Livraria da Folha

 
07/12/2009 - 19h07

Após renúncia, Collor passou mais de um ano no fundo do poço; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Os bastidores da grande imprensa na cobertura sobre Fernando Collor
Os bastidores da grande imprensa na cobertura sobre Fernando Collor

Em 07 de dezembro de 1994, o ex-presidente Fernando Collor de Mello e seu tesoureiro, Paulo César Farias, começaram a ser julgados pelas acusações de corrupção passiva e falsidade ideológica, durante o seu governo. No entanto, o ministro-relator Ilmar Galvão, concluiu pela absolvição de Collor por falta de provas.

Estes e outros fatos sobre toda a trajetória política de Collor são relatados no livro "Notícias do Planalto" (Companhia das Letras, 1999). Na obra, o jornalista Mario Sergio Conti mostra quem decide o quê na grande imprensa brasileira, e para isso analisa de que maneira os principais jornais, revistas e emissoras de TV cobriram a ascensão e a queda de Fernando Collor.

A obra faz revelações surpreendentes para quem quer recordar a história política do Brasil e enteder os bastidores dos acontecimentos. O livro foi vencedor do prêmio Jabuti 2000 de Melhor Reportagem. Leia trecho abaixo.

*

Na manhã de terça-feira, 29 de dezembro de 1992, o Senado se reuniu para julgar Fernando Collor. Vinte minutos depois de iniciada a sessão, José de Moura Rocha, advogado do réu, pediu a palavra e leu uma carta de seu cliente endereçada ao presidente do Congresso, O Senador Mauro Benevides. "levo ao conhecimento de Vossa Excelência que, nesta data, e por este instrumento, renuncio ao mandato de presidente da República, para o qual fui eleito nos pleitos de 15 de novembro e 17 de dezembro de 1989", escreveu Collor na carta. A sessão foi interrompida. À uma da tarde, Itamar Franco assumiu definitivamente a Presidência da República. No dia seguinte, o Senado retomou os trabalhos e continuou o julgamento. Por 76 votos a três, o ex-presidente foi considerado culpado. Os senadores também decidiram impedi-lo de exercer qualquer função pública até o final do ano 2000.

Siga a Livraria da Folha no Twitter
Siga a Livraria da Folha no Twitter

Com a decisão do Senado, Collor passou mais de um ano no fundo do poço. Trocou o dia pela noite. Ia dormir de manhã, depois de ler os jornais. Pensou muito em se suicidar. Rosane seguiu os horários do marido. Não saia do seu lado, temendo que ele se matasse.

As aflições de Collor desapareceram dois anos depois, na tarde de segunda-feira, 12 de dezembro de 1994. Por cinco votos contra três, o Supremo Tribunal Federal inocentou o ex-presidente da acusação de corrupção passiva. Dos oito ministros que votaram, sete criticaram a peça incrimina tória produzida pelo procurador geral da República, Aristides Junqueira, Ilmar Galvão, Moreira Alves, Celso de Mello, Sydney Sanches e Octavio Galloni se basearam no que encontraram nos autos para inocentar o ex-presidente. Carlos Mário Velloso, Sepúlveda Pertence e Néri da Silveira votaram pela condenação. Não se encerravam aí, contudo, os problemas de Collor com a Justiça. Ele ainda teve de responder a um processo por sonegação fiscal, referente à Operação Uruguai.

"Ótimo, ótimo, ótimo, ótimo", disse Pedro Collor, em Nova York, ao saber da absolvição do irmão. Foi sua última declaração à imprensa: morreria duas semanas depois.

Collor não falava com Antônio Carlos Magalhães havia um ano, mas ligou pra ele no dia em que foi inocentado. O governador lhe ofereceu um conselho:

-Vá a igreja sozinho. Agora, não vá tão sozinho que a televisão não veja. Reze e volte para casa.
- Hoje não dá mais tempo para ir à igreja, mas amanhã eu vou - Disse Collor.

Passou-se um tempo e o governador viu fotos do ex-presidente nos jornais. Ele não rezava, contrito, numa igreja. Estava sorridente, com roupas de cores berrantes, esquiando em Aspen, no Colorado, poucos dias depois da morte de Pedro Collor. Antônio Carlos Magalhães sentiu asco ao ver as fotos.

Em 1995, Collor mudou-se para Miami. Comprou uma casa de mais de1,5 milhão de dólares, alugou um escritório e abriu uma firma, a gazeta de Alagoas Internacional Corporation. Comprou também quatro automóveis: duas Mercedes-Benz, um jipe Cherokee e um carro pequeno. Duas Ferraris, uma vermelha e uma preta, foram adquiridas em nome da Gazeta de Alagoas. Collor alegou que os dois automóveis italianos, no valor total de 200 mil dólares, não eram dele, e sim de um amigo a quem ele devia favores. Em junho de 1997 o ex-presidente deu uma entrevista s Veja, na qual contou que recebia mensalmente 100 mil dólares da Organização Arnon de Mello. Precisava mesmo de muito dinheiro, pois além da casa de Miami e de Brasília, comprou uma outra casa em Maceió. E viajou com Rosane pelo mundo: foram à Nova Zelândia, à Austrália, ao Vietnam, ao Butão, à Índia, às Bahamas e à França.

Fernando Collor voltou ao Brasil e quis concorrer na eleição presidencial de 1998, mas sua candidatura foi impugnada. Em 12 de agosto de 1999, Rosane organizou uma grande festa em Maceió para comemorar os cinqüenta anos do marido. Collor anunciou que disputaria no ano 2000, se a Justiça permitisse, a eleição para Prefeitura de São Paulo.

"Notícias do Planalto"

Autor: Mario Sergio Conti
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 752
Quanto: R$ 69,50
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
Voltar ao topo da página