Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/09/2006 - 10h01

Livros virtuais analisam "Revolver", dos Beatles, que faz 40 anos

Publicidade

ALEXANDRE MATIAS
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Embora não tão incensado quanto álbuns mais emblemáticos --casos de "Sgt. Pepper's" (marco zero da psicodelia), "Rubber Soul" (manual de boas maneiras do britpop) e "Abbey Road" (o réquiem)-- o disco que os Beatles lançaram em 1966 aos poucos tem seu papel redefinido na história do pop. Ante-sala da fase estúdio do grupo, "Revolver", 40, é revisitado em duas obras online, que ajudam a traçar o espectro de abrangência do disco, ao mesmo tempo em que jogam novas luzes sobre sua influência.

O primeiro deles é "Abracadabra - The Complete Story of the Beatles" Revolver", escrito pelo funcionário do governo inglês Ray Newman nas horas vagas de seu trabalho oficial. "Escrevi isto por diversão", conta no prefácio. "Não escrevo sobre música profissionalmente. A idéia surgiu depois de algumas perguntas que eu tinha sobre o disco que seus biógrafos sentem-se felizes em passar por cima. De onde Paul McCartney tirou a idéia de "Eleanor Rigby"? Quem ensinou George Harrison a tocar cítara? E quem deu LSD para Lennon pela primeira vez?"

Após uma pesquisa aprofundada sobre os meses que antecederam o lançamento do disco, em 1966, Newman não esperou editora: diagramou seu livro e o colocou para download gratuito no site www.revolverbook.co.uk.

"As pessoas parecem saber tudo o que existe sobre "Sgt. Pepper's", mas "Revolver" ganha menos atenção no "Anthology" (biografia do grupo), por exemplo", explica o escritor.

"Minha grande dúvida era saber como quatro jovens que haviam composto "Love Me Do" quatro anos antes criaram algo tão excitante, esquisito e "cool" como "Revolver"."

Ray divide os novos interesses dos três Beatles da frente em grupos respectivos: Lennon descobre o ácido lisérgico, Paul McCartney se aventura pela alta cultura e movimentos de vanguarda, George Harrison traz a música indiana. Cada um destes universos é compartilhado em grupo, com "Tomorrow Never Knows" sendo um exemplo emblemático do modus operandi beatle da época: a idéia de Lennon era fazer uma música em um único acorde, como os músicos indianos que já estavam inseridos na cultura londrina desde o início dos anos 60. McCartney trouxe os efeitos sonoros e loops de fita magnético, e Ringo Starr criou a batida hipnótica que dá a sensação de tontura da música.

Newman conta que a primeira cítara de George --a de "Norwegian Wood", no disco anterior-- era quase decorativa, que Paul havia pensado em usar osciladores de freqüência em vez de um quarteto de cordas em "Yesterday" e que John havia se contentado em viver uma vida de casado.

Ainda juntos

No processo de pesquisa, Newman ficou pasmo ao descobrir que "Revolver" foi, de fato, o último disco dos Beatles como um grupo. "Foi surpreendente descobrir o quanto Lennon, McCartney e Harrison compartilhavam idéias na época. Eu sempre havia imaginado, por preguiça, que "Eleanor Rigby" era uma canção de Paul, e "Taxman", de George, mas, na verdade, Paul disse ter sido influenciado pelo interesse de George em música indiana quando compôs "Eleanor", e "Taxman" tem letras de Lennon e um solo de guitarra de Paul. Eles ainda eram um grupo na época. E eram amigos!", conta o autor, que já estuda propostas para publicar o livro fora do mundo virtual --por enquanto, só na Inglaterra.

Além de "Abracadabra", outro lançamento online mostra a longevidade de "Revolver", mas aqui nostalgia e pesquisa são deixadas para trás. "Revolved", uma homenagem feita pelo produtor inglês Chris Shaw, busca aglutinar referências de diferentes épocas para olhar para frente. O disco -que, como o livro de Newman, só existe na internet- é uma releitura faixa-a-faixa de "Revolver" à luz da cultura "mashup" (leia abaixo). De cara, a faixa de abertura "Taxman" perde seu baixo e bateria originais, substituídos pelo instrumental de "New Pollution" do americano Beck. Mais à frente, "I'm Only Sleeping" funde-se com "Glory Box", do Portishead, "For No One" é assombrada por "Close to Me", do Cure, e "Tomorrow Never Knows" ganha ares fantásticos com um tema de John Barry para um filme de James Bond. "Revolved" pode ser encontrado no endereço http://revolvedalbum.blogspot.com/

Mistura fina

"Mashup" é uma enorme subcultura de produtores caseiros, que começaram a jogar vocais de hip hop e R&B sobre bases de bandas de novo rock -na época, há cerca de cinco anos, chamávamos isso de "bastard pop". Mas a cultura atingiu um novo patamar quando o DJ Danger Mouse foi revelado ao mercado e ao público ao colidir o álbum branco dos Beatles com o Black Album de Jay Z. Ao subverter a estética "clássica" de ambos gêneros e ignorar os direitos autorais, o produtor criou uma pequena obra-prima moderna e seguiu para produzir um dos melhores discos do ano passado -"Demon Days", do Gorillaz- e atinge brilho próprio ao associar-se com o MC Cee-lo no projeto Gnarls Barkley, uma das melhores coisas deste ano. Assim, vários produtores iniciantes vêm usando desse subterfúgio para chamar atenção para seu trabalho, uns mais felizes que os outros. E só entre os álbuns clássicos, já desvirtuaram o "Pet Sounds", dos Beach Boys (duas vezes, "Bastard Pet Sounds" e "Hippocamp Ruins Pet Sounds"), o "London Calling", do Clash (que virou "London Booted"), ou o "Yoshimi", dos Flaming Lips ("Yoshimi Battles the Hip Hop Robots"). E, pelo andar da carruagem, é só o começo.

Leia mais
  • Produtor inglês recria álbum "Revolver" faixa-a-faixa

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre os Beatles
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página