Livraria da Folha

 
08/10/2009 - 19h56

Nélida Piñon é única brasileira com chance de um Nobel, diz Lya Luft

SÉRGIO RIPARDO
colaboração para a Livraria da Folha

Devido à presença internacional de sua obra, a carioca Nélida Piñon, 72, é a única brasileira com chance de receber um Nobel de Literatura, diz a escritora Lya Luft, que traduziu "O Compromisso", da alemã Herta Müller, 56, anunciada nesta quinta-feira como a 12ª mulher da história a ganhar o prêmio.

Só 10% dos laureados com o Nobel de Literatura são do sexo feminino. Sobre essa pequena participação, Lya Luft diz que a entrada da mulher no mundo das letras é "muito recente", mas a tendência é positiva, já que o mercado editorial lança cada vez mais obras escritas por autoras.

Arquivo Pessoal
Lya Luft diz que, com a evolução, cada vez escritoras vão receber o Nobel de Literatura
Lya Luft diz que cada vez mais escritoras vão receber o Nobel de Literatura

"Os grandes personagens femininos eram inventados por homens", lembra Lya Luft, dona de obras também traduzidas na Europa e nos Estados Unidos.

Na sua avaliação, a origem do autor é uma barreira mais difícil do que o sexo, e o mercado externo ainda reforça estereótipos da literatura de países latinos, como o Brasil, mostrando apenas interesse por obras pitorescas e exóticas.

"Nélida Piñon rompeu a barreira", afirma Lya Luft, lembrando o prestígio internacional de sua amiga. Em 2005, a autora carioca venceu o prêmio espanhol Príncipe de Astúrias, façanha que nenhum outro brasileiro jamais havia conseguido, enfrentando pesos-pesados como os norte-americanos Paul Auster e Philip Roth e o israelense Amos Oz, que sempre são cotados para levar o Nobel de Literatura.

Reuters
Nélida Piñon é autora de "Coração Andarilho"
Nélida Piñon escreveu "Coração Andarilho"; conheça o livro

Ela também foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, onde hoje ocupa a cadeira de número 30. Para alguns críticos, esse prêmio concedido pela Real Academia Espanhola da Língua serve para colocar seus vencedores na lista de espera por uma indicação ao Nobel.

Nélida Piñon foi procurada pela reportagem, mas sua assessoria informou que a escritora está no exterior, sem possibilidade de contato. Em 2005, em entrevista exclusiva à Folha Online, ela comentou se existe um movimento de revalorização das mulheres na literatura:

"Acho que ainda há uma espécie de preconceito contra a capacidade intelectual da mulher, sobretudo no Brasil. O mundo masculino ainda considera o texto produzido por uma mulher de menor densidade, menos importante, intelectualmente menos instigante. Como se a mulher fosse fantasia, e o homem, pensamento. O homem ainda não entendeu que há uma igualdade intelectual e que pode desfrutar de um livro feito por um homem ou por mulher."

 
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