MARIANA PASTORE
colaboração para a Livraria da Folha, da Bienal do Rio
Referências de literatura infantil no Brasil e no exterior, as escritoras Ruth Rocha e Ana Maria Machado participaram da concorrida mesa "Quarenta Anos Formando e Encantando Leitores" no Café Literário da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, na tarde de sábado (12).
Gingafotos |
Ruth Rocha e Ana Maria Machado falam sobre a literatura atual e sobre a identificação que têm com escritor Monteiro Lobato |
Velhas amigas, as autoras falaram sobre suas diferenças e identificações, definida por Ruth como "nossa afinidade literária vem do mesmo pai. Somos filhas do (Monteiro) Lobato. Lemos seus livros intensamente na infância."
Ruth ressaltou que as duas compartilham das mesmas características das obras do "pai", como o bom humor e os temas, entre eles a preocupação social e a posição feminista. "Feminismo não no sentido ranheta, mas no sentido da mulher. Nos livros do Lobato, as personagens femininas são mais importantes", explicou.
Questionada sobre o relacionamento das crianças de hoje com as obras de Monteiro Lobato, Ana Maria declarou que os livros são pouco atraentes. "As ilustrações são horrorosas e esse leitor está muito acostumado com qualidade gráfica. Ouvindo, eles ficam interessados", disse referindo-se à experiência com os netos. Para ela, "a grande dificuldade é a questão cultural, as ilusões não são dessas crianças de hoje. Os livros citam a Dona Baratinha e o Pequeno Polegar, que eles não conhecem. A Disney não adaptou."
Literatura atual
Ao final da conversa, as autoras falaram sobre o atual momento literário no país. "Tenho notado o aparecimento de grandes números de livros. Qualquer coisa com politicamente correto, ajuda, autoajuda. Acho isso uma tendência triste", criticou Ruth. "São coisas que não são literárias, não têm valor."'
Ana Maria acha que se ambas houvessem começado a escrever hoje, não seriam publicadas, pois rompem com o padrão literário atual. "Nós éramos intelectuais, eu, Ruth, Ziraldo, Marina Colassanti, não pedagogos. Éramos intelectuais esmagados pela ditadura que escoavam o que queriam dizer nos livros infantis", afirmou.