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23/01/2006 - 20h43

Dimenstein lança "O Mistério das Bolas de Gude"

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da Folha de S.Paulo

O passeio literário começa na Vila Madalena e segue para o centro de São Paulo. Depois, passa por destinos como Rio, Recife, Cali (Colômbia), Manaus, Nova York e a Índia. Misto de investigação jornalística e de diário de viagem, a obra "O Mistério das Bolas de Gude" (Papirus), que o jornalista Gilberto Dimenstein lança nesta segunda-feira, narra histórias de invisibilidade e de encantamento.

Lalo de Almeida/FI
Gilberto Dimenstein em frente a beco da Vila Madalena
Gilberto Dimenstein em frente a beco da Vila Madalena
Em 190 páginas, o colunista e membro do Conselho Editorial da Folha descortina casos de pessoas excluídas da sociedade que, das mais diversas formas de expressão, foram "despertadas" e estabeleceram uma relação de pertencimento com o mundo.

Para Dimenstein, a invisibilidade é a principal causa da violência, maior ainda do que a pobreza. "O que gera a violência é a sensação de não ter conhecimento, de não pertencer à sociedade." A tese é corroborada por casos documentados em 16 anos de investigação jornalística pelo mundo.

Ele conta que a primeira vez que percebeu o fenômeno foi na Índia, país mais pobre do que o Brasil, marcado por tensões raciais e religiosas e que apresentava taxa de homicídios semelhante à de Florianópolis (SC).

Em Nova York, capital onde viveu durante três anos, Dimenstein diz ter assistido a uma série de iniciativas de inclusão social que melhoraram a questão da invisibilidade e que colaboraram para a redução da violência. "Não era só dar grana, era oferecer meios para as pessoas se expressarem por meio da dança, da música, da poesia, do esporte."

Ao voltar para São Paulo, em 1998, o jornalista deparou com a capital vivendo um dos seus piores momentos, com altos índices de criminalidade. "Talvez tenha sido o momento em que São Paulo foi ao fundo do poço."

Hoje, comparando com aquele período, ele acredita que a cidade tenha emergido e reduzido seus índices de violência graças à sofisticação do capital humano, dos programas sociais efetivos, das iniciativas do terceiro setor e das lideranças comunitárias.

No caso do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, tido pela ONU como a região mais violenta do mundo, a taxa de assassinatos caiu 73%, se comparados o período de janeiro a junho de 2001 com o mesmo intervalo de 2005. Programas sociais também reduziram os índices de violência em 49% em Heliópolis, segunda maior favela da América Latina.

"Tem uma coisa nova em São Paulo, um movimento de resistência. É uma cidade essencialmente selvagem, cruel. Mas é essa selvageria que está criando um movimento de resistência."

Na sua avaliação, São Paulo nunca esteve tão exuberante do ponto de vista cultural. Sob essa ótica, ele afirma não ter dúvidas de que a capital é melhor do que parece, tema, aliás, de um debate que a Folha promove hoje, por ocasião do 452º aniversário de São Paulo. Após o evento, haverá o coquetel de lançamento do livro do jornalista.

"A cidade é melhor do que parece, mais interessante do que parece, oferece mais coisas do que parece. É eletrizante, tem uma sociedade empreendedora e efervescente. Não é uma cidade para amadores. É para pessoas que amam o urbano e a diversidade."

Dimenstein não poupa críticas ao poder público. Esse sim seria "pior do que parece", avalia o jornalista. "São Paulo é uma vítima do poder público. Podíamos ter metrô desde o início do século passado e, no lugar das marginais, jardins imensos. Vemos hoje parques e escolas abandonadas, centros de saúde semelhantes aos da África. A cidade é uma tragédia de planejamento urbano, de desrespeito e de descaso."

Para ele, a única possibilidade de São Paulo melhorar seria por meio de um grande pacto metropolitano, com a conciliação de políticas federais, estaduais e municipais, a exemplo do que aconteceu em cidades como Nova York, Barcelona e Bogotá.

"Tenho notado uma crescente resistência das pessoas neste começo do século 21. Você vai ao Jardim Ângela e vê crianças conversando com outras de Angola no computador, vai a Heliópolis e vê pessoas tendo aulas de estética com Rui Ohtake, vai para Sapopemba e vê todo um esquema de saúde pública montada pelo [médico] Adib Jatene."

Terceiro livro de reportagens do autor, "O Mistério ..." retrata um hábito que Dimenstein adquiriu na infância: o de flanar, ou seja, de andar sem destino e descobrir coisas por si só. "O flanador não se incomoda de não conhecer o grande museu. O barato dele é andar, parar para tomar um café e descobrir um azulejo perdido, uma escada."

Essa idéia o encanta de tal forma que por pouco não colocou o nome no livro de "Diário de um flanador." "Costumo andar oito, nove horas. Saio da Vila [Madalena], vou ao centro, passo pelo Pátio do Colégio, vejo exposições, paro para tomar café e vou anotando tudo o que acho de interessante."

Foi numa dessas andanças que o jornalista deparou com a fachada de um bar tomada por bolas de gude, na Vila Madalena. Apesar da cobiça das crianças e da facilidade de serem arrancadas, as bolinhas sobrevivem até hoje. Um símbolo de resistência e o fio condutor para o passeio que o jornalista convida o leitor a fazer.

Especial
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