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08/05/2002 - 00h01

Linux ajudará o Brasil e ganhará força no PC ainda em 2002

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

O sistema operacional gratuito e de código-fonte aberto Linux, um dos concorrentes mais fortes do Microsoft Windows, ajudará o Brasil e os países emergentes a participarem mais ativamente da revolução informática. Essa é a opinião de Jon "Maddog" Hall, presidente da Linux International e um dos maiores gurus do sistema no mundo.

Para ele, o Linux começará a chegar com forma aos computadores domésticos ainda este ano. "Dois anos atrás, quando questionadas sobre o mesmo assunto, personalidades do mundo Linux, inclusive Linus Torvalds e eu, diríamos que em 2002 ou 2003 o Linux começaria a crescer drasticamente nos computadores pessoais. Eu continuo apostando nisso."

Calvo e com uma longa barba branca, Hall trabalha com computadores desde 1968. Mas descobriu o Linux somente em 1994, nos Estados Unidos. "Lá eu vi o Linux pela primeira vez e me apaixonei por ele. Levei mais dois anos para compreender as todas as implicações do software livre e do código aberto no mundo da informática."

Agora, ele dirige a Linux International, uma associação de fabricantes de computadores e software —entre eles Compaq, IBM, HP, Sun Microsystems e Red Hat— que ajuda a promover o uso do sistema operacional Linux. Ela dá suporte financeiro e técnico para desenvolvedores de todo o mundo.

Em entrevista à Folha Online, ele foi duro com a Microsoft, traçou uma comparação entre Bill Gates, fundador da Microsoft, e Linus Torvalds, criador do Linux, e disse ver o software livre como forma de "equilibrar o jogo" entre países desenvolvidos e emergentes. Confira.

Folha Online - O Linux já ameaça o Windows em crescimento no mercado corporativo. Você vê o mesmo movimento nos PCs daqui há algum tempo?
John "Maddog" Hall -
Não com a mesma intensidade, porque os usuários domésticos costumam ignorar o suporte das grandes vendedoras de software. Quem usa computador em casa pede ajuda para os vizinhos, para os filhos ou amigos da igreja. A densidade desse mecanismo de ajuda e troca de informação ainda não se formou para o Linux. No entanto, com mais e mais estudantes e profissionais utilizando Linux fora de casa, o sistema também crescerá no ambiente doméstico.

Além disso, o uso de programas de código-fonte aberto não está limitado ao Linux. O Open Office, por exemplo, funciona com sistemas operacionais da Microsoft, assim como muitos outros programas. Alguns usuários de programas da Microsoft já começaram, inclusive, a usar softs de código aberto em vez do chamado "software proprietário".

Folha Online - O Linux nasceu para o PC ou o destino do OS é apenas para computadores corporativos?
Hall -
O Linus Torvalds [finlandês que criou o Linux] começou o projeto do Linux para que ele fosse um sistema operacional para seu uso pessoal, em casa. Ele não pensou em fazer do Linux um sistema apenas para computadores corporativos.

Folha Online - Se o Linux realmente pode atingir o mercado doméstico, quanto tempo falta para isso?
Hall -
Dois anos atrás, quando questionadas sobre o mesmo assunto, personalidades do mundo Linux, inclusive Linus Torvalds e eu, diríamos que em 2002 ou 2003 o Linux começaria a crescer drasticamente nos computadores pessoais. Eu continuo apostando nisso.

Um dos problemas que temos no mundo de hoje é essa questão do "instante". Todo mundo quer as coisas para ontem. Temos até macarrão "instantâneo", molho de tomate "instantâneo". As pessoas se esquecem de que existe inércia no mundo.

O Linux está crescendo de um modo fantástico, especialmente se considerarmos que não há campanhas publicitárias milionárias sobre o sistema operacional em si. A IBM é a única empresa que já lançou alguma campanha publicitária sobre ele ("Paz, Amor e Linux"), e ela circulou basicamente nos Estados Unidos. Compare isso aos bilhões de dólares —retirados de seus usuários— que a
Microsoft gasta para divulgar seus produtos pelo mundo.

Mesmo assim, o Linux é o sistema que mais cresce nos servidores corporativos, segundo o IDC, e é utilizado quase exclusivamente para o desenvolvimento de supercomputadores atualmente. Ele também se destaca em projetos de sistemas embutidos, frente a frente com o Windows CE. Só nos computadores pessoais ele ainda não penetrou com força.

Folha Online - O que falta para o Linux crescer e ameaçar o Windows também no computador doméstico?
Hall -
Acredito que o Linux esteja no caminho certo para crescer no mercado doméstico, mas, como eu já disse, é uma questão de inércia. Também acredito que essa inércia será diferente em diferentes nações. Em países com baixa renda, por exemplo, ou em países onde a Microsoft não é predominante, as pessoas terão mais chance de usar o Linux como uma alternativa.

Países que também reconheceram a economia que software de código aberto permite —como a Alemanha e o Brasil—, os benefícios para a área militar —como a França— provavelmente verão um crescimento rápido do Linux no mercado doméstico.

Folha Online - O Linux é melhor que o Windows? Por quê?
Hall -
O Linux é infinitamente melhor que o Windows 3.1 e a família 9x do sistema operacional da Microsoft por causa de sua arquitetura, que oferece mais estabilidade, segurança, capacidade e melhor gerenciamento de hardware.

Já o Windows NT, no qual foram baseados o Windows 2000 e o XP, é baseado numa arquitetura diferente, que lhe confere características semelhantes às do Linux. Mas isso não significa que a Microsoft tire proveito completo dessas vantagens.

Só para demonstrar, há exemplos documentados de sistemas corporativos que rodam Linux e, nos últimos dois anos, não precisaram ser reiniciados uma vez sequer. Até mesmo o Windows mais robusto precisa ser reiniciado a cada mês, no máximo.

Outro exemplo é o uso dos recursos do sistema. Sem o ambiente gráfico, o Linux pode fazer um servidor funcionar com apenas 4 Mbytes de memória, enquanto 16 Mbytes de memória já permitem trabalhar com gráficos. O Windows XP, no entanto, precisa de 128 Mbytes de memória para funcionar.

Algumas distribuições do Linux continuam compatíveis com computadores 386. O Windows NT precisa, no mínimo, de um Pentium.

O Linux também funciona em diferentes arquiteturas, o que permite mais liberdade na escolha do hardware. O Windows NT, por outro lado, só funciona na plataforma "WinTel" [gíria do mundo informático para as duas marcar dominantes do setor, Windows e Intel]. O Linux roda com tudo, desde os pequenos palmtops até servidores e supercomputadores.

Folha Online - Que razões um usuário doméstico tem para migrar para o Linux?
Hall -
Eu recomendaria o Linux para o computador doméstico porque o usuário ganha um sistema mais estável, seguro, capaz e sem os vírus que existem hoje. Além do preço, é claro. O Linux é um sistema operacional mais barato que qualquer outro.

Amantes de computadores e estudantes da área também podem usar o Linux, afinal eles podem observar como o kernel [núcleo] do sistema operacional funciona, aprender sobre compiladores, bibliotecas, código de editores de textos, ferramentas e utilitários.

Folha Online - Que razões você daria a uma empresa para migrar para o Linux?
Hall -
Controle. Ao ter acesso ao código-fonte do sistema operacional e dos programas que usa, as empresas podem tomar decisões baseadas nas necessidades reais para um upgrade, por exemplo.

Quando converso com enormes grupos de executivos, pergunto quantos de seus negócios já tiveram problemas por causa de algum bug de software. Claro, 98% deles levantam as mãos. Depois pergunto se eles escreveram uma cartinha para o fornecedor de software, detalhando o problema. Como eles são empresários —e precisam de respostas para seus problemas—, mais de 90% levantam as mãos. Mas, quando pergunto quantos deles receberam um retorno sobre o problema, inclusive uma correção para o bug, apenas dois ou três no meio de 3.000 ou 4.000 executivos levantam as mãos.

Aí eu pergunto: quantas pessoas já tiveram de mudar a forma de fazer negócios só porque o software proprietário [sem código aberto] não fazia o que a empresa queria fazer? Normalmente 80% levantam as mãos.

Mas esses não são problemas da Microsoft. Esses são problemas que surgiram com a produção em massa de software, quando o tempo de desenvolvimento passou a ser uma pequena fração do custo do software. O resto é formado por custo de marketing e pelas altas margens de lucro.

No entanto uma reportagem da revista "Money" de maio deste ano mostrou, com números de instituições sérias como Baseline, Merrill Lynch, Standard and Poor's e da própria Microsoft, que a empresa de Bill Gates trabalhou, nos últimos dez anos, com uma margem de lucro líquido entre 1,3% e 2% maior que a do setor de software. Só em 2001, a empresa trabalhou com uma margem 6% maior que a do setor de tecnologia.

Mas há dois lados nessa moeda. Primeiro, as empresas que produzem software proprietário embutem no preço o desenvolvimento que fizeram há anos. Isso é o que eles insistem em chamar de "propriedade intelectual" ou "inovação". Toda vez que você compra uma nova versão do software, eles te cobram de novo por um trabalho repetido. É por isso que algumas empresas oferecem licenças apenas para upgrade, numa tentativa de amenizar o custo para quem já pagou pelo software. Essa tática também é boa para manter você com o software e impedir que você migre para um concorrente.

O segundo fator é que essas empresas de software não podem resolver os problemas de cada usuário em particular. Imagine uma empresa que tenha 450 milhões de licenças de um programa em todo o mundo. Você espera que ela tenha tenha, pelo menos, 4,5 milhões de usuários diferentes. Se cada um deles pedir a correção de um bug e sugerir uma melhoria por ano, essa empresa terá que responder a 9 milhões de pedidos por ano.

Mas os programas de código aberto não funcionam assim. Como a fonte está disponível, o cliente tem a chance de chamar uma empresa de suporte para implementar a solução do problema. Pode ser uma grande empresa como a IBM, ou um pequeno revendedor. Até mesmo um consultor de software ou funcionário. Cada um compete de igual para igual, porque todos eles têm o código disponível para estudar e melhorar. Dessa forma, o cliente só paga pelo trabalho de incrementar o sistema, não pela "propriedade intelectual", que já está coberta por licenças de uso como a GPL (GNU Public Licence) ou outras licenças de código aberto.

Além disso, o cliente pode discutir com o consultor exatamente o que ela quer do software. Também pode acessar a internet e procurar ferramentas ou códigos já prontos e que se aproximem da solução de que ela precisa. O desenvolvedor então faz as mudanças para resolver o problema, e disponibiliza essa solução para a comunidade do código aberto.

Assim o cliente resolve seu problema com uma solução mais próxima de sua necessidade, não por propriedade intelectual repetidas vezes e evita o custo de treinamento que teria com a mudança de software.

Folha Online - Bill Gates recentemente disse que adotar o Linux seria acabar com o emprego na indústria do software. É verdade? Por quê?
Hall -
O software de código aberto é uma tecnologia revolucionária, não uma evolução. Isso porque ele é o sinal do fim da era do software de código fechado, produzido em massa para gerar lucros enormes, como os de Bill Gates. Essa tecnologia abre as portas para centenas ou milhares de pequenos negócios, que poderão adaptar o software de código aberto às necessidades de cada cliente.

A Microsoft gerou o homem mais rico do mundo (que tem mais dinheiro que muitos governos mundiais) e tem US$ 40 bilhões em ativos. Ela fez isso com um processo de desenvolvimento de software que foi criado antes da era da internet e da comunicação global. Eu vejo com o que o sr. Gates se preocupa. Essa nova era pode ser uma ameaça para sua indústria, porque coloca em choque esse modelo de produção em massa e outro, o do software feito a mão e disponível gratuitamente.

Folha Online - Mas se o Linux é gratuito, como sobrevive o profissional ou a empresa que trabalha com ele?
Hall -
Empresas como IBM vendem hardware, suporte técnico e soluções. Se o sistema operacional custa algo a eles, ou se eles ganham dinheiro com ele é uma questão a ser discutida, afinal, eles vendem uma solução completa de informática.

Já as empresas ou profissionais autônomos que desenvolvem em Linux ganham dinheiro escrevendo livros sobre seus projetos, vendendo suporte e consultoria —melhorias no software, correção de bugs—, dando aulas e demonstrando habilidades que lhe dêem chances de emprego em outras áreas.

Além disso, já existem grandes empresas que contratam profissionais para trabalhar com Linux. Entre elas estão IBM, Sun, HP, Compaq, Red Hat e, no Brasil, temos a Conectiva.

Criar software de código aberto é como ser um pintor amador. Você não procura emprego, mas também não tranca suas pinturas no armário. Você quer que outras pessoas vejam, apreciem e admirem seu trabalho. Pintores mais experientes podem dar palpites, dizer como melhorar sua técnica. Você também pode concorrer a prêmios e concursos. E enquanto muitos pintores amadores tenham outra profissão para sobreviver, é possível admitir que muitos deles são tão bons ou até melhores que os "profissionais".

Folha Online - A infinidade de distribuições de Linux não prejudica a imagem do sistema para o usuário final?
Hall -
Não. Ter dezenas de distribuições é na verdade um benefício para o Linux. Isso dá mais alternativa de escolha, necessidades de diferentes clientes podem ser atendidas dessa forma.

Folha Online - O projeto "Linux Standard Base" pretende unificar algumas características do Linux. O que muda para o usuário?
Hall -
Essa iniciativa, que costumo chamar de "a mais importante para o Linux", é uma tentativa de padronizar as interfaces binárias utilizadas pela maioria dos programas. Isso permitirá que programas desenvolvidos para uma distribuição funcionem em outra sem problemas de compatibilidade.

Folha Online - Qual a importância do Brasil na comunidade Linux?
Hall -
A integração entre a comunidade de software livre e o governo tem sido bem sucedida no Brasil e particularmente no Rio Grande do Sul, especialmente na área educacional. Se o governo —que supostamente quer atender os interesses do povo— levanta e diz "código aberto é bom", temos um bom sinal. Ainda mais com a força do interesse corporativo que roda pelo mundo atualmente.

Folha Online - Quais são as perspectivas do Linux em países em desenvolvimento como o Brasil? E nos países desenvolvidos?
Hall -
O Linux e os programas de código aberto darão a chance para que economias emergentes como a do Brasil possam participar mais ativamente da revolução da informática. Como essa revolução é controlada por Redmond [cidade em que fica a sede da Microsoft, em Washington, nos EUA], países como Brasil, Reino Unido, Alemanha e outros serão sempre considerados como passageiros de classe econômica. O código aberto equilibra o jogo novamente. Dá oportunidades para todos, ainda mais com o mercado global que a internet formou.

Folha Online - Muitos usuários que migram do Windows para o Linux reclamam da falta de compatibilidade de alguns itens de hardware. Isso é uma falha do Linux?
Hall -
Certamente há menos drivers para Linux do que para o Windows 98, mas há mais drivers para Linux do que para Windows NT, por exemplo. Todo mundo agora diz que drivers de periféricos funcionam com o Windows XP, mas, na verdade, eles funcionam por emulação [o Windows XP "finge" ser versões mais antigas, o que pode prejudicar o desempenho] e não para o XP. No caso do Linux, há mais uma vantagem: os drivers são oferecidos com seus códigos-fonte, o que ajuda a manter o dispositivo compatível.

Existem sim alguns fabricantes de hardware que não criam drivers para Linux e também não abrem suas especificações, para que a comunidade Linux crie drivers para eles. Felizmente, boa parte dessas empresas descobriram que a comunidade Linux compra hardware e começaram a produzir drivers para que seus produtos funcionem com Linux.

Folha Online - Há quem pense duas vezes antes de migrar para o Linux por causa da falta de software...
Hall -
É claro que o Windows é o sistema com o maior número de aplicações. Mas a maioria delas é especializada, e muitas são redundantes. Quantos programas diferentes de mapas o mercado realmente precisa? Quantos programas para desenhar uma casa? Quantos programas as pessoas realmente usam em casa e quais são eles? Essas são as perguntas que devemos perguntar.

Além disso, há muitos aplicativos de código aberto com possibilidade de expansão. No site SourceForge (www.sourceforge.net), há mais de 40 mil idéias de desenvolvedores. Se um consultor Linux utilizar uma dessas idéias para construir uma solução para um cliente, pode chegar a uma solução mais adequada e barata do que um programa de código-fonte proprietário.

Folha Online - Para muitos, o Linux é bem mais que um sistema operacional, é quase uma filosofia. Os linuxistas são fanáticos?
Hall -
Acho que qualquer um que passe seu tempo livre estudando e trabalhando num determinado projeto acaba se tornando um pouco "fanático". Mas não acredito que quem trabalha com Linux seja mais fanático que os ambientalistas ou quem luta pela paz mundial. E há muitas pessoas —inclusive eu— que não pensam em si mesmas, não se consideram fanáticas... apenas "iluminadas".

Folha Online - O Linux acabou se tornando a bandeira de um movimento maior, o do software livre. Por que isso aconteceu? Você acha que partidários de outros sistemas sentem-se passados para trás?
Hall -
Eu realmente não sei porque o Linux se tornou a bandeira do movimento do software livre. Provavelmente foi a combinação da disponibilidade gratuita na internet, da queda nos preços do hardware —o que levou muitas pessoas a terem um segundo PC e pensarem em outros sistemas operacionais— e de sua criação ter sido iniciada fora dos Estados Unidos.

Partidários do FreeBSD se sentiram ameaçados no início. Depois alguns perceberam que o Linux começou a ganhar tanto reconhecimento que até ajudaram a comunidade pinguim. Atualmente todos se ajudam.

Folha Online - Quais programas você mais usa no Linux?
Hall -
Uso e-mail com o Exmh, pacotes de escritório de diferentes tipos, como o Star Office, o Open Office e o Applixware, ferramentas de manipulação de imagens como o Gimp e o XV e também os navegadores Mozilla e Netscape.

Folha Online - Diga quais são suas impressões sobre o Windows.
Hall -
Acho que o Windows era um bom sistema operacional quando o 286 era o hardware mais utilizado, mas ele parou de utilizar todo o potencial da máquina depois do lançamento do 386. A Microsoft também poderia ter gasto alguns de seus bilhões de dólares em melhor controle de qualidade, engenharia e suporte técnico.

Folha Online - Você considera a Microsoft um monopólio?
Hall -
Até onde vão as leis dos Estados Unidos, a Microsoft tem um monopólio no mercado de sistemas operacionais. Esse é inclusive o resultado do julgamento, não mais uma disputa. O que está em questão agora é o quanto a Microsoft prejudicou outras empresas e a solução para que isso não aconteça mais.

Isso só aconteceu porque a Microsoft conduziu o mercado de computadores pessoais. Empresas maiores como IBM, HP e Sun simplesmente ignoram a idéia de produzir um sistema operacional para esse mercado. Quando viram, era tarde demais. A empresa foi muito inteligente nessa estratégia, e dou o braço a torcer por essa visão.

Mas então, a Microsoft utilizou essa posição para desenvolver e vender o Office e outros. Perceba que não é ilegal ter monopólios dentro dos Estados Unidos. Há vários deles no país, inclusive. O que não é permitido: usar seu monopólio em um mercado para ganhar espaço em outro. Foi isso que a Microsoft fez.

Folha Online - Os nove Estados que ainda processam a Microsoft nos EUA propõem como punição definitiva a criação de um Windows enxuto, sem acessórios como o Internet Explorer e o Media Player. Você acredita que essa seria a solução para o caso?
Hall -
Não. Primeiro, a questão básica desse caso era se o navegador de internet era ou não era parte do sistema operacional. Nesse ponto, eu tenho que concordar com a Microsoft. Eu considero o navegador como um componente do sistema operacional. Mas eu discordo da Microsoft nos outros pontos, como integrar ferramentas multimídia ao sistema operacional. Acredito que haja outras formas de evitar o monopólio, até mesmo com a divisão da companhia.

Folha Online - Há quem diga —mesmo na AOL e na Sun Microsystems— que a estratégia .NET da Microsoft, que pretende integrar serviços da internet com a computação pessoal, trará o monopólio da empresa também para a web. Você concorda?
Hall -
Sim. A Microsoft continua utilizando seu nome e seu poder para estar cada vez mais presente em nossas vidas. Nos Estados Unidos, a Microsoft detém uma grande rede de TV, a MSNBC, além de bancos e até dicionários. Agora, com o tal do "Passport" da estratégia .NET, eles querem controlar sua autenticação e seu acesso á internet. Isso deve ser impedido.

Folha Online - Dá para comparar Bill Gates e Linus Torvalds? Eles têm algo em comum?
Hall -
Eu não conheço bem o sr. Gates, então vou confiar naquilo que, até hoje, ouvi pela mídia.

Os dois são teimosos, embora eu já tenha ouvido o Linus dizer uma ou duas vezes: "Você está certo". Nunca ouvi o sr. Gates pedir desculpas a ninguém.

Eles têm casas grandes. Os dois são casados e têm filhos. Linus tem três adoráveis filhas, e passa bastante tempo com elas.

Ambos têm bons carros. Já ouvi falar que o sr. Gates foi parado várias vezes por policiais rodoviários. Linus, pelo que sei, dirige de forma segura.

Linus saiu da faculdade com um mestrado e um título honorário. O sr. Gates largou sua faculdade em Harvard.

Linus viveu em dois países e experimentou a cultura dos dois. O sr. Gates cresceu e ainda vive em Seattle.

Enquanto o sr. Gates administrava a Microsoft, violou leis de monopólio dos Estados Unidos. Linus, até onde sei, nunca praticou nenhum ato ilegal em sua vida.

Linus desenvolve o Linux porque ele gosta de fazer isso. Pergunte, agora, ao sr. Gates por que ele ainda é diretor executivo... ops! arquiteto de software da Microsoft.

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