Livraria da Folha

 
14/01/2010 - 18h59

Vampiros e zumbis representam 17% dos livros vendidos nos EUA em 2009

da Livraria da Folha

Pelo menos 17% dos livros vendidos nos EUA no ano passado falavam sobre vampiros ou morto-vivos como zumbis e criaturas paranormais. O levantamento foi feito pelo jornal norte-americano "USA Today", que elaborou uma lista das cem obras mais vendidas no país.

Franck Robichon/Efe
Atores Robert Pattinson (à dir.), Kristen Stewart e Taylor Lautner, da saga Crepúsculo no cinema
Robert Pattinson (à dir.), Kristen Stewart e Taylor Lautner, astros da saga Crepúsculo

O ranking foi liderado pela série de Stephenie Meyer, autora de "Crepúsculo", "Lua Nova", "Eclipse" e "Amanhecer". Em seguida, aparecem os livros de Charlaine Harris, que inspiraram "True Blood", série de TV criada pelo canal HBO. C. Cast, autora da série "House of Night" junto com sua filha, também é lembrada na lista.

"Orgulho e Preconceito e Zumbis", que modifica a obra de Jane Austen, também está presente no ranking. O texto foi adaptado pelo norte-americano Seth Grahame-Smith.

O "USA Today" mostra que vampiros, zumbis e criaturas paranormais ganharam espaço nas livrarias em 2009. No ano anterior (2008), eles representavam só 14% dos títulos. Em 2007, a participação era bastante pequena, só de 2%.

A tendência é de que os sugadores de sangue sigam, em 2010, nesse mesmo caminho. "Eclipse" ganha adaptação cinematográfica em junho, despertando o interesse de quem ainda não foi "mordido" por esse febre literária.

Motivos

Especialistas tentam entender essa mania mundial de vampiros.

"O vampiro é o novo James Dean", diz Julie Plec, autora e produtora executiva de "The Vampire Diaries" (Diário do Vampiro), série de TV americana baseada nos populares romances de L.J. Smith, sobre garotas colegiais e hommes fatales. "Há algo tão silencioso e sensual nesses jovens predadores eróticos", disse.

Os vampiros fazem parte de uma tradição antiga que remonta a Nosferatu e pelo menos ao Drácula de Bram Stoker. Anne Rice atualizou o gênero, introduzindo o vampiro aristocrático Lestat. Mas os mortos-vivos estão retornando como uma vingança, em parte porque "personificam ansiedades do mundo real", disse Michael Dylan Foster, professor-assistente no departamento de folclore da Universidade de Indiana em Bloomington.

"Especialmente nesta época de maior vigilância, no pós-11 de Setembro, representações como 'Crepúsculo' refletem uma espécie de mentalidade de teoria da conspiração, um temor de que haja alguma coisa secreta e perigosa acontecendo em nossa comunidade, embaixo de nossos narizes."

E o que mantém os vampiros atraentes? Sua combinação de boa aparência imortal e sexualidade decadente. Figuras de glamour vampiresco fazem poses sedutoras em diversas publicações recentes de moda. Retratadas como criaturas andróginas, elas exibem olhares mortíferos, acentuados por sua palidez cadavérica.

A atração do vampiro "tem tudo a ver com a excitação de imaginar os monstros que poderíamos ser se nos permitíssemos", sugeriu Rick Owens, um precursor da moda cujas coleções de tom gótico às vezes evocam os mortos-vivos.

"Somos todos fascinados pela corrupção -quanto mais glamourosa, melhor", e, ele acrescentou, com a ideia de "devorar, consumir, possuir alguém que desejamos".

Esse tipo de glamour predador é personificado por Catherine Deneuve em "Fome de Viver". Nesse clássico cult da morbidez de 1983, dirigido por Tony Scott, Deneuve faz o papel de Miriam, uma chupadora de sangue sedutora que usa ternos de ombros marcados e é casada com um pálido David Bowie e atraída por Susan Sarandon, meio andrógina, uma especialista em sono e longevidade.

O controle dos impulsos é um tema que repercute especialmente na atual era de conflitos e recessão. "Os períodos de guerra, crise e turbulência econômica dão origem à produção de vampiros e à ficção fantástica", disse Thomas Garza, presidente do departamento de estudos eslavos e eurasianos da Universidade do Texas em Austin e especialista na lenda dos vampiros.

"Com a recessão e a guerra, o conflito parece se voltar para dentro, enquanto questionamos nossa situação fiscal, política e moral. Fomos excessivos demais? Precisamos ser mais contidos? Parece que estamos novamente questionando esses valores fundamentais", disse.

Com informações do "The New York Times"

 
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