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Embusteiros, desonestos, golpistas, patifes, tratantes, trapaceiros, jirigotes. Aproveitar-se da inocência alheia para tirar vantagem material tem muitos nomes. No Brasil, mesmo condenado pelo artigo 171 do código Penal (estelionato) e pela moral, a prática ganhou lugar na cultura popular.
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Obra investiga casos de trapaças, fraudes e enganos no Brasil |
A boa-fé é uma característica atrativa para o trambiqueiro. Conta-se que quando o homem chegou à Lua, em 1969, um jovem "corretor de imóveis" percorreu Belo Horizonte vendendo lotes na superfície lunar. O pilantra, antes de ir preso pela polícia mineira, conseguiu fechar negócio vender alguns terrenos.
"Os Contos e os Vigários" (editora LeYa, 2010), escrito pelo historiador José Augusto Dias Júnior, investiga as origens e aponta as peculiaridades dos estelionatários brasileiro, examinando episódios históricos que envolvem diversos logros e fraudes.
A ganância das vítimas é um do ponto curioso examinado pelo autor. No início do século 20, o delegado carioca Vicente Reis escreveu: "os espertos se fazem tolos e o tolo quer ser esperto."
Leia trecho sobre uma das interpretações do conto do vigário.
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Um primeiro aspecto que chama a atenção no que se refere ao conto do vigário é o próprio fato de que ele seja conhecido como conto do vigário: a expressão se destaca pela peculiaridade, sem dúvida.
É verdade que há outros idiomas em que a modalidade de logro em questão recebe denominações não menos curiosas - confidence game, em inglês, vol à l'américaine, em francês, timo, em espanhol, só para citar alguns exemplos. Aparentemente apenas no caso da língua portuguesa, no entanto, convencionou-se associar práticas tão pouco cristãs quanto o embuste, a trapaça e a mentira à solene figura eclesiástica do vigário. Uma tal singularidade não poderia deixar de ser notada. Seria ela reflexo de um contexto histórico específico? Em princípio, a hipótese parece razoável; porque se a locução conto do vigário se tornou corrente em primeiro lugar em Portugal e no Brasil, pode-se suspeitar que seu surgimento esteja ligado a acontecimentos passados que, de alguma forma, atingiram esses países de maneira particular - eventualmente, a disseminação de um golpe determinado, dentro do qual aqueles que se apresentavam como representantes da Igreja de fato não o fossem (uma vez que a adoção de falsas identidades será sempre um expediente dos mais úteis para enganadores, trapaceiros e charlatães de todos os tipos). Ou talvez o presumível golpe original fosse bem outro; seja como for, seria interessante iniciar este estudo recorrendo aos pontos de vista de alguns dos autores que trataram do assunto: certamente, a partir daí, algo já se poderá saber sobre ele. Assim, tomemos como ponto de partida duas perguntas básicas: supondo que realmente tenha existido um ardil inicial, dentro dele quem era - ou parecia ser - o vigário? E qual era o conto que este colocava em andamento?
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Aquele que talvez tenha sido o primeiro a dar respostas diretas a tais questões se distinguiu como um atento investigador do submundo da antiga Capital Federal. Em 1903, o delegado de polícia Vicente Reis publicou a obra Os ladrões no Rio; nela, procurava fazer uma espécie de inventário tanto dos crimes então mais cometidos na cidade quanto dos marginais responsáveis por eles. Grande parte das informações contidas no livro, admitia o próprio autor, tinha como fonte as revelações de um antigo ladrão que se havia tornado informante da polícia; é de autoria deste, aliás, definição verdadeiramente lapidar de conto do vigário: "É um laço armado com habilidade à boa-fé do próximo ambicioso. É o caso em que os espertos se fazem tolos e o tolo quer ser esperto".
Mas por que motivo especula Reis, "esse sistema de furtar tomou tal designação?" A explicação que ele mesmo oferece é das mais surpreendentes: ela tem a ver com uma complexa operação de alcance internacional, organizada em torno de uma trama de feição rocambolesca. O golpe partia do exterior: "Uns tantos indivíduos, geralmente na Espanha, formam uma quadrilha e dessa tropa, uns ficam no país, outros, porém são escolhidos para operar em lugares combinados, como seja o Brasil".
A função que cabia à parte da quadrilha enviada a terras brasileiras era procurar possíveis vítimas, em geral entre abastados e respeitáveis proprietários rurais. Uma vez identificado um alvo promissor, as engrenagens do ardil começavam a entrar em movimento.
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"Os Contos e os Vigários"
Autor: José Augusto Dias Júnior
Editora: LeYa
Páginas: 326
Quanto: R$ 39,51 (preço promocional)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
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