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10/04/2006 - 11h03

Milton Nascimento mostra sua intimidade com o jazz

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RONALDO EVANGELISTA
Colaboração para a Folha de S.Paulo

"Prefiro chamar de liberdade musical do que de jazzística", observa Milton Nascimento sobre o show que apresenta amanhã e na quarta-feira no Bourbon Street, em São Paulo, dentro do mesmo projeto que botou Sandy para cantar jazz, em maio do ano passado. "O que a gente vai tocar não é americano, é brasileiro", continua ele. "Todos os músicos da banda são ótimos improvisadores e vão poder demonstrar."

Por telefone, do Rio, ele contou à Folha que, ao receber o convite para o show, ficou surpreso. "Geralmente aqui no Brasil a gente não tem a oportunidade de fazer coisas diferentes, tem que tocar sempre os mesmos arranjos porque o pessoal quer cantar junto. Nesse show, a idéia é poder fazer mesmo as músicas conhecidas de maneira diferente."

Músico denso, cantor único, autor de harmonias complexas e admirado por cantores e instrumentistas de jazz de todo o mundo, Milton é o principal expoente da particularidade da música de Minas Gerais --que nasce, segundo ele, da mistura da rica tradição das harmonias com as influências diferentes recebidas pelo Estado.

A própria formação de sua banda, ele conta, já é essencialmente jazzística --ou livre musicalmente. "Por viajar muito, em cada lugar a gente sente como vai se apresentar, vai inventando. Em cada show fazemos de um jeito, nunca é definitiva a maneira de tocar. Então, se tem uma diferença nos arranjos, é natural."

Fã de Charles Mingus e de John Coltrane, Milton explicou que sua relação com o jazz vem desde os primórdios de sua relação com a música. "Antes de morar em Belo Horizonte, eu não ouvia jazz, mas tinha um contato prático com o estilo. Eu tocava contrabaixo em bandas de baile na cidade de Três Pontas, onde cresci, e a gente improvisava, mas não sabia exatamente o que estava fazendo. Só depois, em BH, tive contato com músicos de jazz e entendi aquilo."

No show do Bourbon, o cantor planejou também momento instrumental em que assumirá o contrabaixo. Será em duas músicas: uma composição de Dave Brubeck e um "canto de trabalho" do Mississippi. Acompanhando Milton, a banda é formada por guitarra (Wilson Lopes), contrabaixo (Gastão Villeroy), bateria (Lincoln Cheib), piano/teclado (Kiko Continentino), percussão (Marco Lobo), saxofone e flauta (Widor Santiago).

Em seus próprios álbuns, o cantor já cooptou a participação de músicos como Herbie Hancock e Pat Metheny e, em um de seus momentos mais efetivamente próximos do jazz, gravou um disco ao lado do saxofonista Wayne Shorter, em 1975.

Mas ele conta que seu grande ídolo dentro do universo do jazz --e de toda a música-- era o trompetista Miles Davis: "Ele foi o primeiro cara no jazz que me deixou de quatro; eu gostava de tudo o que ele fazia. Na primeira vez que ouvi, me lembro de ter falado: "Isso não é um cara tocando trompete, sou eu cantando". E quanto mais eu o ouvia, mais eu achava a identificação entre nós. Tive muitas aventuras com o Miles durante a minha vida. Toquei com ele em turnês, abrindo seus shows, por vários anos seguidos".

Um dos maiores ícones do jazz, músico tão genial quanto iconoclasta, Miles Davis era, também na vida pessoal, notório e lendário excêntrico. Milton, que esteve tão próximo, lembra que a lenda extravasava a realidade.

"A gente não tinha uma relação, a gente não conversava", explica ele. "Ele me chamava para abrir os shows e dizia em entrevistas que admirava um "crioulinho do Brasil que tocava violão", mas não tocava nem falava comigo porque tinha ciúme doentio de eu ter gravado com o Wayne Shorter, que havia sido músico da banda dele. Ele nunca quis gravar comigo de raiva, uma coisa totalmente maluca. Mas nunca me importei. A gente tocava e era muito bem recebido. Depois ele tocava e era lindo. Para mim, só importava a música que Deus mandava, e para mim Deus era Miles Davis."

Milton, que sempre esteve próximo do jazz, mostra toda a proximidade para quem quiser ver. E tiver R$ 200 para pagar a entrada, é claro.

Milton Nascimento
Quando: amanhã e quarta, às 22h
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, SP, tel. 0/xx/11/5095-6100)
Quanto: R$ 225

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