Livraria da Folha

 
02/09/2010 - 21h27

Romance policial preenche de ficção lacunas misteriosas na vida do escritor Allan Poe

ARIADNE ARAÚJO
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Livro narra trama de sexo, dinheiro, assassinato e mentiras
Livro narra trama de sexo, dinheiro, assassinato e mentiras

A infância de Edgar Allan Poe é cenário e inspiração para uma história de crimes e suspense na conservadora Inglaterra do século 19. Na trama, o escritor Andrew Taylor, coloca o célebre escritor na pele dele mesmo, no tempo em que viveu como aluno interno em uma conceituada escola londrina. O título e os olhos que ilustram a capa de "O Menino Americano" (Suma de Letras) fazem alusão a Poe que, palavras tiradas da boca de um personagem, "como o pino de uma dobradiça - mal se podia vê-lo, ainda assim, era o ponto de rotação de toda a questão".

Para escrever seu romance policial, Andrew Taylor pesquisou a fundo obra e vida de Allan Poe e preencheu com sua ficção as lacunas que enchem de mistério a biografias do escritor americano. Mas, embora tudo gire em torno da presença do garoto americano, quem desfia toda a história, narrando na primeira pessoa, é o personagem principal, Thomas Shield, professor assistente da rígida Manor House School, onde a palmatória e surras eram corretivos recomendados para endireitar garotos mimados, como o teimoso Poe.

O romântico professor se emaranha tanto nas teias misteriosas do assassinato brutal do pai de um aluno, o banqueiro inescrupuloso Henry Frant, quanto nas artes de sedução de duas mulheres da história, a viúva Sophia Frant e sua prima Flora Carswell. Nosso herói se esgueira pelas ruas de Londres, investiga, indaga, segue pistas e, claro, atrai para si grandes perigos. Mas, de uma ou outra forma, neste labirinto em que caminha em busca da verdade sobre o crime, o professor, que cita Ovídio de cor, volta sempre ao ponto central: os Poe.

Pois, nessa história de Andrew Taylor, há mais de um Poe na jogada. O menino americano, mas também seu pai biológico - sabe-se, após a morte da mãe e o sumiço do pai, o pequeno Edgar foi adotado por um casal rico e sem filhos, os Allan. Assim, aproveitando-se também da névoa que cobre o paradeiro do pai biológico do escritor, a trama de Taylor mistura ainda mais o que é real e ficção. Numa jogada criativa, ele faz do seu romance uma homenagem à vida e à obra do homem que ficou conhecido como o fundador da ficção policial.

O papagaio que fala francês no romance policial, o mesmo da infância de Poe na casa dos Allan, desembala sua sinistra mensagem: "ayez peur, ayez peur" - na tradução literal, "temei, temei". Taylor lembra que o escritor disse ter pensado primeiro em um papagaio no momento de escrever o célebre poema O Corvo. O papagaio falante, então, guia, o personagem ao desfecho final, tal qual o sinistro corvo do poema de Poe guia o amante pesaroso, em um "diálogo" infernal, ao repetir sem cessar o implacável "nunca mais, nunca mais".

 
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