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HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO

Sabe da última do bruxo mais famoso do mundo? Não? Quem? Quando? Pois é, numa parceria inusitada com a livraria portuguesa Webboom, a Folha Online apresenta os dois primeiros capítulos do quarto livro da série Harry Potter, ainda inéditos no Brasil.

Por aqui só foram lançados os três primeiros livros da série, mas em Portugal, país-irmão e de língua muito parecida, já está sendo vendido o número quatro.

Para quem quer ter só uma provinha do que vem pela frente, role um pouquinho a tela do computador e boa diversão! As palavras sublinhadas trazem a "tradução" da versão portuguesa para a brasileira, clique se tiver dúvidas.



A CASA DOS RIDDLE - Capítulo 1

Os habitantes de Little Hangleton continuavam a chamar-lhe a casa dos Riddle, apesar de já terem passado muitos anos desde que a família Riddle ali vivera. Estava situada em cima de um monte, abarcando a povoação tinha algumas das janelas fechadas com tábuas, um telhado a que faltavam telhas e a hera a espalhar-se desordenadamente sobre o seu rosto. A casa, que fora em tempos uma bela mansão senhorial e sem dúvida o maior e mais imponente edifício daquelas paragens, estava agora húmida, triste e abandonada.
Todos os habitantes de Little Hangleton a consideravam arrepiante. Havia meio século que acontecera ali algo estranho e horrível, algo que os habitantes mais antigos gostavam de contar quando lhes faltava motivo de conversa. A história fora tão repetida e embelezada que já ninguém sabia ao certo qual era a verdade das coisas. Contudo, todas as versões começavam no mesmo lugar: cinquenta anos antes, ao nascer do sol, numa bonita manhã de Verão, quando a casa dos Riddle se apresentava ainda solene e bem cuidada e uma criada entrou na sala de visitas, dando de caras com os três Riddles mortos. A criada desceu a colina a correr até chegar à aldeia onde acordou o maior número possível de pessoas.
- Ali deitados de olhos muito abertos! Frios como gelo. Ainda com as roupas do jantar da véspera.
Mandou-se chamar a polícia e Little Hangleton em peso fervilhou com uma curiosidade chocante e uma excitação mal disfarçada. Ninguém se deu ao trabalho de fingir que tinha pena dos Riddles, pois eles eram profundamente implicantes.
Mr. e Mrs. Riddle eram ricos, snobes e mal-educados e o seu filho mais velho, Tom, conseguira ultrapassar os pais em antipatia. A única coisa que interessava aos habitantes da vila era a identidade do assassino. Certamente aquelas pessoas aparentemente saudáveis não tinham morrido assim, de morte natural, os três na mesma noite.
Nessa noite, O Enforcado, o bar da aldeia encheu-se de gente que discutia os crimes no meio de uma enorme algazarra. Todos eles deram o seu tempo por bem empregue quando a cozinheira dos Riddles fez uma entrada dramática, anunciando ao bar, subitamente silencioso, que um homem chamado Frank Bryce acabava de ser preso.
- Frank! - gritaram várias pessoas. - Impossível!
Frank Bryce era o jardineiro. Vivia sozinho numa pequena cabana decrépita nas propriedades dos Riddles. Frank voltara da guerra com uma perna que não dobrava e uma enorme aversão ao barulho e às multidões e ficara desde então a trabalhar para os Riddles.
Houve uma enorme agitação para oferecer bebidas à cozinheira e ouvir mais pormenores da história.
- Sempre o achei estranho - disse ela, depois do quarto xerez, aos habitantes da aldeia, seus ansiosos ouvintes, - pouco comunicativo. Tenho a certeza que se lhe oferecessem um copo, teriam de insistir cem vezes. Não se misturava nunca.
- Ora - disse uma mulher que também estava no bar. - Ele passou muito na guerra, gosta de levar uma vida calma. Isso não quer dizer que…
- E quem mais tinha a chave das traseiras? - rosnou a cozinheira. - Existe uma chave sobressalente pendurada na cabana do jardineiro desde que estou naquela casa. Ninguém arrombou a porta ontem à noite. Não houve nenhuma janela partida. A única coisa que ele teve de fazer foi esgueirar-se até à casa grande quando todos estavam a dormir… Os aldeões trocaram entre si olhares sorumbáticos.
- Eu sempre achei que ele tinha má cara, se querem que lhes diga - resmungou um homem lá ao fundo do bar.
- A guerra tornou-o esquisito - declarou o dono do estabelecimento.
- Eu sempre disse que não o queria como inimigo, não foi Dot? - perguntou uma mulher.
- Tem cá um mau feitio - disse Dot, acenando vivamente. - Lembro-me quando ele era pequeno… Na manhã seguinte não havia praticamente ninguém em Little Hangleton que duvidasse que Frank Bryce assassinara os Riddles.
Mas na cidade mais próxima, em Great Hangleton, na esquadra escura e suja da polícia, Frank não parava de repetir que estava inocente e que a única pessoa que vira perto da casa grande no dia da morte dos Riddles fora um adolescente, um rapazinho desconhecido, de tez pálida e cabelos escuros. Mas ninguém na aldeia tinha visto o rapaz e a polícia estava absolutamente convencida de que era invenção de Frank.
Foi então, quando as coisas estavam a ficar sérias para o jardineiro que chegou o relatório sobre os cadáveres que veio mudar tudo. A polícia nunca tivera nas mãos um relatório tão insólito. Uma equipa da médicos examinara os corpos e concluíra que nenhum dos Riddles tinha sido envenenado, apunhalado, baleado, estrangulado, espancado ou, tanto quando podiam afirmar, magoado. Na verdade, segundo afirmava o relatório num tom de inconfundível perplexidade, todos os Riddles pareciam estar de perfeita saúde, para além do facto de estarem mortos. Os médicos referiram, como que determinados a encontrar algo errado nos corpos, que os Riddles tinham um olhar de terror no rosto, mas, como a frustradíssima polícia afirmou, quem é que ouviu alguma vez falar de três pessoas que tenham morrido de medo ao mesmo tempo?
Não existindo provas de que os Riddles tivessem sido assassinados, a polícia viu-se obrigada a libertar Frank. A família Riddle foi enterrada no cemitério de Little Hangleton e as suas lápides foram, durante algum tempo, objecto de curiosidade. Para grande espanto de todos e por entre uma nuvem de suspeitas, Frank Bryce regressou à sua cabana na propriedade dos Riddles.
- Cá para mim foi ele que as matou e pouco me importa o que diz a polícia - declarou Dot n'O Enforcado. - E se ele tivesse alguma vergonha na cara ia para longe porque todos aqui sabem o que ele fez.
Mas Frank não se foi embora. Ficou a tratar do jardim da família que veio a seguir morar para a casa dos Riddles. E depois a outra e a outra porque ninguém ficava ali muito tempo. Talvez Frank fosse o culpado haver ali maus fluídos que, na ausência de habitantes, começaram a transformar a casa numa ruína.
O homem abastado que possuía actualmente a casa dos Riddles não vivia lá nem a utilizava para o que quer que fosse. Dizia-se na aldeia que a mantinha por causa dos impostos, embora ninguém percebesse lá muito bem o que isso significava. Contudo, o abastado dono da casa continuava a pagar a Frank para tratar do jardim. Frank estava quase a fazer setenta e sete anos, meio surdo, com a perna doente cada vez mais imprestável, mas ainda assim podiam vê-lo, nos dias bonitos, a regar os canteiros das flores, se bem que as ervas daninhas se contorcessem já acima dele.
Mas as ervas daninhas não eram a única coisa com que Frank se debatia. Os rapazes da aldeia adoravam ir atirar pedras às janelas da casa dos Riddles. Passavam com as bicicletas por cima dos relvados que Frank, a tanto custo, mantinha impecavelmente lisos e macios. Por uma os duas vezes entraram na antiga casa para o desafiar. Sabiam que o velho Frank era dedicado à casa e aos campos e gostavam de o ver coxear pelo jardim, ameaçando-os com o bordão e gritando-lhes na sua voz rouca. Por seu turno, Frank achava que os garotos o atormentavam porque, tal como os pais e os avós, o consideravam um assassino. Por isso, quando certa noite de Agosto acordou e viu algo muito estranho na velha casa, partiu do princípio que os rapazes tinham ido um pouco mais longe nas suas represálias.
Foi a perna doente que o acordou. Doía-lhe cada vez mais à medida que avançava na idade. Levantou-se e desceu as escadas a coxear até à cozinha para encher novamente a botija de água quente que lhe aliviava a rigidez da perna. Estava junto do lava-loiças, a encher a botija quando viu luzes nas janelas do andar de cima da casa dos Riddles. Frank pensou imediatamente que os rapazes tinham entrado lá outra vez e, a julgar pela intensidade da luz, deviam ter pegado fogo à casa.
Frank não tinha telefone e mesmo que tivesse, deixara de confiar na polícia desde que fora levado para os interrogatórios sobre a morte dos Riddles. Pousou subitamente a cafeteira, subiu as escadas o mais depressa que a sua perna doente lhe permitiu e, pouco depois, estava de novo na cozinha, todo vestido, retirando uma velha chave cheia de pó do suporte ao lado da porta. Pegou no bordão que estava encostado à parede e desapareceu na noite.
A porta principal da casa dos Riddles não apresentava sinais de ter sido forçada, nem as janelas. Frank coxeou até às traseiras, chegando a uma porta quase inteiramente oculta pela hera, meteu a velha chave na fechadura e abriu-a ruidosamente.
Entrou na cozinha cavernosa, onde não punha os pés havia muitos anos. Ainda assim, apesar de estar tudo às escuras, lembrava-se perfeitamente do lugar onde ficava a porta que dava para o hall. E avançou às apalpadelas, com o nariz cheio daquele cheiro de decadência, os ouvidos atentos a qualquer som de passos ou vozes que pudessem vir do andar de cima. Chegou ao hall, que era um pouco mais iluminado, graças às janelas com pinázios que ladeavam a porta principal e começou a subir as escadas, abençoando o pó que se acumulava na pedra e que abafava o som dos seus passos e do seu bordão.
No patamar, voltou à direita e viu, de imediato, onde se encontravam os intrusos: mesmo ao fundo do corredor estava uma porta entreaberta e uma luz tremeluzente brilhava pela fresta, projectando uma longa faixa dourada no chão escuro. Frank aproximou-se lentamente, agarrando com firmeza o bordão. A poucos metros da porta conseguiu vislumbrar um pedaço estreito da sala.
O fogo que então viu, ardia na lareira, facto que o surpreendeu. Parou e ouviu atentamente a voz de um homem que falava dentro da sala. Parecia tímido e receoso.
- Ainda há um pouco mais na garrafa, meu senhor, se ainda tiverdes fome.
- Mais tarde - disse uma segunda voz que pertencia também a um homem, mas que era estranhamente aguda e fria, como uma súbita rajada de vento gélido. Alguma coisa naquela voz fez os cabelos ralos do pescoço de Frank ficarem e pé. - Põe-me mais perto do lume Wormtail.
Frank aproximou o ouvido direito da porta para tentar ouvir melhor. Detectou o ruído de uma garrafa a ser pousada numa superfície dura e, em seguida, o pesado arrastar de uma cadeira. Frank viu de relance um homem baixinho, voltado de costas para a porta, a empurrar a cadeira. Usava um manto preto até aos pés e tinha uma pelada na nuca. Por fim, saiu do seu ângulo de visão.
- Onde está Nagini? - perguntou a voz fria.
- Eu… não sei, meu senhor - respondeu nervosamente a primeira voz. - Foi explorar a casa, penso eu…
- Tens de a mungir antes de nos irmos deitar. Wormtail - disse a segunda voz. - Vou precisar de me alimentar durante a noite. O dia foi extremamente cansativo.
Com a testa franzida, Frank aproximou um pouco mais da porta o seu melhor ouvido, escutando atentamente. Houve uma pausa e, em seguida, o homem chamado Wormtail falou de novo.
- Meu senhor, permitis que vos pergunte quanto tempo vamos ficar aqui?
- Uma semana - disse a voz fria. - Talvez mais. O lugar é relativamente confortável e o plano não pode ainda ser posto em prática. Seria disparate fazer alguma coisa antes do final da Taça Mundial de Quidditch.
Frank enfiou um dedo deformado dentro do ouvido e andou com ele à volta. Certamente fora uma enorme camada de cera que o fizera ouvir a palavra Quidditch, que não era palavra nenhuma.
- A… Taça Mundial de Quidditch, meu senhor? - disse Wormtail.
Frank mergulhou o dedo no ouvido, desta vez com mais vigor.
- Perdão, mas não estou a compreender, para quê esperar até ao fim da Taça de Quidditch?
- Porque neste preciso momento os feiticeiros estão a chegar ao país, vindos de todos os cantos do mundo, meu parvo. E todos os metediços do Ministério da Magia vão estar de serviço, à procura de sinais de actividades duvidosas, examinando e voltando a examinar a identidade de toda a gente. Vão andar obcecados com a segurança, não vão os Muggles desconfiar de alguma coisa. Por isso, nós esperamos.
Frank desistiu de tentar limpar o ouvido. Escutara nitidamente as palavras Ministério da Magia, feiticeiros e Muggles.
Era óbvio que aquelas expressões eram absolutamente secretas e Frank só conhecia dois tipos de gente que falava em código: Os espiões e os criminosos. Agarrou-se com mais força ao bordão e ouviu ainda mais de perto.
- Sua Senhoria está então determinada? - perguntou calmamente Wormtail.
- Claro que estou determinado, Wormtail. - Havia agora um leve tom de ameaça na sua voz gélida.
Seguiu-se uma breve pausa. Em seguida Wormtail quebrou o silêncio. As palavras tropeçaram apressadamente umas nas outras como se ele se obrigasse a falar antes de perder a coragem.
- Podia passar-se sem Harry Potter, meu senhor.
Nova pausa, mais prolongada e a seguir:
- Sem Harry Potter? - soprou baixinho a segunda voz. - Estou a ver…
- Meu senhor, não digo isto por me preocupar com o rapaz - explicou Wormtail na sua voz guinchada. - Não tenho nada a ver com ele, absolutamente nada. É só porque se usássemos outro feiticeiro ou feiticeira, um qualquer, as coisas poderiam ser feitas muito mais depressa. Se me fosse permitido abandonar-vos durante algum tempo, sabeis que consigo disfarçar-me na perfeição, poderia voltar aqui dentro de dois dias com uma pessoa adequada.
- Eu podia usar outro feiticeiro - disse baixinho a segunda voz. - É bem verdade…
- Meu senhor, é o melhor - disse Wormtail num tom francamente aliviado. - Pôr as mãos no Harry Potter ia ser tão difícil, ele está tão protegido…
- E ofereces-te, portanto, para ir em busca de um substituto? Isso faz-me pensar… o encargo de tratar de mim não se terá tornado fastidioso, Wormtail? Não será essa sugestão de desistir do plano apenas uma forma de me abandonares? - Meu senhor! Eu não desejo deixar-vos, de forma alguma. - Não mintas! - sibilou a segunda voz. - Eu percebo sempre, Wormtail. Tu lamentas profundamente ter voltado para o meu lado. Eu repugno-te. Vejo muito bem como tremes quando olhas para mim, sinto o teu suor quando me tocas…
- Não! A minha devoção a vossa senhoria…
- A tua devoção não passa de cobardia. Não estarias aqui se tivesses para onde ir. Como vou sobreviver sem ti, precisando de ser alimentado várias vezes ao dia? Quem mungiria Nagini?
- Mas pareceis muito mais forte, meu senhor…
- Mentiroso - soprou a segunda voz. - Não estou nada mais forte e bastariam alguns dias para me despojar da pouca saúde que recuperei com os teus grosseiros cuidados. Silêncio!
Wormtail, que tinha estado a gaguejar incoerentemente, calou-se de imediato. Durante alguns segundos, Frank ouviu apenas o crepitar do lume. Pouco depois, o segundo homem voltou a falar num sussurro que era quase um silvo.
- Tenho as minhas razões para querer usar o rapaz, como já te expliquei, e não vou usar mais ninguém. Esperei treze anos. Mais alguns meses não farão grande diferença. Quanto à segurança que o rodeia, acredito que o meu plano será eficaz. Só é preciso que tenhas um bocadinho de coragem, Wormtail. E será bom que consigas tê-la se não quiseres sentir toda a ira de Lord Voldemort.
- Meu senhor, tenho de falar! - exclamou Wormtail, agora com o pânico na voz. - Durante a nossa viagem não parei de pensar no plano. Meu senhor, o desaparecimento de Bertha Jorkins não vai passar despercebido durante muito tempo. E se continuarmos, se eu amaldiçoar…
- Se? - murmurou a primeira voz. - Se? Se agires de acordo com o plano Wormtail, o Ministério nunca saberá que desapareceu outra pessoa. Terás de actuar com calma e sem criar confusão. Bem gostava de poder ser eu a fazê-lo, mas nas condições actuais… Vá lá Wormtail, mais um obstáculo vencido e temos o caminho para Harry Potter aberto. Não te peço que faças nada sozinho. Nessa altura o meu servo fiel já terá regressado.
- Eu sou um servo fiel - assegurou Wormtail, sem o menor vestígio de mau humor na voz.
- Wormtail eu preciso de alguém com miolos, alguém cuja lealdade nunca vacilou. E tu, infelizmente, não possuis nenhum desses requisitos.
- Eu encontrei-vos, senhor - disse Wormtail, e havia agora na sua voz uma pontinha de aborrecimento. - Fui eu quem vos encontrou e fui eu quem vos trouxe Bertha Jorkins.
- Isso é verdade - disse o segundo homem com um tom de voz bem-disposto. - Um lampejo de génio que eu não julgava possível em ti, Wormtail. Contudo, verdade seja dita, nem te apercebeste da grande utilidade que ela poderia ter quando a trouxeste.
- Eu… pensei que ela poderia ser útil, meu senhor.
-Mentiroso - disse mais uma vez a primeira voz, na qual era agora mais perceptível a nota de divertimento cruel. - Contudo, não posso negar que a informação que nos deu foi valiosíssima. Sem ela não poderia ter engendrado o nosso plano e, por isso, terás a tua recompensa, Wormtail. Permitirei que executes uma tarefa essencial para mim. Uma tarefa por cuja execução muitos dos meus seguidores estariam prontos a dar a sua mão direita.
- A… sério, meu senhor? O quê? - A voz de Wormtail parecia de novo aterrorizada.
- Ah, Wormtail, não queres que estrague a surpresa, pois não? A tua parte fica mesmo para o fim… mas asseguro-te que vais ter a honra de poder ser tão útil quanto Bertha Jorkins.
- Vós…vós… - A voz de Wormtail pareceu subitamente rouca, como se a boca tivesse ficado muito seca. - Vós ides matar-me também?
- Wormtail, Wormtail - repetiu a voz fria de forma insinuante. - Porque quereria eu matar-te? Matei Bertha porque fui obrigado. Ela não servia para nada. Depois de a ter interrogado, era totalmente inútil. Além disso, iam ser-lhe feitas muitas perguntas embaraçosas se ela voltasse ao Ministério a contar que te encontrara durante as suas férias. Os feiticeiros, que supostamente estão mortos, fariam melhor em não dar de caras com as bruxas do Ministério da Magia numa estalagem de beira de estrada.
Wormtail murmurou qualquer coisa tão baixinho que Frank não conseguiu ouvir, mas que fez com que o segundo homem se risse. Um riso totalmente isento de alegria, tão frio como o seu discurso. - Podíamos ter-lhe modificado a memória? Mas os encantamentos de memória podem ser quebrados por um feiticeiro poderoso, como ficou provado quando eu a interroguei. Teria sido um insulto à memória dela não usar a informação que lhe extraí, Wormtail.
No corredor, Frank tomou subitamente consciência de que a mão que agarrava o bordão estava escorregadia do suor. O homem da voz fria matara uma mulher e falava disso sem a mais leve ponta de remorso. Com divertimento. Era um homem perigoso, um louco. E tencionava matar mais pessoas. O tal rapaz, Harry Potter, quem quer que ele fosse, estava em perigo.
Frank sabia o que tinha de fazer. Se alguma vez sentira a necessidade absoluta de se dirigir à polícia, era agora. Ia sair sorrateiramente daquela casa e dirigir-se à cabina telefónica da aldeia… mas a voz fria tornara a falar e Frank ficou onde estava, apavorado, ouvindo com toda a atenção.
- Mais um feitiço… o meu fiel servo em Hogwarts… Harry Potter é meu, Wormtail. Está decidido. Não há mais conversas a este respeito. Mas espera, parece que oiço Nagini…
E a voz do segundo homem modificou-se. Começou a fazer uns ruídos que Frank nunca ouvira antes. Assobiava e bufava sem respirar. Frank pensou que ele estava a ter um ataque ou uma apoplexia.
Foi então que Frank ouviu os movimentos atrás de si, no corredor escuro, e ficou paralisado pelo medo.
Alguma coisa se movia ao longo do chão do corredor e só quando se aproximou da réstia iluminada é que Frank percebeu, com um arrepio de verdadeiro horror, que se tratava de uma gigantesca serpente, que tinha pelo menos quatro metros de comprimento. Transfigurado, Frank ficou a olhar para ela, enquanto o seu corpo sinuoso abriu um carreiro enorme e curvo no pó do chão, aproximando-se mais e mais. Que fazer? A única maneira de escapar era entrando na sala onde estavam sentados dois homens a engendrar um crime, mas, se não o fizesse, a serpente matá-lo-ia pela certa.
Contudo, antes de ter tido tempo de tomar qualquer decisão, a serpente chegara junto dele e, milagrosamente, seguira em frente. Respondia ao assobio e aos silvos da voz fria do outro lado da porta e, em poucos segundos, a ponta da sua cauda, com motivos de diamante, desaparecia pela frincha entreaberta.
A testa de Frank estava coberta de suor e a mão que segurava o bordão tremia. Dentro da sala, a voz fria continuava o seu assobio e Frank foi assaltado por uma ideia impossível e bizarra… Aquele homem conseguia falar com serpentes.
O homem não compreendia nada do que estava a passar-se. O que mais desejava naquele momento era poder voltar à sua cama com a sua botija de água quente. O problema é que as pernas pareciam não querer mexer-se. Enquanto ali ficou, a tremer, tentando recuperar o domínio do seu corpo, a voz fria voltou novamente a falar inglês.
- A Nagini tem notícias interessantes, Wormtail - disse.
- A sério, meu senhor? - respondeu Wormtail.
- Sim, sim - tornou a voz. - Segundo ela um velho Muggle está parado mesmo atrás da porta a ouvir tudo o que estamos a dizer.
Frank não teve tempo de se esconder. Ouviu passos e, em seguida, a porta da sala foi aberta de par em par.
Um homenzinho quase calvo, de cabelos ralos e cinzentos, nariz pontiagudo e uns olhos pequeninos e aquosos, estava na sua frente, com um misto de medo e alarme no rosto.
- Convida-o a entrar, Wormtail. Onde estão os teus modos?
A voz fria vinha do antigo cadeirão que se encontrava em frente do fogo, mas Frank não via o orador. A serpente, essa, estava enroscada no tapete putrefacto, como o sinistro travesti de um cachorro de estimação.
Wormtail fez um sinal a Frank para que entrasse na sala. Apesar de profundamente abalado, o jardineiro agarrou-se com força ao bordão e abandonou o limiar, coxeando.
O fogo era a única fonte de luz na divisão. Lançava sombras que pareciam aranhas gigantescas sobre as paredes. Frank olhou para as costas da cadeira de braços. O homem que lá estava devia ser ainda mais pequeno do que o seu servo, pois Frank não conseguia ver-lhe a nuca.
- Ouviste tudo, Muggle? - disse a voz fria.
- O que foi que me chamou? - perguntou Frank em tom de desafio, visto que agora que estava lá dentro, agora que chegara o momento de agir, sentia-se com mais coragem. Fora sempre assim durante a guerra.
- Chamei-te Muggle - disse calmamente a voz. - Significa que não és um feiticeiro.
- Não sei o que quer dizer com feiticeiro - respondeu Frank com a voz cada vez mais segura. - Só sei que ouvi o suficiente esta noite para interessar a polícia. O senhor matou uma pessoa e está a planear matar outra. E deixe que lhe diga - acrescentou com uma súbita inspiração - a minha mulher sabe que eu estou aqui em cima e se eu não voltar…
- Tu não tens mulher - disse a voz muito calmamente. - Ninguém sabe que estás aqui. Não disseste a ninguém que aqui vinhas. Não mintas a Lord Voldemort, Muggle, porque ele sabe, ele sabe sempre… - Ah é? - disse Frank asperamente. - Lorde, é isso? Pois olhe, não me parece que tenha lá muito boas maneiras, My Lord. Dê uma volta e enfrente-me como um homem. Porque está de costas para mim?
- Mas eu não sou um homem, Muggle - respondeu a voz fria, apenas audível sobre o crepitar da madeira. - Contudo, sou muito mais do que um homem… porque não? Eu enfrento-te, sim… Wormtail, vem voltar a minha cadeira.
O criado soltou um gemido.
- Ouviste, Wormtail.
Lentamente, com o rosto contraído, como se a última coisa que quisesse fazer na vida fosse aproximar-se do seu amo e do tapete onde se encontrava a serpente, o homenzinho deu alguns passos e começou a virar a cadeira. A serpente ergueu a cabeça feia e triangular e sibilou levemente quando os pés da cadeira agarraram o seu tapete.
Em seguida, a cadeira estava de frente para Frank e ele podia finalmente ver o que lá estava sentado. O bordão caiu no solo com grande estrondo. Frank abriu a boca e soltou um grito. Gritou tão alto que nem ouviu as palavras que a coisa da cadeira disse enquanto erguia a varinha. Houve um clarão de luz verde, um ruído brusco e Frank Bryce não resistiu. Quando o seu corpo tocou no chão já estava morto.
A duzentas milhas de distância, o rapaz de nome Harry Potter acordou sobressaltado.

Leia o segundo capítulo



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