Livraria da Folha

 
06/01/2010 - 17h36

Elogiado por Moacyr Scliar, livro de contos mistura humor, sexo e suspense

FABIANA SERAGUSA
colaboração para a Livraria da Folha

É como se cada protagonista conversasse direto com você, sem qualquer intermediário, sobre desejos, sentimentos contraditórios e situações perturbadoras. Mas eles não revelam logo de cara quem são. Os personagens se apresentam aos poucos, de maneira discreta e sutil, revelando suas intenções no decorrer de descrições, pensamentos e desabafos.

Divulgação
Contos de Luís Pellanda falam da busca do homem por sua importância
Contos de Pellanda "conversam" com o leitor de maneira direta

Mas é bom lembrar que deve haver um certo limite para essa proximidade entre criação literária e leitor, que não pode chegar "ao ponto de permitir que, entre os dois, floresça uma intimidade perigosa", como revela o jornalista, dramaturgo, roteirista e músico Luís Henrique Pellanda, autor do recém-lançado "O Macaco Ornamental" (Bertrand Brasil, 2009).

Nos 14 contos que compõem este seu livro de estreia --que demorou cerca de um ano e meio para ficar pronto--, Pellanda mistura lirismo e ironia para tratar de temas sexuais, perturbações e questionamentos divinos.

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Leia trecho do livro "O Macaco Ornamental"

"Te conhecendo como conheço, sabendo de Tuas carências e inconstâncias, quem seria capaz de Te recusar uma hora diária de devoção e carinho? Eu é que não, nunca. Tenho os meus medos, e Você sempre foi o maior deles. Mas também tenho minha meia dúzia de dúvidas. Sendo assim, antes de mais uma vez Te elevar qualquer cântico original, preciso esclarecer uma questão nossa, só nossa. Posso? Será que Você me permitiria pelo menos essa audácia? Como? Emudeceu? Pois fique sabendo que, a partir de hoje, tomo Teu silêncio como consentimento." (trecho do capítulo "Nós, os Limpos", página 173).

A escolha por escrever os textos em primeira pessoa também serve para aproximar ainda mais o leitor das histórias e "permite uma leitura mais rica nas entrelinhas", como diz Pellanda em entrevista à Livraria da Folha. Sobre as características de sua recente produção, o autor estreante dá uma ideia dos gêneros que formam "O Macaco Ornamental" : "No meu livro, há humor, sim, mas não do tipo clássico; há sexo, mas nunca meramente descritivo; há amor, mas não aquele de feições românticas; há o velho assombro humano diante da morte, mas não a exploração indiscriminada do terror que ela nos causa; suspense, também, mas muito diferente do praticado em thrillers ou em romances policiais."

Abaixo, veja a entrevista com Luís Henrique Pellanda, considerado uma "revelação" pelo escritor gaúcho Moacyr Scliar, vencedor do Jabuti 2009 com o romance "Manual da Paixão Solitária".

Matheus Dias/-
Jornalista e dramaturgo Luís Henrique Pellanda (foto) acaba de lançar seu primeiro livro, formado por 14 contos sobre
Jornalista e dramaturgo Luís Henrique Pellanda (foto) acaba de lançar seu primeiro livro, com 14 contos que misturam humor e sexo

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Livraria da Folha - Sua intenção inicial era escrever um livro de contos ou foi algo que "aconteceu", quando viu que já havia várias histórias?
Luís Henrique Pellanda - Desde cedo, sempre escrevi contos e, naturalmente, joguei fora muitos deles. Quase todos, na verdade. Isso faz parte do aprendizado de todo escritor. É necessário escrever e abandonar, reescrever e reavaliar, experimentar e reciclar temas até que um autor atinja um grau razoável de maturidade. Mas, claro, cada um tem sua percepção particular do assunto. No meu caso, quando acreditei haver encontrado um caminho possível para a minha escrita, se não seguro, ao menos original, estruturei este livro como um projeto único, coeso, apesar da diversidade de vozes que se encontram nele. Assim, a maioria dos contos de "O Macaco Ornamental" já nasceu comprometida com a ideia central da obra, sugerida a partir de seu título. A sensação de deslocamento do homem moderno, ainda em busca de companhia e comida, amor e sexo, salvação e significação, em um mundo que parece prescindir cada vez mais de sua presença.

Livraria da Folha - Antes de começar a escrever um conto, você já define se ele será curto, médio ou extenso, ou só define durante o processo?
Pellanda - Quando começo a redigir um conto, já sei, sim, que tamanho ele terá. Nunca me sento para escrever sem antes estruturar todo o texto com boa antecedência, do começo ao fim. É claro que, durante o processo de escrita, um ou outro detalhe vai surgir inesperadamente, o que é ótimo. Mas isso raras vezes me desviará da ideia inicial. Quanto à extensão dos contos de "O Macaco Ornamental", há histórias, como "Caldônia Beach", longo relato de uma busca inusitada, que exigem uma lentidão expressa em miudezas subjetivas. É necessário convencer o leitor a acompanhar aquele protagonista em suas andanças e em sua relativa insensatez. Para tanto, é bom "apresentá-los" aos poucos um ao outro, personagem e leitor, mas, nunca, a ponto de permitir que, entre os dois, floresça uma intimidade perigosa. Em outros casos, como em "Ingratidão", a loucura da paixão de seu narrador adúltero cabe melhor num parágrafo único, ligeiro como uma rasteira. Mas, como disse José Castello na orelha do meu livro, "a literatura tem o tamanho do golpe que desfere no leitor".

Livraria da Folha - O fato de escritores premiados, como Moacyr Scliar, indicarem seu livro é um fator importante para que os leitores se interessem pela obra?
Pellanda - Creio que sim, pelo menos para os leitores que conhecem e reconhecem o trabalho e o talento desses autores. Para mim, foi sobretudo uma honra contar, tão cedo, com a generosidade de escritores como Moacyr Scliar, Luiz Ruffato, Fabrício Carpinejar e José Castello. Foi uma apresentação e tanto.

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"O Macaco Ornamental"
Autor: Luís Henrique Pellanda
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 192
Quanto: R$ 27,20
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha.

 
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