da Livraria da Folha
No início dos anos 1960, a estrutura do jornalismo convencional não conseguia mais comportar a efervescência dos Estados Unidos. Textos sustentados apenas em "o quê, quem, quando, onde, como e por quê" já não davam conta de retratar o que acontecia em meio à Guerra do Vietnã, ao movimento hippie e ao lirismo de todas as manifestações socioculturais que acordavam do moralismo da década de 1950.
Nessa época, surgiu um grupo de jornalistas disposto a ir além, a enxergar boas histórias onde ninguém antes havia procurado e a utilizar recursos literários para contá-las. Era o princípio do "new journalism", gênero que teve como arautos Gay Talese, Tom Wolfe, Truman Capote (1924-1984), Norman Mailer (1923-2007), Jimmy Breslin e Hunter S. Thompson (1937-2005), entre outros. Essa agitação é descrita no lançamento "A Turma que Não Escrevia Direito" (Record, 2010), de Marc Weingarten, que resgata as apurações e os bastidores das reportagens que fazem parte do melhor jornalismo do século 20.
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Para tornar as histórias mais humanas, jornalistas acrescentaram toques literários aos seus textos |
Em "Radical Chique e o Novo Jornalismo" (Companhia das Letras, 2005), Tom Wolfe também aborda as origens e o impacto da chegada de sua geração às redações norteamericanas, além de apresentar textos que caracterizam o fenômeno.
Entre as peculiaridades que regem o gênero, estão as formas de apuração. Talese, em 1966, publicou na revista "Esquire" um perfil de Frank Sinatra sem nunca ter conversado com o mesmo. Ele falou com pessoas próximas e observou o astro em alguns momentos do cotidiano e em shows. O histórico texto, intitulado "Frank Sinatra Has a Cold", é um dos perfis que fazem parte do livro "Fama e Anonimato" (Companhia das Letras, 2004).
Os constantes embates entre os repórteres e os editores também marcaram essa geração.
Hunter S. Thompson que o diga. O jornalista era mestre em desaparecer com as verbas que ganhava para suas pautas. A falta de disciplina, no entanto, ele compensava em seus textos. Outro problema enfrentado pelos que ingressaram no "new journalism" foi o preconceito. Muitos não acreditavam que suas histórias eram verídicas. Jimmy Breslin, que investigava a máfia de Nova York, autor de "O Traidor" (Larousse, 2008), foi um dos alvos da desconfiança dos mais tradicionais.