Livraria da Folha

 
29/07/2009 - 02h00

Best-seller entre os teens, Pedro Bandeira conta o segredo de seu sucesso

CAMILA NEUMAM
colaboração para a Livraria da Folha

O escritor mais vendido em literatura para jovens no Brasil, Pedro Bandeira, terá toda a sua obra reeditada neste ano pela editora Moderna, com novas capas e ilustrações. Uma delas, "O Fantástico Mistério de Feiurinha" (FTD, 1997), em especial, terá sua história contada no mais novo filme protagonizado por Xuxa e sua filha, Sasha.

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Escritor Pedro Bandeira esteve presente na Feira do Livro de Ribeirão Preto
Pedro Bandeira esteve presente na Feira do Livro de Ribeirão Preto

O filme dirigido por Tizuka Yamazaki tem estreia programada para dezembro. Ainda neste ano está prevista a publicação da sexta aventura de os "Os Karas", assinada pelo escritor desde seus primeiros títulos.

Todas essas novidades na carreira de Pedro Bandeira mostram que o autor vive um grande momento profissional aos 67 anos de idade.

Nesta entrevista, o criador de clássicos como "A Droga da Obediência" (1984) e "A Marca de uma Lágrima" (1985) mostra que o segredo do seu sucesso entre gerações é simples: falar de emoções.

"As crianças não mudam. As emoções humanas não mudam. As pessoas no tempo de Shakespeare, de Ésquilo, com ou sem internet, amam, odeiam, choram, têm inveja, ambição, isso jamais muda", afirma. Abaixo leia entrevista do escritor para a Livraria da Folha.

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Livraria da Folha - Como o sr. recebeu a notícia de que a Xuxa queria fazer um filme baseado em um dos seus livros?

Bandeira - Recebi a notícia no fim do ano passado. Adotaram o livro na escola da filha dela [Xuxa]. A filha gostou, mostrou para a mãe, a mãe gostou e falou: eis aí um papel para mim. Provavelmente a Xuxa vai fazer a cinderela, porque é uma historia de conto de fadas, mas 25 anos depois de terminado. Então as princesas Cinderela e Rapunzel casaram-se, os cabelos já não são assim tão grandes, têm uns fiozinhos brancos, estão cheias de filhos. O príncipe já não é aquele rapagão, está meio barrigudinho, meio careca. Por fim me procuraram, compraram os direitos e estão filmando. A estreia está marcada para 18 de dezembro.

Livraria da Folha - Seus livros serão todos reeditados neste ano. Tem um motivo especial para recolocá-los com nova cara no mercado?

Bandeira - A Editora Moderna resolveu me colocar como seu [escritor] exclusivo, então todos os meus livros estão sendo reformulados. Ilustradores estão fazendo novas capas, tudo de novo.

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Os Karas A Droga da Obediência A Primeira Aventura dos Karas! 175
Capa de um dos best-sellers de Bandeira: "A Droga da Obediência"

Livraria da Folha - Você pensa ainda em escrever para adultos?

Pedro Bandeira - Não. A minha cabeça é toda virada para o jovem, para a criança dos seis aos 14/15 anos. Eu só penso nisso, eu só estudo eles, a psicologia deles, o desenvolvimento psicológico deles, as emoções que vão no coraçãozinho deles. Eu não penso em escrever para adultos, nunca escrevi, e agora mais velhinho nunca mais.

Livraria da Folha -O que você estuda especificamente sobre crianças e jovens?

Bandeira - Eu comecei a escrever sem conhecê-los. Não fui educador, fiz ciências sociais. Gosto ainda hoje de História, Política e Antropologia. É uma paixão minha. Mas quando eu decidi escrever para esse público eu resolvi conhecê-lo, então eu passei a estudá-los. Não que isso me faça um escritor, senão todo o psicólogo infanto-juvenil e educador seria um escritor, mas ajuda a conhecer melhor o meu alvo. Eu não escrevo do jeito que eu penso, mas fico imaginando como a criança de 13 anos pensaria, como o assunto seria enfrentado por uma criança de 8 anos para eu poder me comunicar com ela. Quando você encontra uma criança, fala como ela de determinada maneira, assim como com um adolescente, um chefe de Estado. Quando você escreve é assim também. Você fala a mesma coisa, só que com coisas diferentes.

Livraria da Folha - Como você consegue acompanhar essas mudanças, a criança mais ligada em tecnologia e internet?

Bandeira - As crianças não mudam. Até hoje Shakespeare emociona, porque ele trata de emoções humanas. As emoções humanas não mudam. As pessoas no tempo de Shakespeare, de Ésquilo, com o sem internet, amam, odeiam, choram, têm inveja, ambição, isso jamais muda. Eu escrevo sobre as emoções humanas.

Tem um livro de grande sucesso meu "A Droga da Obediência", que quando você leu não tinha internet ou telefone celular, e até hoje as crianças leem, porque fala de amizade, sobre a esperança deles de construir o mundo e se tornarem adultos. Quando eu escrevia não havia computador, e hoje eu escrevo com ele. Mudou o quê? Os meus personagens eles usavam o orelhão, telefonavam com ficha. Hoje criança pequenininha já fala no celular, mas muda o quê? Eu ainda escrevo sobre as emoções deles.

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Marca De Uma Lagrima, A Conceito do Leitor: | (opine) Coleção: VEREDAS Autor: BANDEIRA, PEDRO
Outro best-seller conta as agruras do primeiro amor adolescente

Livraria da Folha - Como o sr. começou a carreira de escritor infanto-juvenil?

Bandeira - Eu comecei a carreira como leitor, porque no meu tempo eu era uma criança solitária, jogava futebol de botão sozinho, a minha diversão era ler. E jovenzinho eu comecei a trabalhar com jornalismo, fui fazer faculdade, fiz um pouco de teatro. Eu escrevia bem, mas não pensava em ser escritor; fazia uns continhos policiais para mim mesmo, para as namoradas escrevia uns sonetos bonitos. E depois que casei começaram a aparecer freelancers de histórias infantis curtas para diferentes publicações da editora Abril.

Até que peguei umas das minhas histórias antigas, desenvolvi em um livro, publiquei e gostei da experiência. O nome do livro era "O Dinossauro que fazia Auau". Então quando eu resolvi escrever para esse público da primeira cartilha até o primeiro aparelho de barba e o primeiro batom resolvi me profissionalizar. Pensei: é o que vou fazer da vida. Entender o que eles sentem, o que os fazem sorrir, chorar. Porque a literatura é senão o espelho da vida.

 
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