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MÁRIO TONOCCHI
da Folha Online, em Campinas


O homem brasileiro que frequenta as salas de bate-papo de sexo virtual no país quer apanhar, bater, quer ofensas, ser traído, sentir prazer amordaçado ou amarrado.

Também há quem pede para "olhar" a mulher da janela do prédio em frente, que pede para ser mulher, que pede para a mulher fingir que é homem.

Essas são algumas observações de um estudo de livre iniciativa com homens que utilizam regularmente as salas de sexo virtual da Internet da advogada e pedagoga do Rio de Janeiro Deise Maria Dias Gonçalves. O resultado do estudo "Love online: o cybersex nas salas de bate-papo" sai no início de 2001 com um livro que leva o mesmo título.

"É desse jeito que o homem se expõe e devassa a sua intimidade, "in natura" para sua mulher virtual. Acho que as parceiras virtuais passam a conhecer os homens melhor e mais profundamente do que as suas mulheres reais", afirma a advogada.

Para Deise, que coordenou a pesquisa de campo entre setembro de 1999 e julho deste ano, o chat é uma experiência de escape, de catarse, de projeções, de fantasias eróticas. "Uma vitrine de tesões, alguns bem enrustidos, de prazeres secretos."

Anonimato
A pesquisa mostra que, nas salas de bate-papo, o navegante faz o sexo que não faz no real, mesmo lançando mão da prostituição. O anonimato e a possibilidade de ninguém sair ferido também estimulam o "liberar geral", segundo a advogada.

"Literalmente vale tudo. Embora muita gente seja super light e romântica, muitas pessoas também radicalizam e pegam pesado. Aí cada uma dessas pessoas acaba sendo um pouco prostituta, michê, gigolô, puta, cafetão ou garota (o) de programa. No fundo, no fundo é isso, as pessoas representam papéis muito fortes, querem viver experiências inusitadas, querem curtir outros baratos", diz.

Tecladas
Apesar da falta de limites no sexo virtual, por suas características próprias, as fantasias, conclui a pesquisa, ainda são as conhecidas e nominadas. "São comuns as fantasias tecladas de inversão de papéis, de crono e de cromo inversões, de voyeurismo, de vampirismo, de cropofilismo, de sadomasoquismo, de exibicionismo etc", conclui a advogada.

Os provedores mais acessados durante a pesquisa foram UOL, iG, OSite, ZipNet e GLOBO. Quatro mulheres amigas da advogada participaram da pesquisa entrando em contado com os internautas em salas de suítes privê para encontros a dois, por idade, de brasileiros no exterior, salas de sadomasoquismo, salas de imagens eróticas, de deficientes físicos, HIV, GLS e mix.

A pesquisa entrevistou 433 homens brasileiros residentes no Brasil ou no exterior (EUA, Austrália, China, Japão, França, Portugal, Itália e Argentina), com idades entre 21 e 55 anos, observando variáveis de idade, local, e condição sócio-econômica.

Os entrevistados não foram abordados. De acordo com Deise, as entrevistadoras aguardavam contato para iniciar a pesquisa.

"Havendo empatia entre os parceiros, o clima de intimidade ia sendo rapidamente construído e a entrevistadora procurava criar situações que propiciassem a dinâmica das perguntas e respostas de um questionário-padrão, sem que o entrevistado percebese que estava sendo investigado de forma controlada, para não perder a espontaneidade, que era um dos pré-requisitos do trabalho."

Como o assunto ainda é pouco estudado, mesmo dentro das unidades de pesquisa universitária, a advogada diz que encontrou dificuldade em encontrar referências bibliográficas de suporte para a investigação das interfaces eróticas do homem.

"A única pesquisa consultada no final do trabalho, para avaliação das condições de validação da minha pesquisa, foi 'Sexo, Afeto e Era Tecnológica', de Sergio Dayrell, da Universidade de Brasília", afirma Deise.

No dia 24 de dezembro desse ano a pesquisa vai para a Internet com a inauguração do site www.loveonline.webbr.net. A advogada divulga e-mail para contatos: deisemania@ig.com.br.

 
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