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27/01/2006 - 09h21

Polêmico, "Munique", de Spielberg, estréia no Brasil

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MARY PERSIA
da Folha Online

Os israelenses ficaram incomodados. Os árabes também. "Munique", novo filme de Steven Spielberg que estréia hoje no Brasil, provocou discussões antes mesmo do início das filmagens, realizadas no ano passado. Nessa empreitada, o cineasta intensificou o cheiro de pólvora de um episódio histórico relativamente conhecido e por si só polêmico.

Divulgação
Filme estréia nesta sexta
Filme estréia nesta sexta
Doze anos após "A Lista de Schindler", o diretor volta a um tema da história judaica recente. "Munique" mostra, "com base em fatos reais", a retaliação do governo israelense ao ataque terrorista do grupo palestino Setembro Negro, que durante a Olimpíada de 1972 (no dia 5 de setembro) invadiu a vila olímpica alemã e matou 11 atletas de Israel. O grupo, uma ramificação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), exigiu a libertação de 250 palestinos que se encontravam presos em território israelense. Não foi atendido.

A resposta veio em uma missão secreta, que reuniu agentes do Mossad (serviço de inteligência israelense) e colaboradores de Israel para eliminar os responsáveis pelo atentado. Sob o comando de Avner (Eric Bana), um grupo se radica na Europa e viaja o mundo à caça de 11 homens. No elenco estão ainda Daniel Craig (o novo James Bond), Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz, Michael Lonsdale, Ayelet Zurer, Mathieu Almaric e Geoffrey Rush.

Dentro do que é possível em uma obra de Spielberg, o filme tem a coragem de desmitificar a imagem de Golda Meir (vivida por Lynn Cohen) e tenta dar um caráter individual e humano aos palestinos. Mas estes ainda carregam aqui e ali o estigma de inumanos, quase animais --parte dos seus diálogos sequer mereceram legendas.

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Produção mostra retaliação a atentado de 1972
Produção mostra retaliação a atentado de 1972
Em outra frente, o personagem de Bana vê seus pensamentos divididos entre a execução dos envolvidos no atentado e a família. Sua mãe, judia que defende a missão delegada a ele pelo governo israelense, explica sua posição: pelo lar que temos, tudo isso se justifica. Um jovem palestino com quem Avner cruza também sustenta seus atos: pelo lar que queremos, tudo isso se justifica.

Em entrevista à revista norte-americana "Time", Spielberg classificou seu filme como uma "uma oração pela paz". O diretor, porém, tem colecionado críticas de todos os lados, em parte devido ao seu hábito de explicar as atitudes de seus personagens, especialmente quando são incumbidos de tarefas nada louváveis.

Ao decidir mostrar o "lado humano" de assassinos --e de assassinos de assassinos--, o cineasta de 59 anos recebeu críticas de Abu Daoud, líder do Setembro Negro, e também de Zvi Zamir, ex-chefe do Mossad, segundo a "Time". Baseado no livro "Vengeance", de George Jonas, e em testemunhos de quem viveu o episódio (como o próprio Avner), "Munique" também foi criticado por algumas "licenças" que o diretor se concedeu.

Defesa

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Eric Bana interpreta Avner
Eric Bana interpreta Avner
Judeu, Spielberg também vem se defendendo das afirmações de que foi demasiadamente compreensivo com os israelenses. As declarações vieram até do elenco do filme. A atriz israelense Gila Almagor, que interpreta a mãe de Avner, disse durante as filmagens que o cineasta pretendia dar uma boa imagem a Israel.

"É muito importante para ele [Spielberg] que o filme 'faça o que tem de fazer' por Israel", declarou Gila. A revista "Entertainment Weekly" descreveu a produção como uma história de "judeus caçando palestinos dirigida por um judeu". As viúvas de dois dos atletas mortos no atentado declararam seu apoio ao cineasta.

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Steven Spielberg filmou em diversos países
Steven Spielberg filmou em diversos países
Também acusado de dar um tratamento muito "humano" aos palestinos, o cineasta afirmou ao semanário alemão "Der Spiegel" (citado pela agência Efe) que "se fosse necessário, estaria disposto a morrer tanto pelos EUA como por Israel". Nesse fogo cruzado, disse ainda que tentar compreender os terroristas não é o mesmo que justificá-los, e que "entender não significa perdoar".

Em suas extensas duas horas e quarenta e cinco minutos, "Munique" tem entre seus destaques as externas rodadas em algumas das principais cidades européias --destaque para Paris, em imagens que remetem a "Ronin" (1998), dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Robert De Niro e Jean Reno. A duração e o ritmo, porém, por vezes não se encaixam bem em um filme com pegada de "thriller".

Como se a polêmica não estivesse garantida, Spielberg ainda se cercou de outros recursos para gerar comentários mundo afora --como as cenas de nudez. Não deve passar em branco a seqüência de Avner tendo relações com sua mulher, grávida da primeira filha do casal.

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