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24/04/2010 - 17h12

Ex-miss escreve livro para divorciadas superarem trauma do casamento fracassado

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Para a ex-miss Colômbia Rosaura Rodríguez, o amor deveria ser proibido, legal e socialmente, depois dos 35 anos. "É que não é a mesma coisa apaixonar-se com 20 anos e com 40. O frio na barriga se confunde com gastrite; os suores e calores, com a menopausa; o coração acelerado, com excesso de cafeína, e a sensação de estarmos desorientados se assemelha mais à possibilidade de Alzheimer que à tolice própria da paixão", escreve a autora de "Faça o Seu Segundo Casamento Dar Certo".

Com senso de humor, ela conta as agruras de tentar um novo casamento após 11 anos de divórcio. "Não queria, sob nenhum aspecto, voltar a ser vulnerável e perder a paz que havia conquistado com tanto esforço. Estava convencida de que o amor diminui nossa felicidade. Quando eu não estava apaixonada, era 100% feliz onde quer que estivesse."

Rosaura estudou jornalismo na Universidade de Miami, foi repórter de televisão e escreveu vários livros em que aborda, com aguçada observação, os relacionamentos modernos e as mudanças da mulher contemporânea. Ela também é autora de "Bem-Vinda ao Clube do Divórcio".

No novo livro, ela conta sua experiência pessoal de divorciada convicta que decide arriscar novamente um casamento. Leia trecho de "Faça o Seu Segundo Casamento Dar Certo".

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Divulgação
Ex-miss conta experiência como divorciada que decide casar de novo
Ex-miss conta como uma divorciada decide casar de novo

Não posso negar que fui uma virgem sonhadora, com a inocência de quem desconhece a dor e a desilusão. Acreditava nas histórias de amor, nos finais felizes e achava que, se você persistisse e se empenhasse, certamente seria bem-sucedida. Eram mentiras absurdas, e ninguém precisou me falar isso, senti na própria pele. Estava lá e fui testemunha ocular dos fatos ocorridos. Por isso, ninguém mais pode vir com histórias para mim e muito menos eu posso enganar a mim mesma dizendo que tudo parecia um mar de rosas. Afinal de contas, gato escaldado tem medo de água fria.

É por isso que pensar em um segundo casamento é aterrador. Nossa única certeza é a de termos errado na primeira vez. Diante disso, a pergunta obrigatória é: quem me garante que não vou errar novamente? Pelo visto, eu não era dessas mulheres que têm a sorte, ou a habilidade, de prever o destino e dizer com toda a convicção do mundo: "Estou convencida de que ele é o amor da minha vida". Definitivamente, não tinha vocação para vidente. Por mais que procurasse essa sensação que muitas mulheres me descreveram uma certeza, que lhes fala ao coração, de que encontraram a pessoa certa, eu continuava da mesma forma. À espera de um sinal, escutava e escutava o meu coração, mas nada. Concluí que tinha um coração pouco solidário. Ou, então, que é muito fácil se vangloriar de ter feito a coisa certa quando, depois de um tempo, tudo acaba correndo bem.

Mas, quando as coisas dão errado, o medo de repetir os mesmos erros é o primeiro que aparece e o único que nos fala. Consolava-me pensar que os livros sobre as atitudes necessárias em um segundo casamento afirmavam que, se uma pessoa se deu o tempo e o trabalho de fazer as pazes com o passado, tem mais probabilidade de ser feliz. Depois de onze anos, eu não apenas tinha me dado um tempo, como nem sequer me lembrava muito bem de ter sido casada alguma vez. Um bom sintoma, portanto, de que estava em paz com os fatos ocorridos no meu primeiro casamento. Entretanto, fazer as pazes significa mais do que não sentir rancor, culpa, dor e, claro, amor. Essa expressão, tão em voga na onda de espiritualidade em que anda o mundo, tem mais a ver com a probabilidade de repetir padrões. Como se tivéssemos que retornar a esse passado para encontrar os erros que cometemos durante o casamento e questionar a escolha da pessoa. Trata-se, em uma psicanálise muito pessoal a não ser que se queira recorrer a um profissional, de nos perguntarmos se estamos escolhendo o mesmo modelo masculino, nutrindo as mesmas expectativas inalcançáveis, e se conseguimos extrair daquela ruptura uma visão mais realista do amor e da vida a dois.

Portanto, eu tinha um problema bastante grande porque minha memória não era suficiente para eu cumprir esse primeiro requisito para a felicidade no segundo casamento. Já não lembrava por que eu tinha casado da primeira vez e também não estava em condições de tirar grandes conclusões de um episódio que, se bobear, foi motivado pela vontade de brincar de casinha ou simplesmente de legalizar uma situação. Prefiro pensar que, se casei, foi por amor e não por confusões emocionais subconscientes. Afinal de contas, a idade estava me ensinando que esse tipo de desvario só se comete por um desequilíbrio emocional próximo da loucura. Quanto à possibilidade de eu estar repetindo o modelo masculino, não estava muito clara para mim. Fisicamente, os dois não se pareciam em nada e eu considerava meu ex um homem bom. Então, não via necessidade de passar a ter um marido mau. E nem pensar em entrar numa onda de recordações para saber o que eu fiz de errado. Aí sim a situação ficaria complicada: como procurar os erros que cometi e, ao mesmo tempo, ficar em paz com meu passado? E este era justamente o único requisito que eu atendia entre as recomendações feitas pelos livros de autoajuda. Não tinha jeito. Eu teria de conviver com o medo de errar novamente. No dia do casamento, procuraria um cantinho para ele, ao lado da peça azul, do item emprestado, do novo e do velho. Entraria como algo que acabou de ser estreado.

Depois de concluir que carregaria esse medo o tempo todo, soube que teria de lidar com outra questão. Pois é, pelo visto não só estava começando a acumular maridos, como também a colecionar apreensões. Já fazia tanto tempo que eu aproveitava minha solteirice que, quando decidi dar uma olhada nos casais ao meu redor, me vi diante de um enterro. O possível enterro da minha independência, minha liberdade e minha individualidade. Todas incineradas, juntas, pelo fogo do desejo de posse masculino. Se há algo em que os homens se destacam, além do egoísmo e da covardia, é na necessidade de controlar e possuir. Tanto esforço em provar para mim que era uma mulher independente, capaz de me manter emocional e economicamente, para me entregar, novamente, às necessidades primárias de um homem. Eu já havia detectado esse comportamento em algumas relações que tive nesses anos de divorciada. Eles sempre começam nos fazendo acreditar que são bem tranquilos e não estão nem aí, que admiram enormemente nossa independência. A postura dura exatamente seis meses. Depois disso, começarão a questionar, exigir, perguntar e nos fazer sentir que a independência é sintoma de um grande egoísmo e que nunca prestamos atenção neles.

A solução que os livros de autoajuda apontavam para esse medo não servia para grande coisa. Os supostos especialistas no assunto dizem que, "quando a escolha do novo marido é correta, as mulheres aprendem que o casamento pode ser uma oportunidade de crescer ao lado do ser querido sem perder a individualidade". Fiquei ainda mais confusa, pois eu já tinha chegado à conclusão de que, se alguma coisa não estava clara, era justamente que aquele fosse o homem correto. Tudo bem. Mais um medinho com que teria de conviver até que pudesse provar que eu realmente estava com o cara certo. A boa notícia é que os outros medos identificados pelos especialistas nas pessoas em vias de um segundo casamento estavam absolutamente controlados em mim. A possibilidade de alimentar falsas expectativas não fazia parte do meu projeto emocional. Depois de ter convivido sete anos com um homem e descoberto que a melhor solução para nossos problemas estava no divórcio, só sendo idiota para continuar pensando que o casamento resolveria minha vida, satisfaria minhas necessidades e me deixaria feliz para sempre. Na verdade, a esta altura do campeonato, eu achava que essas conquistas só eram possíveis por meio do divórcio.

O medo da dor também não me incomodava e, muito menos, me preocupava. Se tinha algo que eu sabia é que a única coisa certa em relação à dor é que ela passa, cedo ou tarde, e depois a esperança retorna intacta. Portanto, era questão de resistir e saber esperar. Como dizem, quem não arrisca não petisca. O saldo dos meus medos era bastante favorável até esse momento. O placar, poderíamos dizer, estava empatado em dois a dois. Entretanto, não conseguia encontrar as vantagens de um segundo casamento. Como poderia ser atraente se parecia uma fábrica de complicações adquiridas por livre e espontânea vontade? A não ser que só escute o coração e fique surdo à razão, dificilmente alguém tem boas coisas para falar de um segundo casamento.

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"Faça o Seu Segundo Casamento Dar Certo"
Autora: Rosaura Rodriguez
Editora: Academia
Páginas: 184
Quanto: R$ 24,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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