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04/05/2006
-
21h07
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
Com imagens picantes e abordagem insistente sobre temas sexuais, a Igreja Universal do Reino de Deus anima as madrugadas da TV aberta com o "Fala Que Eu Te Escuto", exibido na Record (1h), e atrai a atenção até de noctívagos incrédulos. Nas últimas semanas, o programa foi "abençoado" ao explorar o caso em que sua equipe de reportagem foi tomada refém por um assaltante, em um templo, em São Paulo.
O episódio rendeu imagens de impacto (veja) e terminou como uma fábula para o programa, apresentado pelo bispo Clodomir Santos. Após os apelos de sua mãe, o ladrão se entregou, libertando a repórter e o iluminador. A equipe da Record foi responsável por transportar a mãe do assaltante até o templo e depois utilizou seu depoimento emocionado no programa.
Imagem de uma repórter rendida por bandido com uma arma na mão funciona como um chamariz de audiência --principalmente na madrugada, quando reinam os repetitivos anúncios de remédios para emagrecer, aparelhos de ginástica e serviços telefônicos de relacionamento.
Sem entrar no mérito da estratégia da Igreja Universal de atrair fiéis (no final, há a oração do copo com água), o "Fala Que Eu Te Escuto" merece mais atenção de quem discute as relações entre mídia e poder, exemplificadas hoje no avanço dos evangélicos na TV brasileira, encarnados em figuras como bispo Edir Macedo, dono da Record, e a bispa Sonia Hernandes, fundadora da Igreja Renascer em Cristo. Esse movimento desafia as posições da líder Globo e do SBT, antes considerado o eterno vice.
Em uma avaliação rápida e preconceituosa, "Fala que Eu Te Escuto" parece um programa tosco, trash, risível, voltado para pessoas desesperadas, de baixa renda, com suas promessas de resolver todos os problemas --do desemprego à impotência sexual. Não é bem assim. A seu modo e ao público a que se destina, há uma dose de profissionalismo engajado nos planos de poder da Igreja Universal. O bispo Clodomir Santos age como um "âncora da CNN" ao manter o sangue frio e o controle de cada músculo da face ao ouvir algumas perguntas impagáveis de seus telespectadores.
Adotando um tom jornalístico, o programa tem um foco bem definido e a pretensão séria de influenciar a opinião de seu rebanho, colocando-se como um fórum, uma arena para discutir temas polêmicos, principalmente os comportamentais.
Nesta semana, por exemplo, "Fala Que Eu Te Escuto" ouviu os telespectadores sobre a greve de fome de Anthony Garotinho (PMDB-RJ), pré-candidato à Presidência da República. O tema era: "Garotinho e a greve de fome: Isto mostra despreparo?" (veja).
Mas o que chama a atenção de fãs do gênero trash é a abordagem de temas relacionados à sexualidade, com depoimentos e simulações inacreditáveis, dignas do cineasta norte-americano "Ed Wood". A edição também dá espaço para senso de humor em charges e animações e para fofocas sobre a vida de celebridades.
Na semana passada, o programa discutia a cirurgia que promete devolver a virgindade (de R$ 5 mil a R$ 7 mil), em que uma mulher testemunhava ter se submetido à operação como um presente ao namorado: "Cirurgia de hímen: 9 vezes virgem. Por que elas são preferidas por eles? Machismo ou tradição social?" (veja). Foi um prato cheio para o programa falar sobre as cantoras Sandy e Wanessa Camargo.
Mesmo com a proposta religiosa, o "Fala Que Eu Te Escuto" também apela nas imagens. Enquetes sobre prostituição, drogas e infidelidade são bastante freqüentes. O programa abusa de imagens fortes e erotizadas --como as de mulheres de bumbum arrebitado, ilustrando uma discussão sobre o funk carioca ("Bailes funk podem induzir ao sexo desenfreado?" veja). Bruna Surfistinha também já motivou debate acalorado. Antenado à importância da internet, o "Fala Que Eu Te Escuto" disponibiliza seu conteúdo na web, onde é possível ver (ou rever) edições anteriores (veja). Tudo gratuitamente --é bom que se diga. Quem dorme cedo, mas gosta do "Corujão do sexo", agradece.
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Editor de Ilustrada da Folha Online
Com imagens picantes e abordagem insistente sobre temas sexuais, a Igreja Universal do Reino de Deus anima as madrugadas da TV aberta com o "Fala Que Eu Te Escuto", exibido na Record (1h), e atrai a atenção até de noctívagos incrédulos. Nas últimas semanas, o programa foi "abençoado" ao explorar o caso em que sua equipe de reportagem foi tomada refém por um assaltante, em um templo, em São Paulo.
Rodrigo Paiva/Folha Imagem |
Assaltante (boné) se entrega após manter equipe refém |
Imagem de uma repórter rendida por bandido com uma arma na mão funciona como um chamariz de audiência --principalmente na madrugada, quando reinam os repetitivos anúncios de remédios para emagrecer, aparelhos de ginástica e serviços telefônicos de relacionamento.
Sem entrar no mérito da estratégia da Igreja Universal de atrair fiéis (no final, há a oração do copo com água), o "Fala Que Eu Te Escuto" merece mais atenção de quem discute as relações entre mídia e poder, exemplificadas hoje no avanço dos evangélicos na TV brasileira, encarnados em figuras como bispo Edir Macedo, dono da Record, e a bispa Sonia Hernandes, fundadora da Igreja Renascer em Cristo. Esse movimento desafia as posições da líder Globo e do SBT, antes considerado o eterno vice.
Em uma avaliação rápida e preconceituosa, "Fala que Eu Te Escuto" parece um programa tosco, trash, risível, voltado para pessoas desesperadas, de baixa renda, com suas promessas de resolver todos os problemas --do desemprego à impotência sexual. Não é bem assim. A seu modo e ao público a que se destina, há uma dose de profissionalismo engajado nos planos de poder da Igreja Universal. O bispo Clodomir Santos age como um "âncora da CNN" ao manter o sangue frio e o controle de cada músculo da face ao ouvir algumas perguntas impagáveis de seus telespectadores.
Adotando um tom jornalístico, o programa tem um foco bem definido e a pretensão séria de influenciar a opinião de seu rebanho, colocando-se como um fórum, uma arena para discutir temas polêmicos, principalmente os comportamentais.
Nesta semana, por exemplo, "Fala Que Eu Te Escuto" ouviu os telespectadores sobre a greve de fome de Anthony Garotinho (PMDB-RJ), pré-candidato à Presidência da República. O tema era: "Garotinho e a greve de fome: Isto mostra despreparo?" (veja).
Mas o que chama a atenção de fãs do gênero trash é a abordagem de temas relacionados à sexualidade, com depoimentos e simulações inacreditáveis, dignas do cineasta norte-americano "Ed Wood". A edição também dá espaço para senso de humor em charges e animações e para fofocas sobre a vida de celebridades.
Na semana passada, o programa discutia a cirurgia que promete devolver a virgindade (de R$ 5 mil a R$ 7 mil), em que uma mulher testemunhava ter se submetido à operação como um presente ao namorado: "Cirurgia de hímen: 9 vezes virgem. Por que elas são preferidas por eles? Machismo ou tradição social?" (veja). Foi um prato cheio para o programa falar sobre as cantoras Sandy e Wanessa Camargo.
Mesmo com a proposta religiosa, o "Fala Que Eu Te Escuto" também apela nas imagens. Enquetes sobre prostituição, drogas e infidelidade são bastante freqüentes. O programa abusa de imagens fortes e erotizadas --como as de mulheres de bumbum arrebitado, ilustrando uma discussão sobre o funk carioca ("Bailes funk podem induzir ao sexo desenfreado?" veja). Bruna Surfistinha também já motivou debate acalorado. Antenado à importância da internet, o "Fala Que Eu Te Escuto" disponibiliza seu conteúdo na web, onde é possível ver (ou rever) edições anteriores (veja). Tudo gratuitamente --é bom que se diga. Quem dorme cedo, mas gosta do "Corujão do sexo", agradece.
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