Livraria da Folha

 
13/10/2009 - 06h00

Obra mistura motoboys e mitologia greco-romana

ANDRÉ BENEVIDES
colaboração para a Livraria da Folha

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Romance infantojuvenil do autor Ilan Brenman mistura o cotidiano dos motoboys com mitologia
Romance infantojuvenil do autor Ilan Brenman mistura o cotidiano dos motoboys com mitologia

Com os pés alados e detentor das mais variadas atribuições, o deus Hermes (também conhecido por Mercúrio), da mitologia greco-romana, provavelmente teria muito trabalho nos dias de hoje --mesmo em tempos de crise. Já experiente em levar e trazer com rapidez os recados das outras divindades, ele não teria dificuldades em encontrar emprego como entregador na cidade de São Paulo. É mais ou menos isso que imaginou o escritor Ilan Brenman, no romance infantojuvenil "Hermes, o Motoboy" (Companhia das Letras, 2006).

A obra, que recebeu o selo Altamente Recomendável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), conta a típica história de boa parte destes profissionais. Hermes é um jovem como qualquer outro: quer estudar, ter namoradas bonitas e sonha em ser piloto de Fórmula 1. "Ele queria fazer tudo isso, mas precisava ajudar a mãe a sustentar a casa. Um dia, ele vê a moto em uma loja e acha que com ela poderia ajudar a sua família", conta o autor.

A partir disso, começam a aparecer diversos personagens com um pé no berço da filosofia: Diana, que trabalha em uma loja de caça e pesca na represa de Guarapiranga, Helena e seu namorado Menelau, o taxista Dionínio, que sempre leva Hermes para casa quando ele fica bêbado, ou ainda Suez, o lendário motoboy cujo nome é um anagrama de Zeus. "O livro é um poço de referências, não apenas de mitologia grega, mas até sobre a cultura indígena", explica.

Dentro do capacete

Para fazer a obra, Brenman precisou mergulhar no mundo dos motoboys. As histórias que ele ouviu em empresas de entregadores dariam, por si só, para encher outro volume. "História de acidente é o que mais tem. Todos os que eu conversei já caíram, a questão é a gravidade da queda. É bem trágico mesmo", lamenta.

Divulgação
O autor Ilan Brenman foi a campo conhecer a rotina dos motoboys
O autor Ilan Brenman foi a campo conhecer a rotina dos motoboys

Por outro lado, ele também ouviu muita coisa que o fez rir. "Eu conversei muito com eles e aprendi diversas gírias, como abrir o caderno, coruja, calça-branca, coxinha". Nem todas estão presentes no livro, até por não serem "politicamente corretas", por assim dizer.

Entre as divertidas gírias e os relatos de acidentes, no entanto, muitos destes profissionais contam histórias de vida parecidas: motos compradas em longas prestações para ajudar a família, falta de alternativas de trabalho. Poucos são os que conseguem sair desta vida ilesos e conseguir um trabalho melhor --ou menos arriscado. Hermes, o nosso herói, é um deles: após conseguir juntar dinheiro, passa na faculdade de Geografia e larga o emprego de motoboy. Uma façanha, diga-se de passagem, digna de figurar entre um dos 12 trabalhos de Hércules.

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"Hermes, o Motoboy"
Autor: Ilan Brenman
Editora: Cia. das Letras
Páginas: 80
Quanto: R$ 25,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800 140090 ou no site da Livraria da Folha

 
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