova de Amor". Propus "Água do Paraíso", em 1992, e "Flores e Espinhos", em 2004, que tinha a história dos gêmeos que usei agora na Record. Em 97, sugeri uma trama de época, baseada na vida de Ana Jansen, imperatriz do Maranhão [século 19], que era um projeto do Herval Rossano.

Quando eu não estava envolvido diretamente em uma produção, usava o meu tempo para desenvolver sinopses, na esperança de que acontecesse a mágica de ela ser aprovada. Mas na Globo é muito difícil se tornar titular.

Folha - Quem avaliou suas propostas e que resposta deu a você?

Santiago - Entreguei as sinopses para o Mário Lúcio Vaz [diretor-geral artístico da Globo] e o Ari Nogueira [diretor de recursos artísticos]. Eles me respondiam que eram boas, mas que não ia dar para entrar. Eu estava concorrendo sempre com 20 escritores que têm muito mais experiência.

Para o horário das seis, competia com remake de Benedito Ruy Barbosa, Ivani Ribeiro, novela de Walter Negrão. É sempre assim. Às sete, tinha Maria Adelaide Amaral, Miguel Falabella, Antônio Calmon. Era difícil uma novela minha entrar em produção.

Folha - Como João Emanoel Carneiro conseguiu entrar no primeiro time, com "Da Cor do Pecado"?

Santiago - Tinha a supervisão do Silvio de Abreu, entrou na vez dele. Também vinha de três temporadas bem-sucedidas em "Malhação". Agora vai concorrer comigo. A novela dele estréia em abril, no lugar de "Bang Bang", e pega "Prova de Amor" na fase final.

Folha - É mais fácil virar um autor titular com apadrinhamento?

Santiago - É. Eu tinha do Herval, e mesmo assim não conseguia. Ele tentou me chamar na Globo para fazer uma novela, mas não conseguimos emplacar. Quando foi para a Record me convidou para escrever "A Escrava Isaura".

Folha - Na Globo, o salário de autor varia de quanto a quanto?

Santiago - Acho que vai de R$ 2.000, para roteiristas novos, recém-contratados, a R$ 200 mil.

Folha - Por quanto o seu salário foi multiplicado na Record?

Santiago - Cinco vezes. Eu saí de salário de colaborador na Globo para um de titular na Record. Quanto a isso, não tenho do que reclamar. O que a Record tem de bom é a premiação de pontuação, ou seja, quanto mais ibope eu dou, mais ganho. Na Globo isso não existe. Os salários de autores bem-sucedidos equivalem a de presidentes de multinacionais. Mas os colaboradores ganham muito menos, um décimo.

Folha - Quais são as principais diferenças entre trabalhar na dramaturgia da Globo e na da Record?

Santiago - Na Record, sou titular e tenho mais liberdade criativa. Na Globo, há muito mais interferências, tem mais gente, muito cacique para pouco índio. São muitos diretores de diversas áreas. Na Record, trabalhamos com um grupo menor, com mais proximidade entre o autor e alta direção.

Folha - Em que medida o fato de "Bang Bang" ser uma novela problemática colaborou para o sucesso de "Prova de Amor"?

Santiago - Em "A Escrava Isaura", lutamos contra Antônio Calmon, com "Começar de Novo" e "A Lua me Disse", do Miguel Falabella. Se o produto é bom, conquista o público independentemente da concorrência. Se "Prova de Amor" fosse ruim, o telespectador poderia continuar em "Bang Bang" por hábito de ver a Globo, colocar em outro canal ou até desligar a televisão.

Folha - O texto de "Prova de Amor" costuma ser extremamente didático, mais até do que os das novelas da Globo. Por quê?

Santiago - Quero fazer um texto claro, que o espectador que ainda não viu a novela e veja pela primeira vez possa entender para aumentar a audiência. É uma estratégia. É sempre importante conquistar o telespectador que está passando por ali. Faço isso também para pegar de crianças a velhinhos, da classe A à E.

Folha - Apesar de criar uma opção de teledramaturgia fora da Globo, "Prova de Amor" é criticada por ser uma cópia fiel do modelo global e não ousar. Não é como "Pantanal", que trouxe uma nova linguagem.

Santiago - Fazer uma novela urbana e contemporânea fora da Globo é uma ousadia em si. Todas as novelas feitas para tentar combater a Globo foram de época ou rurais, como "Pantanal", "Éramos Seis", "Xica da Silva", a própria "A Escrava Isaura", "Dona Beija", "Marquesa de Santos", "Os Imigrantes". Tentar entrar no território que era exclusivo da Globo até então é uma ousadia. As emissoras tinham medo da comparação. Novelas de época já têm um glamour por seus figurinos e cenários e podem esconder a falta de estrutura. Mas conseguir o glamour e o impacto visual numa novela contemporânea é mais difícil. Na Record, avaliamos se isso não seria perigoso. Meu argumento foi que a gente ia propor uma alternativa justamente no momento em que a Globo estava se saturando de novelas de época. Como reação à "Escrava Isaura", a Globo colocou "Força de um Desejo" no "Vale a Pena Ver de Novo", "Alma Gêmea" às 18h e "Bang Bang", que também seria de época, às 19h. E ainda tinha "Xica da Silva" no SBT. Defendi que o público estaria saturado.

Folha - Qual a sua opinião sobre o projeto da Record de tentar copiar toda a programação da Globo, na teledramaturgia e no jornalismo?

Santiago - De alguma forma, se basear no que existe de melhor é uma estratégia inteligente.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a novela "Prova de Amor"
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