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05/09/2006 - 23h32

Comentário: Ex-VJ da MTV imita Serginho e escorrega no Multishow

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Uma imitação pobre e grosseira do "Altas Horas", de Serginho Groisman. Assim é o "Circo do Edgard", programa semanal que estreou na noite desta terça-feira (5) no canal pago Multishow. Mas a atração comandada por Edgar Piccoli tem uma vantagem em relação ao programa da Globo: é curto. Não dura mais do que 30 minutos. Mesmo assim, é tempo demais para a "ego trip" de um ex-VJ da MTV em pleno surto de síndrome de Peter Pan.

Um dia alguém disse a Edgar que ele era um galã --tanto que ele próprio já declarou ser o "VJ que as mães das adolescentes adoram". O apresentador quarentão (41) acreditou e passou a vislumbrar carreira-solo, bem longe daquele "saco de gatos" que é a MTV, em que todo mundo parece ter saído do mesmo planeta, um Plutão (objeto celeste rebaixado) encravado, com certeza, em algum sobrado da Vila Madalena. É uma tribo moderna, descolada e, claro, quase sempre tatuada e cabelos desgrenhados. A única preocupação deles é a seguinte: quando a Globo vai me chamar?

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Edgar, ex-VJ da MTV, reza nova cartilha e adota caveira como símbolo
Edgar, ex-VJ da MTV, reza nova cartilha e adota caveira como símbolo no Multishow
Pois bem. A Globo chamou. O VJ-família deixou a MTV, canal onde estava desde o início dos anos 90. É verdade que o Multishow não é a Globo com "gê" maiúsculo. Também não é assim um "canal GNT". Mas poderia ser pior: o Futura, onde o "Fala, Garoto" Serginho Groisman, já cinqüentão, veste a camisa da firma com a "ação educativa". A Globo já está escaldada com estrelas talhadas na MTV. Depois do Cazé, é melhor ir devagar. É muita pressão, é muita pressão, repetiria alguém em algum balcão ou mesa na Vila Madalena. Ok, talvez Edgar consiga logo, logo, estrear seu programa na Globo. Mas na Globo mesmo, e não no Multishow, que também tem em seus quadros a ex-VJ e loiraça Didi Wagner.

O problema do "Circo do Edgard" é a dificuldade de seu apresentador largar os vícios de um VJ. A narração é exagerada. É tudo muito "up". Pula-se demais. Sacode-se demais. Pára quieta essa mão. Corta essa barba. Arruma esse cabelo. E essa camiseta de caveira? E essa caveira animada que dubla a voz de Clint Eastwood, Charles Bronson e Sylvester Stallone? É publicidade subliminar do estilista Alexandre Herchcovitch?

Outro ruído no ouvido é o dicionário "teen" adotado pelo apresentador: "segura nessa, galera", "cara, você não vai acreditar", "valeu, brother", "manda ver, rapaziada" e "meu, você fica zoando", "beleza, vocês são amarradões", "ele paga um pau". Não é fácil mudar da água para o vinho (refrigerante), do dia para a noite. O programa também explora muito a suposta intimidade de Edgard com os músicos do que se convencionou chamar "bandas bacanas que a MTV curte pra caralho". Tipo assim: Pato Fu.

A vocalista Fernanda Takai e seu marido John Ulhoa sentaram no picadeiro de Edgar. Foi um "papo assim" sobre cultura oriental, mangás, Karatê Kid, Tarantino ("Kill Bill"), com uma mistura de imagens ilustrando o que se fala, além da apresentação de um cantor fã de desenhos e seriados japoneses, Ricardo Cruz, e de uma lista ("top 5") das cinco "coisas mais bizarras da cultura oriental" (jeito de vestir, iguarias, filmes de kung fu, maníacos por games e a banda Guitar Wolf, simples, né?). Há aquele clima de globalização, de nostalgia com os anos 70 e 80, algo "retrô, saca só". Jogar confetes, então: Fernanda Takai foi apresentada por Edgar como "a maravilhosa cantora do pop rock brasileiro". As câmeras e as luzes focam demais no apresentador. No palco, o ilustrador Eduardo Fernando tentou desenhar Edgar. A ordem do programa também é abrir espaço para outros talentos, "os feras", na língua do Peter Pan, o que pode ser visto como um ponto positivo no programa.

Palhaçadas também são feitas no palco. Edgar quer dar um clima "descontração". Ele sobe em uma banqueta. Incita que o convidado exponha uma faceta nova de sua vida e carreira. O "Circo do Edgar" tem a pretensão de ser uma espaço para o surpreendente, para o inovador, para o diletantismo, a informalidade. Isso merece uma "salva de palmas", como tanto repete o apresentador.

O nome "circo" não é gratuito. Busca, em sua proposta, ressuscitar um estilo "Chacrinha" no auditório. Não deu certo com Cazé. Não dará certo com Edgar, se persistir nos maneirismos típicos de VJ da MTV. O seu "circo" terminou com o Patu Fu cantando "The Boy With The Thorn In His Side", hit da banda The Smiths, óbvio.

Especial
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