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01/05/2006
-
09h10
SÉRGIO RIZZO
Crítico da Folha de S.Paulo
Um menino de rua que testemunha a queda de uma carteira recheada abre o romance "Achados e Perdidos", do carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza, publicado em 1998.
Na adaptação para o cinema, o menino desapareceu, em companhia de diversos outros personagens e situações. O dono da carteira, no entanto, ficou --e, se a expressão do título perdeu um pouco do sentido original, a adoção desse personagem como um dos vértices da trama beneficia a condensação dramática.
Ele é um ex-delegado (Antonio Fagundes) que perambula pela noite carioca com a expressão de quem tem culpa no cartório. Tem mesmo, como se descobrirá em visitas ao seu passado.
Uma prostituta veterana (Zezé Polessa), que ele namora, e uma interiorana recém-chegada (Juliana Knust), que a primeira apadrinha, completam o triângulo desenhado pelo diretor José Joffily ("Quem Matou Pixote?", "Dois Perdidos Numa Noite Suja") com idas e vindas no tempo.
Mulheres dissimuladas
A investigação em torno de um assassinato faz a história andar, com o ex-delegado como o suspeito ideal: nem ele mesmo tem certeza absoluta da própria inocência.
Culpa difusa, assassino de motivação misteriosa, noites intermináveis e mulheres dissimuladas, com segundas e terceiras intenções, são elementos que reforçam a atmosfera "noir".
Há um pouco de crônica social nessa tradução do Rio de Janeiro para além do cartão-postal, mas não é o que prevalece. Mantém-se o tempo todo o foco na intriga policial, em exercício de gênero que busca também na sensualidade --Juliana Knust responde quase sozinha, e bem, por esse aspecto-- e no fardo da memória elementos adicionais para seduzir o espectador.
Pitadas de humor à parte, a trama é conduzida com certa gravidade e às vezes afetação, a mesma que se encontra na tradição norte-americana da literatura e do cinema policiais. No livro (e no conjunto da obra) de Garcia-Roza, o equilíbrio entre mimetização e recriação obtém resultado satisfatório. No filme, fica-se um pouco aquém.
Uma análise dos diálogos --alguns dos quais levaram a atenta platéia do Noitão do Belas Artes, onde "Achados e Perdidos" foi exibido em pré-estréia, a gargalhar-- talvez ajude a entender porque não se aceita com tanta facilidade, em nossa língua e cultura, o que se engole sem pestanejar vindo de outros quadrantes.
Achados e Perdidos
Produção: Brasil, 2006
Direção: José Joffily
Com: Antonio Fagundes, Juliana Kunst
Onde: em cartaz nos cines HSBC Belas Artes, Interlagos e circuito
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Luiz Alfredo Garcia-Roza
José Joffily aposta em "noir" carioca
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Crítico da Folha de S.Paulo
Um menino de rua que testemunha a queda de uma carteira recheada abre o romance "Achados e Perdidos", do carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza, publicado em 1998.
Na adaptação para o cinema, o menino desapareceu, em companhia de diversos outros personagens e situações. O dono da carteira, no entanto, ficou --e, se a expressão do título perdeu um pouco do sentido original, a adoção desse personagem como um dos vértices da trama beneficia a condensação dramática.
Ele é um ex-delegado (Antonio Fagundes) que perambula pela noite carioca com a expressão de quem tem culpa no cartório. Tem mesmo, como se descobrirá em visitas ao seu passado.
Uma prostituta veterana (Zezé Polessa), que ele namora, e uma interiorana recém-chegada (Juliana Knust), que a primeira apadrinha, completam o triângulo desenhado pelo diretor José Joffily ("Quem Matou Pixote?", "Dois Perdidos Numa Noite Suja") com idas e vindas no tempo.
Mulheres dissimuladas
A investigação em torno de um assassinato faz a história andar, com o ex-delegado como o suspeito ideal: nem ele mesmo tem certeza absoluta da própria inocência.
Culpa difusa, assassino de motivação misteriosa, noites intermináveis e mulheres dissimuladas, com segundas e terceiras intenções, são elementos que reforçam a atmosfera "noir".
Há um pouco de crônica social nessa tradução do Rio de Janeiro para além do cartão-postal, mas não é o que prevalece. Mantém-se o tempo todo o foco na intriga policial, em exercício de gênero que busca também na sensualidade --Juliana Knust responde quase sozinha, e bem, por esse aspecto-- e no fardo da memória elementos adicionais para seduzir o espectador.
Pitadas de humor à parte, a trama é conduzida com certa gravidade e às vezes afetação, a mesma que se encontra na tradição norte-americana da literatura e do cinema policiais. No livro (e no conjunto da obra) de Garcia-Roza, o equilíbrio entre mimetização e recriação obtém resultado satisfatório. No filme, fica-se um pouco aquém.
Uma análise dos diálogos --alguns dos quais levaram a atenta platéia do Noitão do Belas Artes, onde "Achados e Perdidos" foi exibido em pré-estréia, a gargalhar-- talvez ajude a entender porque não se aceita com tanta facilidade, em nossa língua e cultura, o que se engole sem pestanejar vindo de outros quadrantes.
Achados e Perdidos
Produção: Brasil, 2006
Direção: José Joffily
Com: Antonio Fagundes, Juliana Kunst
Onde: em cartaz nos cines HSBC Belas Artes, Interlagos e circuito
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