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05/05/2006 - 11h39

Autor conta a história dos livros proibidos pelo Vaticano

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RODRIGO ZULETA
da Efe, em Berlim

O historiador alemão Hubert Wolf, especialista em assuntos eclesiásticos, publicou recentemente um livro no qual aborda a história dos livros proibidos pelo Vaticano e tenta relembrar as discussões anteriores à sua censura.

O livro, intitulado "Index, Der Vatikan Und Die Verbotene Bücher" ("Índice, o Vaticano e os Livros Proibidos") constata que a censura eclesiástica se tornou uma instituição em 1571 e que intensificou seus trabalhos nos séculos seguintes, como reação à reforma protestante e ao Iluminismo.

No século 19, quando a censura do Estado desapareceu paulatinamente na Europa e a censura religiosa deixou de ser praticada no mundo protestante, o índice se manteve e só foi abolido em 1966, sob o pontificado de Paulo 6º.

Segundo Wolf, a decisão de quais títulos iriam para a relação de livros proibidos dependia, em boa parte, do censor do turno. Alguns se mostravam radicais e inflexíveis e viam atentados contra a fé em todas as partes, enquanto outros preferiam ser cuidadosos para evitar problemas com proibições de títulos que não se desviavam das crenças católicas.

Assim, por exemplo, "A Cabana do Pai Tomás", célebre novela antiescravista da autora metodista Harriet Beecher Stowe, não chegou a entrar no índice, apesar de ter sido denunciada pela censura.

A ausência desta novela do índice dos livros proibidos é fruto, segundo Wolf, dos esforços de um censor para demonstrar que a obra não era um manifesto revolucionário, mas se apoiava na convicção católica da igualdade das raças humanas. Além disso, o livro mostra como as conseqüências de uma aparição no índice variavam de acordo com o tipo de autor que fosse avaliado.

Enquanto para um teólogo que tinha pretensões de seguir uma carreira universitária a aparição de uma obra sua no índice poderia decretar o fim de sua carreira, outro tipo de autor reagia com indiferença e sarcasmo.

Foi o caso do historiador Ferdinand Gregorovius, autor de uma história da Roma na Idade Média que ficou famosa. Ele disse, em 1874, que o papa estava fazendo boa divulgação de sua obra.

Normalmente, as obras escritas em idiomas latinos corriam maior perigo ou tinham maiores possibilidades de entrar para o índice. O poeta Heinrich Heine e o historiador Leopold von Ranke foram alvo dos censores por causa das traduções francesas de suas obras. O teólogo Karl Rahner se opôs à tradução para o francês de seus livros para evitar problemas com o Vaticano.

"Madame Bovary"

Ao longo dos séculos, cerca de 8.000 publicações foram incluídas no índice, entre elas "Madame Bovary", de Gustav Flaubert, "O Segundo Sexo", de Simone de Beavoir, romances de Honoré de Balzac e obras de filósofos como René Descartes, Emanuel Kant ou Blaise Pascal.

Charles Darwin, por outro lado, não está na relação, o que acontece com uma série de católicos darwinistas como John Zahm, com sua obra "Evolução e Dogma".

O livro de Wolf trata de nove casos exemplares de autores condenados como Heine, Ranke e o teólogo Augustin Theiner, e nove absolvidos, entre eles Beecher Stowe.

Um fato interessante do livro é que, pela primeira vez, graças à abertura dos arquivos da Inquisição e da Congregação do Índice de Livros Proibidos, em 1998, existem detalhes sobre os processos e sua lógica interna.

Antes, segundo Wolf, os historiadores só podiam pesquisar sobre a história dos autores censurados, pois pouco se sabia dos censores, já que os documentos sobre os processos estavam trancados.

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