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23/11/2000 - 09h40

Tata Amaral mostra que é possível fazer cinema de autor no Brasil

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da Folha Online

No panorama atual do Cinema Brasileiro, ela ocupa um lugar de destaque, com filmes profundamente autorais e cuidadosamente elaborados. Com apenas dois longas no currículo - "Um Céu de Estrelas" e "Através da Janela"-, a cineasta Tata Amaral construiu uma obra sólida e vigorosa, reconhecida não só no Brasil, mas também no exterior.

O cinema surgiu na sua vida ainda na infância, quando decidiu precocemente que seria, no mínimo, cinéfila. Depois de passar algum tempo freqüentando aulas na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), como ouvinte, Tata passou à assistência de direção em uma série de curtas produzidos no final dos anos 80. A primeira grande chance e os primeiros reconhecimentos vieram com o curta-metragem "Viver a Vida" (91), que conta com ritmo e graça um dia na vida de um "office boy" na capital paulista. O filme recebeu um total de 12 prêmios, entre eles nos festivais de Brasília e Gramado, e até hoje encanta sua criadora, principalmente pelo formato curto.

"É um formato delicioso, o público adora. O curta encanta as platéias com suas histórias. Acho, inclusive, que deveríamos voltar a passar os curtas-metragens no cinema", diz Tata, lembrando que em algumas salas, como o Espaço Unibanco (SP), essa prática já é adotada e tem grande receptividade.

Reafirmando a força do curta-metragem para a formação de cineastas e de público para o cinema nacional, Tata lamenta apenas as dificuldades de produção, mas tem uma sugestão. "Acho que as televisões podem se sensibilizar mais por esse formato", diz.

O primeiro longa a gente nunca esquece. No caso de "Um Céu de Estrelas" (97) essa afirmativa cai como uma luva. Feito com baixo orçamento (cerca de R$ 350 mil), equipamento mais leve (gravado em super 16 mm) e um intenso trabalho de ensaio dos atores, o filme explodiu nas telas brasileiras apresentando algo novo e diferente do que se via nos cinemas. A história de amor e obsessão do metalúrgico desempregado Vítor (Paulo Vespúcio Garcia) pela cabeleireira Dalva (Leona Cavalli), trazia um ingrediente a mais na sua receita: coragem.

Um trabalho que utiliza a violência de forma plástica, a partir da estrutura dramática, nunca gratuita. Uma história de interiores, que vai desde a locação única até o crescendo emocional dos personagens. "Gosto de trabalhar sobre emoções fortes, fazendo mergulhos em personagens e nas suas histórias. "Um Céu de Estrelas", meu primeiro longa, é um mergulho na vida íntima de um casal", analisa a cineasta.

Voltando a alguns temas de sua estréia e descobrindo novos caminhos, Tata realizou seu segundo longa, "Através da Janela" (2000), demonstrando que tinha chegado para ficar. A obsessão está presente novamente nessa história de amor da enfermeira Selma (Laura Cardoso) pelo filho Raí (Fransérgio Araújo).

"Nós (os roteiristas Jean-Claude Bernardet -autor do argumento- Fernando Bonassi e Tata) nos baseamos na estrutura dramática da tragédia para escrever o filme, que conta em cinco dias a história de uma mãe que vive em função de seu filho. Ela se aprisiona nesse cotidiano, como muitas mulheres que a gente conhece. Então, ela vai vendo seu mundo ruir, porque certamente não é possível uma pessoa viver em função da outra", diz a diretora, que apresenta essa ruína por meio de diversos detalhes, como a mesa do café da manhã que vai se deteriorando dia após dia.

Dois pontos de absoluto destaque no filme são a trilha sonora de Lívio Tragtenberg e Wilson Sukorski e a interpretação primorosa de Laura Cardoso. "O filme foi inspirado na atuação de Laura Cardoso na peça 'Vereda da Salvação', dirigida por Antunes Filho. Nessa peça, ela faz o papel de uma mãe de um líder camponês", conta Tata, que não poupa elogios à atriz, já premiada em inúmeros festivais, entre eles o Festival de Cinema Brasileiro de Miami (EUA) e o Festival de Recife.

O próximo projeto de Tata ainda é uma incógnita. Ela só adianta que será um musical, mas, com certeza, poderemos esperar mais um olhar sobre o cidadão comum, foco principal de seus primeiros longas. "Nesses dois filmes, eu trabalho com o universo do cotidiano do homem comum, da mulher comum... Essa é a minha matéria-prima", diz a cineasta. Cidadãos que se transformam personagens para os espectadores possam ver estrelas na janela do cinema.

As informações são da Agência Brasil.
 

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