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23/03/2007
-
00h44
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
Interrompendo o noticiário sobre a reforma ministerial de Lula, um assunto cotidiano eclodiu como uma bomba no país --principalmente para as mulheres e seus amigos cabeleireiros: a morte de uma dona-de-casa em Goiás por causa da escova progressiva.
Didatismo: a progressiva é alisar o cabelo à força, com formol. É o sonho estético de boa parte das brasileiras. Parece que o mundo só respeita quem tem o cabelo liso. O resto (crespo, cacheado, ondulado, pixaim) é estigma da feiúra, do atraso, das classes subalternas, do populacho.
O governo proíbe a progressiva. Ou melhor, a regra da Anvisa (agência nacional que deveria zelar pela vigilância sanitária) permite que o cabeleireiro use até 0,2% do conservante. Só que nessa taxa, o sonho não se realiza. Para as madeixas ficarem lisinhas, como as da Beyoncé, é preciso mais formol. A dona-de-casa morta sofreu: a quantidade da substância usada foi 100 vezes mais do limite permitido, segundo informações extra-oficiais. Uma bomba, tal qual a usada por homens em academias para acelerar o crescimento dos músculos.
Por trás dessa morte, a pergunta que atormentou mulheres e cabeleireiros: mesmo ilegal, a progressiva vai sobreviver? O hábito parece uma droga feminina, principalmente nos salões mais populares. A simples notícia da morte vai banir a técnica? O governo vai reforçar a fiscalização? Afinal de contas, quando as marcas famosas do alisamento (L'Oréal, Avlon, Salon Line) vão conseguir colocar no mercado um produto, uma técnica, um jeito eficiente e definitivo de alisar logo os cabelos, sem risco de saúde para as mulheres?
Além da futilidade (na visão dos rabugentos) de se perder tempo com questões de vaidade, é preciso investigar: por que as brasileiras não valorizam seus cabelos enroladinhos, marca de nossa colonização, de nossas mestiças, dessa riqueza de povos, de referências culturais, artísticas, de fontes multirraciais de conhecimento?
Talvez as respostas apareçam com perguntas do tipo: a obsessão pelo cabelo liso é um sintoma de racismo? Complexo de inferioridade? Baixa auto-estima? Ou apenas um modismo comportamental que as multinacionais dos cosméticos tentam impor à periferia do mundo, nivelando o termômetro do sucesso feminino pelo seu tipo de cabelo?
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Comentário: Escova progressiva é a "bomba" das academias nos salões de beleza
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Editor de Ilustrada da Folha Online
Interrompendo o noticiário sobre a reforma ministerial de Lula, um assunto cotidiano eclodiu como uma bomba no país --principalmente para as mulheres e seus amigos cabeleireiros: a morte de uma dona-de-casa em Goiás por causa da escova progressiva.
Didatismo: a progressiva é alisar o cabelo à força, com formol. É o sonho estético de boa parte das brasileiras. Parece que o mundo só respeita quem tem o cabelo liso. O resto (crespo, cacheado, ondulado, pixaim) é estigma da feiúra, do atraso, das classes subalternas, do populacho.
O governo proíbe a progressiva. Ou melhor, a regra da Anvisa (agência nacional que deveria zelar pela vigilância sanitária) permite que o cabeleireiro use até 0,2% do conservante. Só que nessa taxa, o sonho não se realiza. Para as madeixas ficarem lisinhas, como as da Beyoncé, é preciso mais formol. A dona-de-casa morta sofreu: a quantidade da substância usada foi 100 vezes mais do limite permitido, segundo informações extra-oficiais. Uma bomba, tal qual a usada por homens em academias para acelerar o crescimento dos músculos.
Por trás dessa morte, a pergunta que atormentou mulheres e cabeleireiros: mesmo ilegal, a progressiva vai sobreviver? O hábito parece uma droga feminina, principalmente nos salões mais populares. A simples notícia da morte vai banir a técnica? O governo vai reforçar a fiscalização? Afinal de contas, quando as marcas famosas do alisamento (L'Oréal, Avlon, Salon Line) vão conseguir colocar no mercado um produto, uma técnica, um jeito eficiente e definitivo de alisar logo os cabelos, sem risco de saúde para as mulheres?
Além da futilidade (na visão dos rabugentos) de se perder tempo com questões de vaidade, é preciso investigar: por que as brasileiras não valorizam seus cabelos enroladinhos, marca de nossa colonização, de nossas mestiças, dessa riqueza de povos, de referências culturais, artísticas, de fontes multirraciais de conhecimento?
Talvez as respostas apareçam com perguntas do tipo: a obsessão pelo cabelo liso é um sintoma de racismo? Complexo de inferioridade? Baixa auto-estima? Ou apenas um modismo comportamental que as multinacionais dos cosméticos tentam impor à periferia do mundo, nivelando o termômetro do sucesso feminino pelo seu tipo de cabelo?
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