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02/06/2006 - 08h32

Autor de "Páginas da Vida" diz ter compromisso com a realidade

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JAMES CIMINO
da Folha Online

Leblon: bairro de classe-média alta da zona sul carioca onde vivem (ou viveram) diversas Helenas. Essas mulheres se caracterizam pela extrema humanidade, por uma vida aparentemente perfeita e pela busca de uma felicidade que, em última instância, não se sabe ao certo o que é. Essa rotina, vez ou outra, é alterada por eventos fatídicos, como uma bala perdida ou um seqüestro relâmpago.

Isso tudo poderia ser o retrato da vida de inúmeras mulheres que habitam os centros urbanos do Brasil, mas, no caso das Helenas, não passa do enredo básico das tramas criadas pelo autor Manoel Carlos, que, em 10 julho, trará ao horário nobre da Globo "Páginas da Vida", outra história centrada em sua emblemática protagonista.

Desta vez, sua Helena será (pela terceira vez) a atriz Regina Duarte, "uma médica obstetra que, cada vez que põe uma criança no mundo, pensa na responsabilidade que isso representa", conforme define o autor.

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Fernanda Vasconcelos no papel de Nanda
Fernanda Vasconcelos no papel de Nanda
Essa característica se ressalta quando a médica se depara com Nanda (Fernanda Vasconcelos). Grávida de gêmeos, a moça morre ao dar à luz uma menina e um menino portador da síndrome de Down. Helena entra em contato com Marta (Lília Cabral), a avó dos bebês, que passa a criar a garota, mas rejeita o menino. A obstetra decide, então, adotá-lo.

Manoel Carlos explica o que move sua personagem a tomar a decisão. "Ao mesmo tempo que sente uma certa angústia com isso, experimenta também uma doce sensação de, talvez, estar povoando o mundo com uma geração que vai salvá-lo. É um ser humano cheio de imperfeições, como todos."

Em entrevista à Folha Online, o autor falou um pouco de seu universo ficcional, declarou sempre se repetir e justificou seu amor pelo Leblon, cenário sempre presente em sua obra. Leia trechos da entrevista abaixo:

Folha Online - O que há de comum entre todas as suas Helenas?

Manoel Carlos - Todas são o mais verdadeiras possível. Melhor: o mais verdadeiras que eu consigo fazer. Todas, sem exceção, mentem, enganam, trapaceiam, traem e são traídas. Tudo por amor. Ou, supostamente, por amor. Por isso são tão reconhecíveis pelas mulheres que assistem às minhas novelas.

Folha Online - Esta será sua terceira Helena vivida por Regina Duarte. Você escreveu o papel para ela? Considera que ela seja o modelo de mulher que melhor retrata a Helena de Manoel Carlos e, conseqüentemente, um tipo de mulher brasileira?

Manoel Carlos - Cada Helena precisa de uma atriz. Regina encaixou-se em três delas, mas não poderia ter feito a Helena de Lilian Lemmertz (Baila Comigo, 1982), de Maitê Proença (Felicidade, 1991), de Vera Fischer (Laços de Família, 2000), de Christiane Torloni (Mulheres Apaixonadas, 2003). Para cada uma escrevi a Helena que elas poderiam fazer. Já tenho uma nova Helena em mente, para uma próxima novela, mas ainda não escolhi a atriz.
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Regina Duarte e Ana Paula Arósio nos bastidores da novela
Regina Duarte e Ana Paula Arósio nos bastidores da novela


Folha Online - Mais uma vez você retomará muitos aspectos recorrentes às suas novelas, como o ambiente do Leblon. Qual é a peculiaridade desse microcosmo que lhe chama tanto a atenção?

Manoel Carlos - O Leblon me remete ao bairro onde nasci e cresci em São Paulo, de onde saí aos 18 anos. Um bairro pequeno, quase uma vila, onde todos se conhecem e se cumprimentam cordialmente. Onde ninguém está de passagem, como em Ipanema e Copacabana, por exemplo, em que a população flutuante é maior do que o número de moradores. No Leblon, quem está andando nas ruas mora no bairro. O Leblon é isso. Ainda é isso. Não sei por quanto tempo mais.

Folha Online - As suas novelas, em particular, são as que mais parecem ter essa preocupação com a realidade concreta. Qual a relação de sua obra com o cotidiano?

Manoel Carlos - Procuro fazer uma ficção não delirante. Nunca gostei, por exemplo, de ler ficção científica e realismo mágico, como nunca me entreguei, nem quando criança, às histórias em quadrinhos. O que me ocupou sempre foi uma ficção realista ou próxima disso. Escolho um grupo de pessoas e começo a escrever sobre como elas vivem, o que sonham, o que conseguem. Faço ficção, mas tenho compromisso com o verossímil.

Folha Online - O fato de sua temática ser recorrente acabou lhe dando um estilo próprio. Como trabalhar com um mesmo tema sem se repetir?

Manoel Carlos - E quem disse que eu não me repito? E quem disse que quem escreve ficção (realista ou não) não se repete? Praticamente conto sempre as mesmas histórias.

Folha Online - Você acha que o seu estilo criou um diálogo próprio com o público?

Manoel Carlos - Acho que todos os novelistas de televisão têm seu quinhão de público cativo, além daquele que a novela cativa ao longo dos seus 200 capítulos. Não é privilégio meu, nem de ninguém.

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Depois de Nazaré, Renata Sorrah será juíza em "Páginas"
Depois de Nazaré, Renata Sorrah será juíza em "Páginas"
Folha Online - Suas histórias são essencialmente familiares. Seria correto afirmar que, em sua obra, a única instituição sólida de nossa sociedade é a família? É nela que está a força de sua narrativa?

Manoel Carlos - Na família não está apenas a força da minha narrativa, mas a força de uma nação, de todas as nações, em todo o mundo.

Folha Online - Uma de suas grandes preocupações é a violência. Em "Páginas" haverá novamente esse retrato? Sob que recorte?

Manoel Carlos - A violência habitual, que vemos nas ruas quase todos os dias. Ou nas notícias dos jornais e televisão. Balas perdidas, assaltos a mão armada, invasões de apartamentos, arrastão nas praias, desrespeito aos idosos, crianças de rua, tudo que existe em qualquer lugar. Tudo isso passará pela novela, de uma maneira ou de outra.

Folha Online - Ainda sobre a violência, como você avalia os eventos ocorridos em São Paulo recentemente?

Manoel Carlos - Uma tragédia anunciada. E deve-se esperar mais do que aconteceu, infelizmente. Na minha novela, Renata Sorrah fará uma juíza que sofre ameaças de morte e passa a andar armada. Esta semana, em entrevista à imprensa, o ex-secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, diz textualmente que o próximo passo dos bandidos será matar juízes, desembargadores, promotores. Minha sinopse é de junho do ano passado. Como vê, eu estava antenado.

Folha Online - Haverá o chamado "marketing social" em sua novela, segundo me consta, sobre os portadores da síndrome de Down e de HIV. Como você avalia essa responsabilidade social que a novela tem em nossa sociedade e como você, no papel de autor, se utiliza desse poder?

Manoel Carlos - Acho fundamental o merchandising chamado social. A novela é um veículo perfeito para isso, pois atinge milhões de pessoas diariamente. Sinto-me gratificado quando consigo colaborar, como no caso das doações de medula óssea, em "Laços de Família".

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