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26/10/2006 - 10h41

Longa americano "Shortbus" tempera sexo com humor

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EDUARDO SIMÕES
da Folha de S.Paulo, em Toronto

Quem ficar incomodado com a seqüência inicial de "Shortbus", que passa hoje na Mostra, por conta da nudez frontal e do inocente xixi na banheira do personagem James (Paul Dawson), não pode nem imaginar a maratona de sexo explícito que o diretor e roteirista John Cameron Mitchell reserva para boa parte dos cem minutos seguintes. Um colorido mosaico de relações homo e heterossexuais, orgias etc. Mas, calma lá, não se trata de um filme pornográfico. As cenas de sexo surgem tão bem amarradas à narrativa quanto as canções e dança de um musical como "Oklahoma!", como descreveu a crítica do jornal "New York Times".

"O sexo aparece integrado às vidas dos personagens", disse Mitchell à Folha, durante a apresentação de seu filme no Festival de Toronto.

"Queria usá-lo como a música em "Hedwig - Rock, Amor e Traição" [seu primeiro filme], uma metáfora para revelar os personagens sem usar palavras. Por isso não se pode comparar "Shortbus" a um filme pornográfico. Poucas pessoas se excitam sexualmente ao vê-lo, e, quando isso acontece, é algo periférico. A idéia não é chocar ou excitar. Quando ele termina, a última coisa em que se pensa é no sexo. Como no fim de uma relação boa. Diferente do que se sente após ficar apenas uma noite com alguém."

Hino na cama

O "projeto para um filme de sexo" de Mitchell começou ainda nos anos 90, quando diretores como a francesa Catherine Breillat, de "Romance", romperam a censura sutil do fantasma da Aids e voltaram a explorar o erotismo em seus filmes. Mas Mitchell queria não somente ousar na representação, para fazer contraponto ao sexo sem suor de Hollywood. Para ele, sobrava negatividade no sexo cinematográfico, associado à frustração ou violência, e faltava humor. E um viés político.

Numa seqüência de "Shortbus", por exemplo, três rapazes entoam o hino nacional americano durante um ménage à trois. "Ser americano é um monte de coisas, ser patriótico também. Sou patriótico, não da mesma forma que Bush é, mas sou", disse Mitchell.

"Shortbus" --nome daqueles ônibus escolares amarelos e também de uma festa mensal que Mitchell comandava em Nova York-- acompanha os conflitos amoroso-sexuais de sete personagens: uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo (Sook-Yin Lee, apresentadora de TV canadense) e seu marido (Raphael Barker), uma dominatrix solitária (Lindsay Beamish), um voyeur (Peter Stickles), um casal gay (Dawson e PJ DeBoy, namorados na vida real) que não consegue transar, e Ceth (Jay Brannan), jovem que parece ser o vértice ideal para um eventual triângulo deste casal.

Para arregimentar seu corajoso elenco --"cult" na atual temporada nova-iorquina de estréias, com o casal DeBoy e Dawson sendo fotografado por Bruce Weber para a "Interview"-- Mitchell evitou agentes e estrelas, "porque eles não fazem sexo à frente das câmeras nem poderiam ficar disponíveis tanto tempo". O diretor colocou anúncios numa página na internet pedindo testes em vídeo etc., teve meio milhão de acessos e recebeu 500 fitas.

"Chegamos inicialmente a um grupo de 40 pessoas interessantes, inteligentes, distintas e sexy. Pensamos na compatibilidade sexual e fechamos em nove pessoas antes mesmo de termos uma trama. Eu sabia apenas que o filme se passaria em Nova York, que envolveria sexo com casais distintos. Fizemos oficinas um pouco como Mike Leigh, e a partir das improvisações eu fiz o roteiro. Ensaiamos, e eu reescrevi o roteiro por mais de dois anos antes de filmar", contou Mitchell.

Os atores escolheram seus nomes e ajudaram a determinar seus conflitos que, se já não são assombrados pela Aids, não deixam de conviver com outro fantasma: o 11 de Setembro. O atentado está presente no longa, seja insinuado na "forma" dos piques de luz e eventual blecaute que acontecem no filme. Ou na tristeza, vazio e solidão que levam seus personagens a freqüentar o Shortbus, misto de clube de sexo e cabaré, que "lembra os anos 60, só que com menos esperança", como observa Justin Bond, famosa drag queen nova-iorquina que faz ponta no filme.

Resistência

"Lembro que os ataques aconteceram um mês antes da estréia comercial de "Hedwig". É uma sombra que continua sobre a cidade, que uniu a cidade.

O sentimento que aparece no filme é o mesmo que a cidade experimentou na época. Um certo otimismo que veio dos próprios atores", disse Mitchell, que, em entrevista ao "New York Times", chamou seu filme de "pequeno ato de resistência contra Bush e a América em que vivemos".

"A cidade está mudando, mas ainda é Nova York. É ainda a cidade de artistas, de todas as pessoas que criaram uma certa sinergia criativa representada no filme pelo clube, que é sexual, mas também artístico."

O repórter EDUARDO SIMÕES viajou a convite do consulado do Canadá em São Paulo

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