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14/06/2006 - 11h38

Novela "Sinhá Moça", da Globo, é acusada de racismo

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da Folha Online

História deturpada. É assim que o promotor de Justiça Almiro Sena Soares Filho, do Ministério Público da Bahia, vê a questão dos negros na novela das seis da Globo, "Sinhá Moça". Em sua coluna de hoje na Folha, Daniel Castro traz a notícia da instauração de um inquérito civil para apurar se a trama está deturpando a história da escravidão no Brasil e prejudicando a auto-estima da população negra e afro-descendente (clique aqui para ler a coluna --exclusivo para assinantes).

De acordo com Soares Filho, a novela erra ao mostrar o negro extremamente passivo e sofredor, que precisa de heróis brancos para se libertar. "A novela é questionável. Aquilo não é bem a história do negro brasileiro, é uma história deturpadíssima, que omite os quilombos e as revoltas lideradas por negros", diz o promotor ao colunista. "Tudo indica que a novela é racista, ainda que o autor não tenha tido a intenção."

Divulgação
Novela é acusada de deturpar fatos históricos
Novela é acusada de deturpar fatos históricos
A questão da participação do negro no fim da escravidão vai além das revoltas e dos quilombos. Fora do meio acadêmico, poucos sabem que quando a Lei Áurea foi assinada, em 1888, 95% dos descendentes de africanos já eram livres e alguns faziam parte da elite intelectual e das lutas abolicionistas. É o que escreve Hebe Maria Mattos, professora de história na Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora do livro "Das Cores do Silêncio: Significados da Liberdade no Sudeste Escravista" (Arquivo Nacional, 1995; Nova Fronteira, 1997), em artigo publicado na revista "Nossa História" (confira a íntegra aqui).

"Sinhá Moça" se passa na segunda metade do século 19. O comércio de escravos já havia sido proibido em 1850 pela Lei Eusébio de Queirós. Na novela, negros e mestiços aparecem quase todos como escravos (no cativeiro ou fugidos) --apesar de historiadores assinalarem que, já ao fim do período colonial (1822), negros e mestiços livres somavam praticamente um terço da população brasileira (complementada por um terço de escravos e um terço de brancos).

De acordo com Mattos, na sociedade daquela época procurava-se não comentar sobre a cor de um negro ou mestiço que estivesse no mesmo patamar social que os brancos. "Era regra de etiqueta silenciar sobre a cor dessas pessoas quando em situação formal de igualdade. Esse racismo 'à brasileira' tornou pouco nítido, para a posteridade, a importância da população afro-brasileira livre antes mesmo da Abolição, além de não realçar os esforços dos últimos cativos na conquista de sua liberdade", escreve a historiadora.

Entre os negros e descendentres de negros que se destacaram na sociedade da época pela luta para o fim da escravidão estavam o engenheiro baiano André Rebouças (1838-1898), o jornalista fluminense José do Patrocínio (1854-1905), o poeta e jornalista baiano Luiz Gama (1830-1882) e o escritor fluminense Francisco de Paula Brito (1809-1861).

Outro lado

Em resposta à coluna de Daniel Castro, a Globo se defende dizendo que "Sinhá Moça" é uma obra literária (a novela, remake da produção de 1986, é baseada no livro de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, que também já ganhou adaptação cinematográfica em 1953). Mas o promotor Soares Filho não acha o argumento razoável. "Não se pode abordar um fato desses [300 anos de escravidão] sem responsabilidade histórica." Ele espera o laudo de dois especialistas em história para tomar uma decisão. "Vou negociar uma reparação."

Em carta ao MPE da Bahia citada pela coluna, a Globo afirmou que o objetivo da novela é "entreter, informar e educar". "O caminho dos negros é longo, árduo e penoso, mas a liberdade lhes aguarda no fim, tal qual aconteceu na história do Brasil", declarou a emissora.

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