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19/02/2007 - 16h09

Comentário: Mangueira se rende e vira escola "chapa branca"

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A Mangueira sempre gozou da simpatia daquele tipo de intelectual que adora falar bem do samba de raiz, da gente do morro, da batucada dos desvalidos, do sacrifício da favela de colocar sua fantasia na avenida. Dona Zica (1913-2003) e Dona Neuma (1922-2000), damas imortais da escola, tornaram-se figuras nacionais queridas.

Na noite passada, a Mangueira fez um dos desfiles mais elogiados no sambódromo da Sapucaí, virando uma das favoritas ao títulos. O lamentável é que a Mangueira não é mais a mesma. Deixou de ser a escola do coração de quem, no passado, chamava a Beija-Flor de "vendida ao sistema" e aos gringos.

Tuca Vieira/Folha Imagem
Mangueira homenageou a língua portuguesa
Mangueira larga tradição e vira "chapa-branca"
A Mangueira virou uma escola de samba "chapa branca". Colocou a filha do ministro da Cultura para animar a bateria e atraiu anúncios de estatais como a Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil. Até a cantora Beth Carvalho, um símbolo da escola, foi impedida de desfilar, e a diretoria nem pediu desculpas. A revolta da sambista, que rompeu com a Mangueira, é justificável.

A frieza do capitalismo subiu o morro. Não só a Mangueira, mas as outras escolas de samba refletem os novos tempos. Se antes eram redutos dos bicheiros e traficantes, hoje viraram reféns das cervejarias. O noticiário do samba é ditado pela indústria de bebidas. A atriz Suzana Vieira, por exemplo, brigou com a diretoria da Grande Rio porque decidiu visitar o camarote da marca de cerveja concorrente à patrocinadora da escola de samba. É a ética do Zeca Pagodinho, o traíra da Schincariol, para quem o Carnaval do Rio é o "melhor" do Brasil, "que me desculpem os outros".

É evidente que esses conflitos não chegam a ser relevantes. Tudo morre na Quarta-Feira de Cinzas ou no desfile das campeãs no final de semana. Na TV, a cobertura dos "bastidores" é, na verdade, a oportunidade de justificar o merchandising das cervejarias e o apoio do governo às manifestações populares. E viva Preta Gil e seu corselet escondendo a barriga.

No Carnaval, há a eterna obrigação de transformar pobres em estrelas, principalmente nas transmissões dos desfiles no Rio pela Globo. O brilho, as plumas e paetês ajudam na maquiagem dos pobres. Modelos tentam se cacifar para ensaios de nudez ou elevar o preço do michê.

Sem direito de cobrir os desfiles, a Rede TV! preferiu mostrar o trash. Exibe bundas e faz entrevistas até com prostitutas declaradas, como um travesti que revelou, sem meias palavras, diante das câmeras, seu foco no Carnaval do Rio: "Só interessa fazer programas com gringos". Ao deixar sua intenção clara, o travesti é mais digno do que a Estação Primeira de Mangueira. A Velha Guarda não apita mais.

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