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17/07/2006 - 23h50

Crítica: "Páginas da Vida" se iguala ao Ratinho com vídeo do orgasmo

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

"Páginas da Vida" se igualou ao programa do Ratinho ao mostrar uma senhora de 68 anos, falando, com seu linguajar simples, sobre o primeiro orgasmo. Pior foi a retórica da Globo, admitindo que "houve excesso" e que submeterá os depoimentos a sua área de controle de qualidade. Ainda existe esse departamento?

A emissora vende a idéia de que a exibição do depoimento no horário nobre foi uma exceção, acidental, que fugiu ao seu "controle de qualidade". Só os ingênuos acreditam nesse discurso. Quem colocou no ar sabia muito bem o efeito desejado. Não seria surpresa nenhuma que se descobrisse que se recebe cachê para dar esse tipo de depoimento.

Divulgação
Sem identificação, mulher de 68 anos fala em "calcinha babada" após "gozar" sozinha
Sem identificação, mulher de 68 anos fala em "calcinha babada" após "gozar" sozinha
Lembre-se que a novela começou com ibope baixo. A preocupação da Globo com o texto de "Páginas da Vida" também é tardia. Na quinta-feira, já houve o caso do strip-tease de Ana Paula Arósio com sua personagem implorando ao marido ("Quero uma, duas, três vezes. Vem dormir dentro"). O ibope subiu. Isso é que interessa, na visão dos executivos da emissora.

As chamadas "Senhoras de Santana" podem espernear com a sexualidade desenfreada na TV. Para o Ministério da Justiça, a partir das 21h, lugar de criança é na cama. A novela é recomendada para maiores de 14 anos, grupo capaz de achar qualquer assunto, como sexo, na internet.

Ou seja, a Globo poderá apimentar a novela, sem risco de ser incomodada pelo governo. O telespectador mais conservador vai chiar, mas não deve parar de ver a novela. Afinal, é preciso patrulhar a trama. Vinga a idéia do "fale mal, mas fale de mim". A celeuma ajuda a levantar o ibope.

Para manter vivo o interesse por "Páginas da Vida", principalmente neste início, quando alguns ainda estão de ressaca com o fim de "Belíssima", a novela de Manoel Carlos precisa criar factóides, atraindo a atenção da mídia e, por conseqüência, dos telespectadores.

Primeiro, foi a cena do arrastão no Rio. Depois, o strip-tease da personagem Olívia. Agora, a idosa da "calcinha babada" por "gozar", sozinha, após ouvir uma canção de Roberto Carlos. Ninguém será demitido por isso, mas, bingo, quem não sintonizava a novela poderá sentir curiosidade.

Hoje, o pior da linguagem coloquial invade todos os canais, como SBT e Rede TV!. Até a Record, a chamada TV da Igreja Universal, apela no palavreado e nas imagens sensuais. Sob a desculpa de ser uma obra de realismo, "Páginas da Vida" vai continuar "aloprando" no português e na exploração do corpo.

Claro que soa preconceito social condenar uma "senhora do povo", como a do depoimento do orgasmo, por usar expressões de seu mundo para relatar uma experiência sexual. O público mais recatado odeia termos chulos. A elite até abre licenças "poéticas" para o baixo calão: se fosse filme de Quentin Tarantino e Pedro Almodóvar, tudo bem. Mas novela, não.

"Páginas da Vida" não é uma obra de Nelson Rodrigues (1912-1980), embora Manoel Carlos o imite com o estilo "a vida como ela é". No fim, a novela será julgada pela receita publicitária que gerou. É o que importa para a Globo. Cabe ao público decidir se quer fazer parte desse jogo.

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