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15/01/2001 - 05h26

Rap americano não tem vez no Millenium Rap

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LINO BOCCHINI, da Folha de S.Paulo

Intervalos de até uma hora, problemas com a polícia brasileira e norte-americana e até um agressivo conflito entre o público e os nova-iorquinos dos Lost Boyz marcaram o Millenium Rap, que levou mais de 40 mil fãs de hip hop anteontem ao Sambódromo do Anhembi.

Apesar dos problemas, a noite reservou boas surpresas, como a presença da dupla 509-E, formada por detentos do Carandiru, que teve a liberação acertada na última hora. Afro X e Dexter chegaram de camburão para fazer um emocionante show com os quatro Racionais MC's, no melhor momento da noite.

Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay não faziam grandes apresentações havia um ano. Entraram no palco ao som de "Capítulo 4, Versículo 3" e brindaram a platéia com outros hits como "Diário de um Detento", "Mundo Mágico de Oz" e "Fórmula Mágica da Paz", todas do último disco dos rappers, "Sobrevivendo no Inferno" (1997).

Além disso, os Racionais mostraram três músicas novas, "Vida Loka" e duas ainda sem título definido, que vão estar presentes no novo CD do grupo, que chega às lojas até abril.

Antes deles haviam se apresentado os grupos Realidade Cruel, que abriu a noite, às 21h, Faces da Morte, Thaíde e DJ Hum, Ndee e Naldinho -a dupla mais boca suja da noite- e Marcelo D2.

Ao longo de toda noite, os mais importantes rappers brasileiros soltaram uma enxurrada de críticas à polícia, playboys e injustiças sociais em geral. Sobrou até para o Rock in Rio, espinafrado logo no começo da noite, e para o ex-prefeito Paulo Maluf, citado de forma crítica (para dizer o mínimo) em músicas inéditas dos Racionais e pelo RZO.

A platéia, pelo menos 80% masculina, era em sua maioria composta por moradores da periferia, que vibravam com as letras quilométricas, que sabiam de cabeça. Um público muito diferente do que assistia, ao mesmo tempo, REM e Beck na Cidade do Rock, em Jacarepaguá.

Havia poucas personalidades na área VIP. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), convidado de honra, parecia deslocado no meio daquela barulheira toda. O político, que vive um romance com os rappers, ajudou na liberação do 509-E e do Bone Thugs (que acabou não indo). "Falei até com embaixador, mas não deu", conta.

Entre as apresentações do vocalista do Planet Hemp, Marcelo D2, e dos Racionais MC's, a platéia teve de amargar uma espera de mais de uma hora. "Estávamos discutindo com a polícia, eles queriam todos os holofotes do Anhembi acesos, o que prejudicava os telões", explicava Primo Preto, um dos organizadores.

Foi o começo do maior incidente da noite. Após mais de duas horas de atraso para o início do festival e um show morno de Marcelo D2, o público já estava impaciente. Então os Racionais MC's e 509-E voltaram a animar o Anhembi, mas o show durou uma hora e meia (o público queria bem mais). Em seguida entraram os americanos dos Lost Boyz. Foi o grande erro.

Desconhecidos no Brasil, e diante de uma platéia cansada e ávida por mais rap nacional, a única atração internacional da noite foi recebida por uma chuva de garrafinhas de água, às 5h de ontem. A situação piorou quando eles pararam o show para reclamar do público, que invadia o palco a todo momento. Começou então um bombardeio de tênis, pedaços de madeira, garrafas e latinhas.

Os Lost Boyz tiveram a sorte de não serem linchados pela platéia, já que a segurança não tinha nenhum controle sobre a situação, e os americanos resolveram revidar com gestos obscenos e jogando um microfone no público.

A bagunça só acabou quando Ice Blue, dos Racionais, muito respeitado
entre os fãs de hip hop, deu um sermão cheio de palavrões e pediu o microfone de volta. O show dos Lost Boyz, é claro, não passou da primeira música. Mas, por sorte, ninguém se feriu e até o microfone pedido por Blue voltou ao palco.

"Acho que não precisamos mais de shows internacionais", ironizou Primo Preto, levando a confusão na brincadeira.

Ânimos acalmados, o RZO subiu ao palco para encerrar a noite. O grupo paulistano foi uma surpresa, não estava na programação inicial, mas foi muito bem recebido. Meia hora depois, uma multidão de milhares de manos e minas caminhava sob o sol, indo do Sambódromo do Anhembi, na beira da marginal Tietê, à estação de metrô Barra Funda.

Raílson de Oliveira Santos, 19, morador da zona leste, estava no meio dessa turba e resumiu o espírito do público: "Fiquei chateado porque o Xis não tocou e queria ver o Bone também, mas tudo bem, os Racionais foram demais, e até a treta com os Lost Boyz foi divertida."
 

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