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27/12/2006 - 17h42

Em 2006, anorexia roubou os holofotes das passarelas da moda

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da France Presse, em Paris

A crônica anual da moda geralmente se limita às novas tendências em tecidos e designs, mas em 2006 foram a anorexia e a saúde das modelos, de quem se exige uma magreza esquelética, que marcaram tragicamente esse mundo.

A morte da brasileira Ana Carolina Reston, de 21 anos, 40 kg e 1,74 m, em novembro, vítima da anorexia e de uma infecção generalizada provocada por seu estado de extrema fragilidade, sacudiu as consciências e foi uma triste demonstração das conseqüências para a saúde dos regimes extremos.

Em agosto, um caso igualmente trágico foi registrado em plena passarela: a uruguaia Luisel Ramos, de 22 anos, morreu fulminada por um ataque cardíaco enquanto desfilava.

Fora das passarelas, no último domingo Beatriz Cristina Ferraz Lopes Bastos, 23, morreu em Jaú, vítima de complicações decorrentes da anorexia. Ela tinha 35 quilos. Em novembro, pouco após a morte de Ana Carolina, a universitária Carla Sobrado Casalle, 21, também não resistiu, pelo mesmo motivo.

As mulheres submetidas a regimes permanentes para se manter muito abaixo do peso que seria considerado normal sofrem de carências alimentares --em particular protéicas--, fadiga, transtornos da menstruação e problemas de fertilidade.

A pessoa subalimentada subsiste às custas dos próprios tecidos, consumindo reservas de gorduras e, em seguida, a massa muscular e as vísceras. Essas carências produzem também problemas psíquicos: menor resistência ao estresse, depressão e transtornos do comportamento alimentar (como a anorexia), podendo até levar ao suicídio.

Um quadro sobre o qual alertam há tempos os especialistas --que assinalam o perigo para as modelos e outras jovens impressionadas com um cânone de beleza não correspondente à realidade--, mas que até então era um tabu no mundo da moda.

Desfiles

Neste ano, o primeiro grito de alerta veio da Passarela Gaudí Noivas de Barcelona, que em sua edição do mês de junho decidiu que desfilariam apenas modelos que tivesse no mínimo tamanho 38.

Mas a grande polêmica aconteceu em setembro, na Semana da Moda de Madri, quando não se permitiu que desfilassem as modelos que não tivessem o índice de massa corporal mínimo para estar em boa saúde conforme estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (o peso em quilos divididos pelo quadrado da altura, ou seja, um mínimo de 56 kg para 1,75 m).

Ficaram de fora do desfile cinco das 68 modelos que iam se apresentar. A decisão provocou uma grande polêmica que tomou conta das passarelas de todo o mundo e foi muito criticada pelo setor. A morte de Ana Carolina acabou por calar muitas dessas críticas e deu um trágico apoio à iniciativa da Semana da Moda de Madri.

Muitos continuam tratando o assunto pelas arestas. Alguns dizem a anorexia é um "problema da sociedade que exige informação e não regulamentação" (como reza a Federação Francesa da Alta Costura), que é uma "falsa polêmica" considerar a moda responsável por um problema geral da sociedade (Chanel) ou que excluir as modelos mais magras das passarelas é uma medida "discriminatória" (Conselho de Criadores de Moda dos Estados Unidos). Mas o exemplo de Madri já dá seus frutos.

Os organizadores da São Paulo Fashion Week anunciaram que os desfiles de sua próxima edição, em janeiro de 2007, apresentarão novos critérios, principalmente para evitar casos de anorexia e bulimia. Só poderão participar modelos com mais de 16 anos e as agências deverão apresentar certificados médicos de exames que atestem que as modelos estão em boas condições de saúde e não têm desordens alimentares. O evento fará uma campanha informativa sobre a anorexia e a bulimia.

E, na Itália, o governo, a Federação Nacional da Moda e a Associação de Estilistas da Alta-Moda assinarão um "código de ética" que prevê também a proibição de menores de 16 anos em desfiles e um controle médico para garantir que as modelos tenham no mínimo a massa corporal de 18, segundo os critérios da OMS.

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