Livraria da Folha

 
01/08/2010 - 13h37

Saiba mais sobre o Palmeiras e Corinthians de 1945 que ajudou o PCB

da Livraria da Folha

Logo na introdução de "Palmeiras x Corinthians 1945" (Editora Unesp, 2010), o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) consegue definir com clareza o sentimento comum à grande parte dos torcedores perante a maior rivalidade do futebol paulista.

"Esta crônica é uma homenagem aos dois grandes clubes de minha infância e adolescência: Palmeiras e Corinthians. O Palmeiras, clube do coração, escolha nascida da simpatia natural pelos mais fracos, quando o time do Parque Antártica desafiava vez por outra o poderoso esquadrão do Santos dos anos 1960, de Pelé e companhia. O Corinthians, eterno rival, aquele que dá sentido à existência do outro, e que por isso mesmo aprendemos a respeitar e, no fundo, a admirar", ele escreve.

Reprodução
Deputado narra bastidores políticos do clássico realizado em 1945
Deputado narra bastidores políticos do clássico realizado em 1945

A realidade é que um não vive sem o outro. Qual graça teria ser campeão sem ter o prazer de vencer o principal rival?

Em 1945, no entanto, mais do que essa necessidade de conviver, os times de uniram. Pelo menos fora de campo. No dia 13 de outubro de 1945, Palmeiras e Corinthians protagonizaram um jogo beneficente para o MUT (Movimento Unificador dos Trabalhadores). Organizada próxima às eleições gerais de dezembro, a partida teve como objetivo arrecadar fundos para a campanha do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Em "Palmeiras x Corinthians 1945", o deputado e jornalista relata o conturbado cenário político do ano em questão e aborda os reflexos da situação no esporte. O enfoque principal do livro reside nos lances estratégicos que aconteciam fora de campo, nos bastidores políticos do amistoso.

É claro que, em se tratando do derby paulista, as emoções que aconteceram dentro das quatro linhas não poderiam ficar de fora. O Palmeiras venceu a partida por 3 a 1 e, como em todo clássico, o clima tenso e os nervos a flor da pele marcaram presença. Para se ter uma ideia, a "Gazeta Esportiva", na época, definiu o primeiro tempo do jogo como "45 minutos de hostilidades". Confira no trecho reproduzido abaixo todos os detalhes do embate.

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O cotejo

Três e meia da tarde. Os jogadores entram em campo. Pelo Palmeiras, correm pelo gramado Clodô, Caieira e Junqueira, Zezé Procópio, Túlio e Waldemar Fiúme, Oswaldinho, Gonzalez, Lima IV, Lima e Canhotinho. A unida diferença da escalação publicada pelos jornais é a substituição de Villadoniga por lima. Os alvinegros ingressam no campo formando com Bino, Domingos e Rubens, Palmer, Hélio e Aleixo, Cláudio, Milani, Servílio, Eduardinho e Ruy. Eduardinho também é novidade na escalação final, que previa a entrada de Hércules. João Etzel, o árbitro, apita o início da partida e a bola começa a rolar.

Cinco minutos de jogo. A multidão acompanha fascinada cada movimento dos jogadores. Os goleiros Clodô e Bino já tinham salvado suas redes por três vezes. O time do estreante Oswaldo Brandão mostra mais disposição em campo, na tentativa de alcançar a primeira vitória contra o tradicional adversário no ano. A equipe do Corinthians administra a pressão e se segura na defesa.

O estádio lotado vibra com a disputa do clássico e pelo ambiente de liberdade daquele ano de 1945, que leva ao Pacaembu torcedores, operários, jornalistas, sindicalistas e comunistas, quase em confraternização pela chegada da democracia e das esperanças por ela criadas. O jogo preliminar foi vencido por 3 x 2 pelo quadro do Fiação e Tecelagem contra o time da Construção Civil, e o público prestara de pé a homenagem de um minuto de silêncio em memória do craque Hermman Friese.

Aos 16 minutos da partida, o atacante Oswaldinho é duramente atingido pelo médio Rubens, substituto do veterano Begliomini, que procura mostrar serviço entre os titulares. A partir deste momento o jogo ameaça descambar para uma "tourada", conforme registrou no dia seguinte o jornal O Estado de S.Paulo. O palmeirense Caieira e o corintiano Servílio protagonizam uma violenta disputa, só interrompida após intervenção do árbitro João Etzel. Na súmula da partida, Etzel faz apenas um registro em relação à partida: citou Servílio e Caieira como "praticantes de jogo violento proposital". A observação é citada na terça-feira depois do jogo, em nota na coluna Em Duas Palavras, do Diário Popular.

Apesar de criar várias chances no ataque, o Palmeiras não consegue abrir o placar. Fiel ao seu estilo, todo de preto, Bino, o "Gato Selvagem", faz milagres na meta corintiana. O goleiro fez pelo menos nova importantes defesas no primeiro tempo. Do outro lado do campo, Clodô, que substituiu Oberdan, é trocado e Brandão coloca Tarzan em seu lugar.

Aos 31 minutos, Hélio deixa a intermediária e lança a bola para o ponta-esquerda Ruy, que leva vantagem sobre Zezé Procópio. Agora Servílio controla a jogada e avança. Tarzan abandona o gol para fazer frente ao avante corintiano. Servílio mantém a calma e espera por Tarzan e, mesmo com Caieira em seus calcanhares, toca a bola para as redes.

Corinthians 1 x 0 Palmeiras

A Gazeta Esportiva resumiu assim o primeiro tempo:

Já dissemos, mais ou menos, o que foi a primeira fase. Jogou com superior espírito de luta o alviverde, conseguindo nesses primeiros 45 minutos de hostilidades, franca superioridade, deixando várias oportunidades de ouro para marcar, enquanto que o Corinthians, que muito menos produziu, ofensivamente, aproveitou uma das poucas ocasiões que se lhe deparou para balançar as redes.

A torcida palmeirense, aflita, acompanha com expectativa o recomeço do jogo no segundo tempo. O time alviverde redobra a pressão sobre o adversário. O "Gato Selvagem" é o termômetro da partida. Bino realiza catorze defesas nesta etapa do jogo, enquanto Tarzan realiza apenas seis. A zaga corintiana desdobra-se ante o assédio do ataque palmeirense, apoiado pela grande atuação do médio Túlio. Cláudio, pelo Corinthians, e Lima IV, pelo Palmeiras sobressaem no ataque. Hércules perde "excelente oportunidade de marcar, por falta de corrida, quando seu quadro vencia por 1 x 0", comenta no dia seguinte a Gazeta Esportiva. O "Dinamitador", como ficou conhecido, estava afastado por contusão desde janeiro e não havia recuperado suas melhores condições físicas.

O tempo passa no estádio do Pacaembu e a pressão palmeirense é cada vez mais intensa. Os corintianos procuram garantir o resultado e se plantam na defesa. O ataque palmeirense aumenta a dança na área corintiana. A saída de Domingos da Guia ainda no primeiro tempo rompeu o equilíbrio da equipe e os jogadores corintianos poucos se entendem em campo.

Aos 27 minutos, Lima IV e Gonzalez avançam trocando passes curtos pela direita. O meia passa para a extrema e Lima IV vai para o meio. Finalmente Gonzáles lança a bola na área, Lima IV arma o chute e fura, a defesa corintiana se desequilibra e a bola fica com Waldemar Fiúme. O "Pai da Bola", com o estilo clássico de sempre, arma o chute da meia-lua para marcar o gol do empate.

Corinthians 1 x 1 Palmeiras

A torcida alviverde ainda comemora o gol do empate quando Lima IV domina a bola, avança contra a defesa corintiana e chuta forte contra a meta de Bino. O "Gato Selvagem" faz uma difícil defesa, mas a bola sobra para Lima marcar contra o arco alvinegro desguarnecido. Eram decorridos 29 minutos do segundo tempo e muitos torcedores palmeirenses nem viram o lance, pois ainda confraternizavam pelo gol anterior.

Palmeiras 2 x 1 Corinthians

Aos 30 minutos, Gonzalez lança mais uma vez a bola sobre a área e mais uma vez Lima IV erra o chute. A pelota encontra o uruguaio Villadoniga e "El Architeto" desenha a jogada, disparando um tiro indefensável contra a meta do guardião corintiano, que nada pode fazer.

Palmeiras 3 x 1 Corinthians

A superioridade da equipe alviverde no plano tático e no placar estabelece um novo equilíbrio na partida até o apito final de João Etzel.

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"Palmeiras x Corinthians 1945"
Autor: Aldo Rebelo
Editora: Unesp
Páginas: 120
Quanto: R$ 34,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

 
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