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23/10/2006
-
09h12
CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo
Incomunicabilidade já foi, por muito tempo, a palavra-chave utilizada para designar a expressão, no cinema, do mal-estar da modernidade, central, em particular, na obra de Michelangelo Antonioni. Para nós, contemporâneos, imersos no reino da comunicação, que sentido adquiriu a não-comunicabilidade?
O elogio que muito se faz a alguns filmes que chegam do Oriente se baseia na lucidez que eles contêm de compreender impasses da vida contemporânea. "Fica Comigo", terceiro longa de Eric Khoo, cineasta de Cingapura, vem se somar a esse mergulho na alma, que tanto produz fascínio, dos filmes de Wong Kar-wai, Hou Hsiao-hsien, Tsai Ming-liang, Jia Zhang-ke, Hong Sang-soo, entre outros.
Pois o vazio nessas obras evoca, com o tempero contemplativo oriental, a problemática existencial exposta por Antonioni, mas a revê na perspectiva de uma época que se poderia definir como "a da comunicação ao alcance de todos".
A beleza fundamental de "Fica Comigo" emana justamente do modo como Khoo lê a nossa contradição.
A tal democracia da comunicação é relida pelo avesso, tendo o amor como o nexo que reúne as quatro histórias nada díspares que o filme narra.
Um senhor viúvo permanece conectado à memória da mulher morta; duas garotas se conhecem pela internet e vivem uma paixão adolescente; um segurança glutão persegue platonicamente uma executiva.
Em contraponto, o diretor insere uma não-ficção sobre uma senhora surda e cega que escreve suas memórias com a ajuda de um assistente social.
As quatro histórias se elaboram a partir da vivência do amor, mas sua demonstração é feita pelo avesso: num caso, por meio da rejeição, nos outros, da ignorância, da desaparição e do abandono. Reduzido quase a pó, o sentimento subsiste através de formas novas e antigas de estabelecer comunicação: chats, torpedos, câmeras de vigilância, cartas manuscritas ou datilografadas.
Paradigma da comunicação humana, o amor, quanto mais esvaziado, mais tem sua vigência reafirmada por essas parábolas, não através do culto romântico, mas extraindo do vazio a pura necessidade.
Especial
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Longa-metragem "Fica Comigo" vê o amor no vazio da comunicação
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da Folha de S.Paulo
Incomunicabilidade já foi, por muito tempo, a palavra-chave utilizada para designar a expressão, no cinema, do mal-estar da modernidade, central, em particular, na obra de Michelangelo Antonioni. Para nós, contemporâneos, imersos no reino da comunicação, que sentido adquiriu a não-comunicabilidade?
O elogio que muito se faz a alguns filmes que chegam do Oriente se baseia na lucidez que eles contêm de compreender impasses da vida contemporânea. "Fica Comigo", terceiro longa de Eric Khoo, cineasta de Cingapura, vem se somar a esse mergulho na alma, que tanto produz fascínio, dos filmes de Wong Kar-wai, Hou Hsiao-hsien, Tsai Ming-liang, Jia Zhang-ke, Hong Sang-soo, entre outros.
Pois o vazio nessas obras evoca, com o tempero contemplativo oriental, a problemática existencial exposta por Antonioni, mas a revê na perspectiva de uma época que se poderia definir como "a da comunicação ao alcance de todos".
A beleza fundamental de "Fica Comigo" emana justamente do modo como Khoo lê a nossa contradição.
A tal democracia da comunicação é relida pelo avesso, tendo o amor como o nexo que reúne as quatro histórias nada díspares que o filme narra.
Um senhor viúvo permanece conectado à memória da mulher morta; duas garotas se conhecem pela internet e vivem uma paixão adolescente; um segurança glutão persegue platonicamente uma executiva.
Em contraponto, o diretor insere uma não-ficção sobre uma senhora surda e cega que escreve suas memórias com a ajuda de um assistente social.
As quatro histórias se elaboram a partir da vivência do amor, mas sua demonstração é feita pelo avesso: num caso, por meio da rejeição, nos outros, da ignorância, da desaparição e do abandono. Reduzido quase a pó, o sentimento subsiste através de formas novas e antigas de estabelecer comunicação: chats, torpedos, câmeras de vigilância, cartas manuscritas ou datilografadas.
Paradigma da comunicação humana, o amor, quanto mais esvaziado, mais tem sua vigência reafirmada por essas parábolas, não através do culto romântico, mas extraindo do vazio a pura necessidade.
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