Livraria da Folha

 
27/06/2009 - 00h34

Família e amigos inspiraram Mauricio de Sousa a criar a Turma da Mônica 

PAULA DUME
Colaboração para a Livraria da Folha

Filhos, sobrinhos, parentes e amigos de infância. Mauricio de Sousa inspirou-se em pessoas próximas para desenvolver seus personagens. Nos quadrinhos, Bidu e Franjinha foram os primeiros a serem criados, em 1959. Na sequência, Cebolinha e Cascão. Foi quando a equipe de Mauricio foi questionada sobre a ausência de personagens femininos.

Acervo pessoal
Mônica, filha de Mauricio, inspirou a criação da personagem do desenho
Mônica, filha de Mauricio, inspirou a criação da personagem do desenho

Brava e com um coelho azul embaixo do braço, Mônica surgiria logo depois, inspirada na filha homônima do desenhista. "Meu pai criou a Mônica quando eu tinha dois anos. Eu só percebi a relação com a minha personalidade quando aos cinco fui ao programa da Hebe Camargo", lembra Mônica Spada, diretora comercial para licenciamento da Mauricio de Sousa Produções. Luiz Carlos da Cruz, apelidado de Cebola, originou o Cebolinha. "Sempre trocava o r, l e m", lembra. Graciano, que trabalha com Mauricio no estúdio, o Cascão. Uma das fontes de inspiração também é de atualização. "Converso com a turma de casa sobre o que está acontecendo para escrever", afirma Mauricio. E o reflexivo Horácio? "É um ser atemporal. Um Mauricio adulto", conforme seu criador.

A chegada de outras meninas na equipe trouxe mudanças para os desenhos. Os olhos das personagens dos quadrinhos, por exemplo, ficaram mais amendoados. Porém, a tradição permanece na composição das legendas dos balões até hoje, ainda feitas à mão. O computador somente é utilizado na hora de aplicar cores às histórias. "É bom que haja oscilação, não pela qualidade, mas para que se perceba que são feitos por mãos humanas", esclarece Mauricio. O toque digital literalmente faz parte da história. O cabelo esfumaçado do Cascão é feito manualmente por Graciano. "Cascão é o retrato do menino que eu fui", afirma no documentário "Biography: Mauricio de Sousa".

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Está tudo em casa

Para o desenhista, "a estrada está aberta". Ele aconselha os interessados a se preparar e ver se é isso mesmo que desejam. "Eu não sabia que desenhista brasileiro não dava certo", confessa. Dos tropeços, recomenda levantar, tirar a poeira e seguir adiante. Teve certeza quando planejou sua carreira enquanto trabalhava com folders internacionais na Folha de S.Paulo, na década de 1950.

Mauricio começou a desenhar nas paredes de sua casa. Os bons traços, porém, provinham da influência do pai e do avô, suas referências. "Vovô era um contador de lorotas maravilhoso", lembra. A avó o enfeitiçava com suas histórias do interior. Histórias essas que permitiram ao menino, anos depois, aproximar seus personagens da vida das pessoas, sendo tratados por elas como conhecidas. "As pessoas citam a Mônica como se ela fosse uma pessoa", afirma Ziraldo.

"Tive uma infância tão gostosa, tão alegre, que desconfio que não saí dela até hoje", diverte-se Mauricio. Ainda menino, teve contato com técnicas e diversas formas de narrativas. Uma delas foi o HQ "Espírito", de Will Eisner, que o marcaria. Segundo Mort Walker, criador do quadrinho Recruta Zero, "Mônica é uma personagem doce e adorável". Para seu pai, ao longo dos anos, ela se tornou mais gentil, delicada e arredondada também. Chris Browne, desenhista e filho do criador de Hagar, afirma que Mauricio é um artista internacional porque foi traduzido para mais de 20 línguas.

A turma de personagens cresceu conforme as necessidades de consolidação no mercado. Começou com tiras verticais no jornal, de alto a baixo. Levou dez anos para fazê-las circular em 300 periódicos brasileiros. Bernardinho e Foguinho, entre outros, foram criados como estratégia frente aos personagens de tirinhas que surgiam em outros veículos. Mauricio percebeu que precisava aumentar a equipe. Chegou a ocupar um andar inteiro na Folha por conta de sua nova empreitada nos desenhos.

Nos anos 1980, sua equipe encampou no cinema --seis longas-metragens-- e na televisão. E a Turma da Mônica caiu no mundo, mas de leve, sem se machucar. No grupo Abril, com Roberto Civita, foram implantadas as primeiras revistas de animação. Na década de 1990, houve uma baixa por conta da situação econômica brasileira. Aí, o surgimento dos parques temáticos da turminha. Produzindo desenhos animados em larga escala, a demanda exigiu outro estúdio. Nascia o conteúdo disseminado e redistribuído para a equipe Mauricio de Sousa. Em maio de 2005, a Turma da Mônica entrava nos Estados Unidos para circular nos jornais. "Ele criou uma família de personagens que rivalizava com a família da Disney. Houve essa simbiose", afirma Civita.

A família não parou de crescer. A deficiente visual Dorinha e o cadeirante Luca são os calouros da turma. A primeira foi inspirada em Dorina de Gouvêa Nowill, presidente emérita e vitalícia da Fundação que leva seu nome. "Dorina é alegre e vívida. Quis reproduzir isso em seu personagem", destaca o cartunista. Já Luca tem suas influências demarcadas pelo cantor e compositor Herbert Vianna.

"Adoro a Turma da Mônica, porque quando estão alegres, estão muito alegres. Quando estão zangados, estão muito zangados. Ele tem um tipo de humor que é traduzido em várias línguas", diz Jim Davis no documentário. Ziraldo ressalta a honestidade de Mauricio de criar a história pela história. O cartunista ainda destaca a importância dos 40 anos da turma. "Um tempo que consolida a imagem de uma sociedade", afirma.

 
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