Livraria da Folha

 
26/09/2010 - 17h14

Assis Valente foi tirado dos pais e criado por outra família como empregado

BENEDITO TEIXEIRA
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Com 60 páginas, livro em capa dura traz tudo sobre o compositor
Com 60 páginas, livro em capa dura traz tudo sobre o compositor

José de Assis Valente, segundo sua certidão de casamento, nasceu na cidade baiana de Pateoba, em 19 de março de 1908. No entanto, o próprio afirmou em vida que Santo Amaro da Purificação é sua cidade natal. Teve uma infância difícil, agravada com o fato de ter sido tirado dos pais. Foi criado por uma família na cidade de Alagoinhas, que o tratava como empregado, até se mudar para Salvador. Lá fez cursos de desenho e se especializou na fabricação de próteses dentárias, profissão que manteve até o fim da vida.

A primeira composição foi feita em 1932, o samba "Tem Francesa no Morro", logo gravado pela cantora Aracy Cortes. Mas foi na voz de Carmen Miranda que suas canções ficaram conhecidas. Depois de ver o show da cantora, Assis Valente não sossegou enquanto não se aproximou da estrela. Especialmente para ela, compôs, ainda em 1932, o samba "Good Bye, Boy", que virou sucesso.

A década de 30 foi marcada por intensa produção musical. Carmen Miranda gravou nesse período "Etc", "Tão Grande, Tão Bobo", "Lulu", "Sapateia no Chão", "Minha Embaixada Chegou", "Recadinho de Papai Noel", "Por Causa de Você, Ioiô", entre outras. Foram ao todo 25 músicas na voz de Carmen.

Aurora Miranda, Moreira da Silva, Francisco Alves, Bando da Lua, Elza Cabral, Irmãs Pagãs, Almirante, Mário Reis, Sônia Carvalho, Orlando Silva e Carlos Galhardo também incluíram Valente em seus repertórios. Galhardo foi o primeiro a gravar "Boas Festas", música natalina popularizada no Brasil pelos versos "Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel".

Em 1940, o compositor deixou para a música brasileira aquela que viria ser uma de suas obras mais importantes, "Brasil Pandeiro", e sua marca definitiva no estilo samba-exaltação, criado por Ary Barroso para enaltecer as belezas do país e o valor do povo brasileiro.

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Carmen Miranda, logo que voltou dos Estados Unidos, se negou a gravar a música composta especialmente pra ela. O grupo Anjos do Inferno se encarregou do feito, transformando-a em sucesso.

Em 1941, logo após o casamento com Nadili da Silva Santos, um fato que marcou a vida do compositor foi a tentativa de suicídio, se jogando do Corcovado. Conseguiu sobreviver. A experiência lhe rendeu o samba "Fez Bobagem".

Na década seguinte, sua obra começou a cair no esquecimento. Sua última composição, "Boneca de Pano", data de 1950, foi gravada pelo conjunto Quatro Ases e Um Coringa. Em 1956, a cantora Marlene tentou fazer um resgate de suas músicas com o disco "Marlene Apresenta Sucessos de Assis Valente".

Dois anos depois, com 50 anos, o compositor acabou com a própria vida tomando veneno. Ao todo, foram 150 composições. Entre elas, clássicos do cancioneiro brasileiro, como "Cai, Cai Balão" "Camisa Listrada" e "Boas Festas".

Cultura nacional
O auge da carreira de Assis Valente coincidiu com a época de ouro do rádio brasileiro, tendo no samba seu maior representante. A cantora Carmen Miranda, uma das mais famosas intérpretes da época, tratou de divulgar sua obra no rádio e nos discos.

Valente foi um dos compositores que mais retrataram em suas canções a brasilidade, aproveitando para fazer crônicas alegres, com críticas leves aos acontecimentos da época. Criticava a influência estrangeira na cultura nacional como, por exemplo, nos sambas "Good Bye Boy" e "Tem Francesa no Morro", nos quais se utiliza de expressões das duas línguas para fazer uma sátira.

Nessa época, o governo federal, comandado por Getúlio Vargas, decidiu investir na cultura nacional e, em contrapartida, iniciava o processo de agravamento da censura. Na década de 50, as músicas de Assis Valente já não eram mais gravadas, coincidindo com o declínio das gravações do samba tradicional. No seu lugar, a bossa-nova aparecia como representante da MPB no Brasil e exterior.

 
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