Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/06/2006 - 19h54

Após parada, Silvetty Montilla ataca na Europa e lança "drag music"

Publicidade

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Freqüentadores da noite gay paulistana já deram muita risada com as palhaçadas de Silvetty Montilla, 38, que comemora 18 anos de carreira hoje, em apresentação na boate Blue Space, na Barra Funda (região central de São Paulo). Neste sábado, do alto de um trio elétrico, ela também anima a parada na av. Paulista e, no domingo, o "Gay Day" no parque Hopi Hari, em Vinhedo (79 km a noroeste de SP).

Por trás da personagem, está o ator transformista paulistano Silvio Cássio Bernardo, que completa 39 anos no próximo dia 10 de julho, "sem medo de envelhecer" e sem motivos para reclamar --com seu trabalho, já comprou três carros, dois apartamentos (um na praia) e, nas férias, viaja sempre para o exterior.

Também está no topo no ranking dos cachês. Recebe até R$ 250 por apresentação de menos de uma hora, enquanto uma caricata principiante ganha no mínimo R$ 50.

Silvetty, como prefere ser chamado, conseguiu fama tanto das "bichas finas" das casas noturnas dos Jardins como das "bichas do centrão", na região da rua Vieira de Carvalho --sem falar nas festas heterossexuais ("de casamento, chá de bebê, aniversário").

Já chegou a fazer dez apresentações em uma noite. Conhece o Brasil todo ("O lugar mais longe? Recentemente, fiz um show em Rondônia. A gente passa quase três dias no avião"). Só costuma tirar folga às terças.

Marcelo Katsuki/Folha Imagem
Ícone da noite gay de SP, Silvetty Montilla mora em ap na praça da República com amigo e cão
Ícone da noite gay de SP, Silvetty Montilla mora em ap na praça da República com amigo e cão
"Posso parar hoje e falar: eu marquei meu nome naquela comunidade, naquele mundinho", diz Silvetty, que viaja, no próximo mês, para Europa, onde fará shows em boates de Londres (Inglaterra) e Colônia (Alemanha), aproveitando para ver o show da cantora Madonna em Roma (Itália).

Na semana da parada gay, o celular de Silvetty Montilla não pára. Toca oito vezes durante a entrevista. Ela já riscou as sobrancelhas, preparou um figurino especial e até ajudou um amigo de fora a encontrar uma vaga em hotel na capital.

"Tô na maior correria", diz a "rainha da parada", que popularizou bordões na noite como o "E aí?", "Adorando", "tá boa?", "tô bonita", "tô colocada, mona", "tô louca do meu c..".

Seu QG é um apartamento no 9º andar na rua Joaquim Gustavo, perto da praça da República e da rua Aurora, também conhecida como "Boca do Lixo", onde mora com um amigo e com o cão Vitor, um west highland white terrier ("o cãozinho do IG").

Diz que não ganha um centavo para animar a parada. Às vésperas do evento, marcar uma entrevista com ela é tão difícil quanto falar com uma estrela global da novela das oito.

"Ai, gato, vocês não vão tirar uma foto minha vestida assim?!", avisa Silvetty logo no começo.

Vamos sim. Como repete Silvetty ao arrastar bruscamente alguém do público, uma "vítima" para suas sátiras no palco: "Adoro essa gente que vem numa boa".




Folha Online-- Quando você começou a se vestir de mulher?

Silvetty Montilla-- Com 18 anos. Eu participava dos carnavais na praça da República, na [rua] Marquês de Itu.

Folha Online-- Já fez sexo com mulher?

Silvetty-- Nunca tive relacionamento com uma mulher. Nem tive vontade. Gato, eu sou uma menina.

Folha Online-- O que você fazia antes de virar Silvetty?

Silvetty-- Eu era auxiliar de promotoria no Ministério Público. No início, tentei conciliar o emprego de dia. Mas nunca gostei de acordar de manhã. Quando a noite começou a compensar financeiramente, pedi exoneração do cargo.

Folha Online-- Quando você chama alguém do público para conversar no palco, você costuma perguntar onde ela mora. Se a pessoa cita algum bairro da periferia, como Jardim Ângela, você brinca dizendo que isso não é bairro, mas cativeiro. Em boates mais elitizadas, você evita esse tipo de piada preconceituosa?

Silvetty-- Não evito. Eu falo mesmo, e elas gostam, porque as bichas acabam se misturando. Elas falam mal do centrão, mas tem dia, meu amor, que você encontra aquelas bichas finas dos Jardins ali. Quando bate a solidão, elas se jogam nesses lugares. Mas o preconceito está entre nós. A bicha pintosa não anda com a bicha machuda, que não pode andar com a barbie.

Folha Online-- Há também muitas piadas com negros...

Divulgação
Silvetty se define como "ator transformista e humorista" e se prepara para shows na Europa
Silvetty se define como "ator transformista e humorista" e se prepara para shows na Europa
Silvetty-- Eu brinco e posso brincar porque eu sou negro. Você tem de saber como colocar [a piada]. Havia uma apresentadora, não preciso citar o nome, que eu a conheci no auge. Hoje em dia, ela não faz nada. Ela brincava com racismo, Aids, naquela época em que a doença estava surgindo. Eu trabalho com o improviso, com o cotidiano. O que dá certo, eu tento repetir todas as noites. Evito pegar pesado, malhar a pessoa. Precisa ter jogo de cintura.

[Silvetty parece fazer referência a Frank Ross, caricata de estilo mais ácido e trash, apontada pelo mundinho como seu antigo desafeto]

Folha Online-- Recentemente, você fez parte do elenco da peça "Non é Vero, É Veríssimo" no teatro Imprensa. Como foi essa experiência?

Silvetty-- Amei. Tenho vontade de receber mais convites como esse. Muita gente me fala: "Silvetty, não sei como ninguém da televisão te descobriu". Já fui convidada para fazer testa no programa "A Praça É Nossa" [SBT]. As pessoas dizem na sua frente "Ah, você tem talento", mas depois a coisa não rola.

Folha Online-- Ser negro e ser gay...

Silvetty-- Prejudica mais ainda, né?! (risos) Só falta ser nordestina. Negro, gay e nordestina. Aí eu ia ser pega (risos). Mas eu falo tudo e não me arrependo. Não estou ali no palco para destruir nem querer diminuir ninguém. Há fãs que viram amigos e até me pedem para chamá-los ao palco. Ninguém é pedestal para mim.

Folha Online-- O que você acha da idéia de uma drag queen ser candidata nas próximas eleições?

Silvetty-- A Léo Áquila e a Salete Campari vão ser candidatas a deputada estadual [a primeira pelo PSC, a segunda pelo PDT]. Pediram o meu apoio, mas não quero estar nisso. Se eu puxar a brasa para uma, a outra pode ficar chateada. Adoraria que as duas entrassem [na Assembléia], mas é aquele negócio: dizem que gay não vota em gay. Eu não teria a coragem que elas têm.

Folha Online-- Você lançou um CD. Alguns descolados da noite enxergam potencial de sucesso no estilo "drag music". Você está vendendo bem?

Silvetty- Estou gravando o terceiro CD "Coisa Boa pra Você". Deve sair em julho, antes de viajar para a Europa. Tive sorte. Uma luz em minha vida chamada Rafael Lelis, que trabalha com música, me deu de presente uma música chamada "Tô Bonita" [disponível na web], que estourou no Brasil todo. A primeira tiragem foi de 10 mil cópias. Já fiz quatro tiragens. Pedi mais 300 para vender na semana da parada.

Folha Online-- Você conhece todo o circuito gay da cidade. Na hora da sua folga, aonde você vai, o que você ouve, o que você vê?

Silvetty- Não sou muito baladeira. Na sexta, gosto de dançar na Bubu [Bubu Lounge, em Pinheiros]. Gosto da casa, do som. Adoro uma novela. Vejo "Prova de Amor", na Record. Esticaram muito a novela, que antes estava boa. Adoro teatro e cinema, mas tenho pouco tempo. Quando saio do show e entro no carro, depois daquele "bum, bum, bum, bum", prefiro escutar Alpha FM, um som mais tranqüilo, MPB. Gosto também das divas, como Patti LaBelle, Whitney Houston, e de músicas evangélicas, como as de Cassiane. Tenho formação católica. Rezo todas as noites, o terço às segundas. As pessoas pensam que quem trabalha na noite não tem religião, não tem família.

Folha Online-- Sendo tão conhecida na noite, é difícil encontrar um bom namorado?

Silvetty- Fiquei seis anos com uma pessoa que eu amei, foi meu grande e único amor. Depois foi difícil. Fiquei muito mal. Eu tenho crises de depressão muito grandes. As pessoas pensam que você não chora, não tem dor só porque trabalha com humor. Quando perdi minha mãe, há cinco anos, chorei muito. Uma vez desabafei durante um show: ela era a pedra mais preciosa da minha vida. Tenho duas irmãs e meu pai, que mora na Casa Verde [zona norte de SP]. Minha família é maravilhosa. Sempre me aceitou. Hoje estou conhecendo uma pessoa. Não sei ainda no que vai dar. Mas sou uma pessoa de relacionamentos.

Leia mais
  • Em clima de campanha, Léo Áquila estréia carro na parada gay
  • SP terá parada gay no sábado com multidão menor e restrições
  • Confira a programação da semana da parada gay
  • "Homofobia é crime" vira tema da 10ª parada gay

    Especial
  • Leia a cobertura completa da parada gay de SP
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página