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29/03/2006 - 11h19

"Faço ficção com a realidade", diz Jorge Bodanzky

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O fotógrafo e cineasta Jorge Bodanzky, 63, diz que não gosta de "olhar para trás". No entanto, é com uma retrospectiva de sua obra que o festival de documentários É Tudo Verdade o homenageia, em sua 11ª edição.

Hoje, a mostra exibe o maior clássico da filmografia de Bodanzky, "Iracema, uma Transa Amazônica" (1974), co-dirigido por Orlando Senna. O filme, um dos 16 da carreira do diretor, é pioneiro no casamento da ficção com o documentário.

No papel de um motorista de caminhão, o ator Paulo César Pereio convive com habitantes da região atravessada pela estrada-símbolo do "Brasil grande".

Hoje, o interesse de Bodanzky segue voltado para a Amazônia. De um barco onde oferece oficinas às populações ribeirinhas (navegaramazonia.org.br), pretende operar um canal móvel de TV. A seguir, ele fala à Folha.

Folha - O sr. cita a narrativa de "Iracema, uma Transa Amazônica" como "improvisação planejada". Esse é o seu método no cinema?

Jorge Bodanzky - Não diria um método. É algo que se incorporou ao meu jeito de ser e de trabalhar, mas não como método. Não tenho dogmas. Quando vou fazer um filme, não penso que o farei dessa ou daquela maneira. A coisa sai naturalmente.

A forma de dirigir que escolhi foi dirigir com a câmera. Praticamente empurro a cena com a câmera. Isso aconteceu de forma plena em "Hitler Terceiro Mundo" (1968), de José Agrippino. Por isso ele é o único filme que não dirigi que está nesta retrospectiva.

Folha - O sr. co-dirigiu "Iracema, uma Transa Amazônica" com Orlando Senna, atual secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura. No documentário "Era Uma Vez Iracema", que o sr. dirigiu, o ator Paulo César Pereio reclama de Senna. Houve conflitos na equipe?

Bodanzky - A equipe foi muito harmônica. Tinha de ser assim. O conflito estava fora. Estávamos numa área de segurança nacional. O que estávamos fazendo era extremamente perigoso e arriscado. Podíamos ser presos ou expulsos pelo Exército a qualquer momento. Passávamos constantemente por barreiras militares. A equipe tinha de ser rápida e coesa. Não havia espaço para dissonâncias.

Folha - O sr. pretendia fazer uma obra inovadora no cinema brasileiro, como "Iracema" se tornou?

Bodanzky - Não nesse sentido, mas a idéia de fazer um documentário-ficção é preconcebida. Tanto que o argumento de "Iracema" começa assim: "Este projeto é um docudrama". Mas esse filme foi produzido para ser um programa da TV alemã, não foi concebido como um filme para cinema.

Folha - O sr. diferencia hoje documentários para TV e para cinema?

Bodanzky - Não. Hoje não existe a distinção cinema e TV; documentário e ficção. São fronteiras impossíveis de definir.

Folha - É impossível traçar a fronteira entre documentário e ficção?

Bodanzky - Não vejo necessidade de enquadrar o trabalho. As coisas se entrelaçam. Pode ser mais documentário ou mais ficção. Mas isso não é tão relevante.

Folha - Nem do ponto de vista da relação cineasta/personagem?

Bodanzky - Se eu jogo um ator dentro de um ambiente real e o deixo envolver-se com essa realidade, ele vai deixando de ser uma ficção e se insere como personagem dentro de uma realidade.
Já com os personagens reais, à medida que você escolhe determinada pessoa, coloca-a num canto e faz as perguntas que quer, até que ponto você não está criando um personagem dessa pessoa?

Os limites são difíceis de estabelecer. O que importa no cinema é a verossimilhança. A minha ficção é a realidade, eu faço ficção com a realidade.

Folha - Em seu documentário "Era uma Vez Iracema", o sr. volta a falar com a protagonista, Edna de Cássia. Foi difícil reencontrá-la?

Bodanzky - Ela se recolheu, não quis mais ser atriz. Mas a gente nunca perdeu contato.

Iracema, uma Transa Amazônica
Direção: Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Quando: hoje, às 16h30, no CCBB (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 0/xx/11 3113-3651)
Quanto: entrada franca

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