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24/01/2006 - 09h58

Candidato a deputado, Clodovil volta ao teatro em SP

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PAULO SAMPAIO
do Guia da Folha

Um motivo insólito levou Clodovil Hernandes a fazer teatro pela terceira vez em sua carreira de estilista. "Estava desempregado e não tenho cara de pobre; não conseguiria nem inventar uma. Precisava fazer alguma coisa. Acordei num domingo de manhã, depois de operado de câncer de próstata, e resolvi escrever um espetáculo. Você sabe, o segredo da cura é o bom humor. Fui para a operação cantando pelos corredores, fazendo Broadway, levantando a perna, acordadíssimo, e todos os outros pacientes no hospital dormindo", conta ele, que estréia amanhã o musical "Eu e Ela", de autoria própria, no qual aborda o lado feminino de sua personalidade.

Aparece em cena de meia arrastão, sandálias altas, unhas dos pés pintadas de vermelho e paletó e camisas masculinos. Clodovil já havia montado "Seda Pura e Alfinetadas", em 1981, e "Sabe Quem Dançou?", em 87.

A situação crítica atual o levou a enveredar também pela política. No segundo semestre, pretende candidatar-se a deputado estadual pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão). "Brasília nunca mais será a mesma", avisa.

Na verdade, os novos personagens são reedições de clássicos dele mesmo. Na conversa com Clodovil, não é fácil separar espetáculo, candidatura e vida doméstica.

"Pafúncia!", ele chama a empregada, cujo nome de batismo é Belinda. Ela aparece, ele pede "o Gatorade gelado" e Belinda responde que só sem gelo: "Lógico, vocês não colocaram na geladeira. Vocês são um saco!".

Como é o espetáculo? "Todo mundo tem uma alma masculina, uma feminina. Vivo da minha alma feminina, tenho paixão por ela. Agora: a mulher que eu faço no palco não é essa avacalhação que se vê por aí. Tenho horror a puta!"

E como é o espetáculo? "É "divertissement", não tem a menor pretensão literária. O diretor é o Elias Andreato. Canto seis músicas, estou acompanhado de cinco bailarinos e dois atores; a minha versão de "La Vie en Rose", você me aguarde, vai tocar no metrô de Paris!"

Clodovil olha para o infinito com o queixo levantado, sorri, suspira e continua: "O espetáculo começa no escuro, eu cantando 'Gracias a la Vida'...".

Ele some, volta com o CD player tipo três em um portátil e coloca as versões da peça para clássicos de Violeta Parra, Elis Regina, Chico Buarque, Carmem Miranda, Billie Holiday e Edith Piaf.

Explica que não cantará em todas as sessões; quando não estiver disposto, vai usar o recurso do playback: "Tem dia que a gente não está com vontade. Você é igual todos os dias?".

Ele aperta o play e ouve-se sua voz cantando "Ne me Quitte Pas" (não me abandone). "Eu peço a minha alma feminina para não me deixar; todas as músicas tem o seu momento na peça: em Tatuagem, do Chico, ela (a alma feminina) gruda em mim..."

A Billie Holiday de Clodovil canta "You've Changed", "depois da morfina". "Ela era divina, mesmo drogada, uma dessas loucas que eu adoro [ele cita Florbela Espanca]: "Devo ter sido a visão que alguém sonha, alguém que veio ao mundo para me ver e que nunca na vida me encontrou..."

Clodovil sai de novo da sala e, apesar de ter avisado que não mostraria o figurino do espetáculo, assinado por ele, ressurge sobre uma sandália plataforma de mais de 15 cm de salto, dourada, com uma borboleta de estrasse sobre a tira da frente.

No palco, ele diz, a Carmem (Miranda) já está nascendo. "Abro os braços e os bailarinos vão tirando minha roupa até eu ficar só de cueca...Você conhece alguém com 70 anos que tenha essas pernas? (Ele mostra.)"

A entrevista já é quase um espetáculo. Mas ainda falta falar da candidatura a deputado.

"O político brasileiro só pensa em ter. Eu fui criado para ser, e é nisso que eu posso ajudar esse país", diz, ao lado de seu sacolão Louis Vuitton e rodeado de retratos dele mesmo pintados por artistas consagrados, fotos com socialites, livros de moda e quadros que preenchem toda a parede.

E a campanha? Diferentemente do prefeito José Serra, Clodovil jamais iria ao Fashion Week para agradar o eleitorado: "Aquilo só é bom para o Paulo Borges [produtor do evento], que ganha muito dinheiro. Hoje não existem mais estilistas; é um monte de bichas".

Sua plataforma política tem bases cristãs. Atribui a candidatura à uma "vontade superior" e diz que pretende ajudar o próximo. Considera-se uma pessoa boa? "Não, mas ninguém é. Se o mais perfeito foi para a cruz, para onde você acha que eu posso ir?"

Eu e Ela
Quando: estréia amanhã, às 21h30; qui. e sáb., às 16h e às 21h; sex., às 21h; e dom., às 18h; até 26/3
Onde: teatro Brigadeiro (av. Brig. Luiz Antônio, 884, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/ 3115-2637)
Quanto: R$ 40 e R$ 50

Especial
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