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18/04/2010 - 07h00

"Príncipe do samba", Roberto Silva completa 90 anos

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da sucursal do Rio

Foi numa balbuciante, mas não menos surpreendente, entrevista a Amaury Jr., em 1990, que João Gilberto listou Roberto Silva entre seus cantores preferidos e o classificou de "maravilhoso". O nome provocou estupefação não só no telecolunista social, mas também nas editorias de cultura dos jornais, que correram para saber quem era o "desconhecido".

Ouça trechos de músicas de Roberto Silva

Afora aquelas e algumas outras reportagens de ocasião, pouca coisa mudou até hoje. Mas é quase impossível encontrar neste homem, que completou 90 anos no último dia 9, palavras de ressentimento. "Tenho muito orgulho da minha carreira. Deu tudo certo", diz.

Pedro Carrilho/Folha Imagem
O cantor Roberto Silva que completa 90 anos de vida e 72 de carreira
O cantor Roberto Silva que completa 90 anos de vida e 72 de carreira

Até o momento, sabe-se apenas de um programa da série "MPBambas", do crítico Tárik de Souza, que o Canal Brasil exibirá no dia 29. Shows eventuais, como em Santos, dia 27, e em São Paulo, em junho, não dependem de datas redondas, pois nunca deixou de fazê-los.

Em vez de queixas, prefere orgulhar-se da admiração de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Zeca Pagodinho ("Roberto Silva é um grande intérprete, elegante. Em um aniversário da minha mãe, dei de presente um show dele") e dos jovens sambistas. Mesmo tendo recebido nos anos 40 a alcunha de "o príncipe do samba", cantou todos os gêneros.

Roberto é daqueles casos raros de filiação simultânea à linha do canto impecável e romântico de Orlando Silva e à do canto sincopado de Cyro Monteiro. Foi nesta que se destacou mais, sendo um dos principais intérpretes de Geraldo Pereira e Wilson Batista.

Fruto de outro tempo, cantou e canta Normélias, Emílias, Amélias e outras mulheres de verdade, que priorizavam lavar e cozinhar. E brilhou no rádio com histórias típicas de periódicos populares, como "Jornal da Morte" (Miguel Gustavo), censurada por sua letra em 1961 ("Tresloucada, seminua/ Jogou-se do oitavo andar/ Porque o noivo não comprava/ Maconha pra ela fumar") e hoje no repertório da Nação Zumbi.

"Roberto Silva foi muito importante na minha infância, antes mesmo de eu conhecê-lo", diz Paulinho da Viola. "Amigos se reuniam na casa de papai [o violonista César Faria] e cantavam Sylvio [Caldas], Cyro e Roberto. Eu adorava."

De uns anos para cá, Paulinho tem sido obrigado a corrigir os que o chamam de "príncipe". "Príncipe é Roberto Silva. Eu sou só um vassalo", diz.

Saúde e mulheres

Roberto faz uma hora de exercícios por dia. "Ginástica de velhinho", como diz, que lhe mantêm tórax e andar eretos. Dá pulos no palco, só usa óculos para escrever, parou de fumar há 40 anos e deixou para trás os drinques pesados.

"Estou doido para fazer 90. Bem do jeito que eu estou, qual o problema?", diz ele, chamado por um amigo de "inoxidável".

O vozeirão continua firme, tendo baixado meio tom em apenas três músicas. "Ainda não peço para o público dar o agudo por mim", brinca.

O resultado de tamanha saúde é o alvoroço feminino. Em Recife, uma bilheteira mandou um convite para ele cantar em seu quarto. Há as que põem bilhetinhos no seu bolso. Outras ligam chorando tarde da noite.

"Terceira idade é fogo. Dão em cima, mas ela não deixa", constata. "Ela" é Syone Costa, um tanto mais nova do que ele, advogada que se tornou sua empresária e mulher há 16 anos. Roberto ficara viúvo e pôde reencontrar a moça que conhecera há cinco décadas e em quem dera em cima sem revelar o detalhe de já ser casado.

"Gosto muito da vida. Mas, se ela morrer, eu acabo", anuncia, apontando para Syone, o patriarca de uma família de sete filhos (quatro feitos dentro do casamento, três fora, "vida de artista"), 22 netos e 12 bisnetos.

 

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